O poder dos detalhes

por Regina Wielenska

Vocês notaram que na hora de explicar um comportamento tendemos a atribuir sua causa aos sentimentos e pensamentos que experienciamos no contexto da ação? Examinem frases assim: "Eu bati nele porque estava nervosa", "Fulano bebe demais porque está deprimido" e por aí vai. Estes são dois exemplos típicos de explicar essa forma de comportamento.

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Mas há um outro jeito, inicialmente você poderá achar tudo muito parecido, mas obtemos resultados mais proveitosos ao intervir profissionalmente sobre o padrão de comportamento da cliente. E se ela houvesse dito que bateu no marido logo depois dela tê-lo visto beijar a vizinha com ardor. Quando ela começou a bater, logo o marido botou a amante pra fugir, passou a fazer juras de amor pra esposa e garantiu que tudo foi assédio da vizinha. O marido lhe trouxe flores, fez mil promessas e, em alguns dias, a paz aparentemente voltou a reinar. Conversando com a mãe, diz a mulher traída: "Mãe, fiz exatamente como você fazia com o papai, eu fiquei possuída e armei um tremendo escândalo, dei uns bons tapas nele e logo ele parecia um cão fiel a me fazer festinha. Ele está comendo na minha mão e até me trouxe rosas vermelhas! Aquelazinha nem passa perto dele e botou a casa à venda."

Observe as sutilezas do caso. Ela aprendeu este jeito de lidar com o marido a partir do modelo materno. Algumas das decorrências imediatas do bater foram o afastamento da amante (aparente, não sabemos se efetivo), ganhar flores e a submissão do marido, além de uma tosca paz doméstica. Será que esses acontecimentos não fortalecem o comportamento violento? Se fôssemos instados a analisar a quantas anda a relação do casal, precisaríamos coletar ainda mais dados contextuais e conversar abertamente com marido e mulher por um tempo longo. Ajudar a mudar padrões de relacionamento é trabalho para ao menos três pessoas, o casal e seu terapeuta.

No segundo caso, a depressão levou a culpa dos abusos alcoólicos. Mas e a tal depressão, de onde veio? Aspectos genéticos, ou de história de vida, precisarão ser examinados. Quais os estressores, as frustrações, as perdas e as (in)habilidades da pessoa? Ao beber, o que lhe acontece? Relaxa, dá risada, sente-se desinibido e alegre, consegue amigos de bar ou parceiras de cama, adormece mais rápido ou o quê?

As perguntas aqui não terão respostas. Mas analisar possibilidades nos favorece a entender os fatores que influenciam o comportamento de um ou mais indivíduos. Não basta nos conformarmos com explicações banais. Estas apenas nos dificultam mudar de verdade a nós mesmos e ao mundo que nos rodeia.

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Observem, indaguem, reflitam, façam perguntas. Este caminho é potencialmente produtivo.