O que homens-bomba têm na cabeça?

por Roberto Goldkorn    

Uma amiga, aflita, me perguntou depois de mais alguns atentados de radicais que deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos: "O que essas pessoas têm na cabeça? O que elas têm no lugar do coração? Será que são gente como nós?"

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Essa é uma das perguntas mais difíceis de responder.

Governos de 90% dos países dariam fortunas pela resposta que possibilitasse entender e desmontar a cabeça dos fanáticos, militantes e missionários messiânicos.

Tenho me interessado pelo assunto, desde muito cedo quando li um livro (que me roubaram) sobre o Nazismo e a psicologia das massas, e lá se vai quase meio século.

Na época meu desafio era entender (essa palavra já nos deixa em desvantagem) como um dos povos mais cultos do planeta embarcou na aventura alucinada e genocida do Partido Nacional Socialista que não tinha a menor chance de dar certo. Como oficiais e soldados, alguns muito cultos, aristocratas, a nata da sociedade, puderam ser protagonistas de crimes que envergonham a humanidade por terem vindo de dentro de seus genes.

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Anos mais tarde, abandonei o coletivo, para tentar penetrar na mente e no coração dos "amantes apaixonados", capazes de matar, ferir, magoar, perseguir, e infectar com a mais cruel infelicidade a si, ao seu objeto de amor e a todos à sua volta.

O que me atrai é a mente que desiste da razão (mesmo dizendo que age em nome dela) e é ocupada inteiramente pelo bicho doido do emocional. O que me fascina é a mente do assassino sanguinário que corta o pescoço dos inocentes e diz em sua defesa: "Não existem inocentes!"

Uma cliente antiga me contou que certa vez seu marido perturbado estava sentado num tronco de árvore com a cabeça baixa entre as mãos. Solidária, ela sentou-se ao seu lado e disse: "Meu bem, está sentindo alguma dor, posso ajudar?" A resposta dele foi dar-lhe um soco com toda força na cabeça. Ela caiu de costas, bateu a cabeça numa pedra e apagou. Quando ela acordou, já no hospital, ele estava ao seu lado com os olhos cheios de lágrimas e disse: "Eu só queria ficar sozinho. Você não compreende."

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Fanáticos, viciados, passionais, ciumentos patológicos… todos têm alguma coisa em comum em seu cérebro, seja na síntese anormal do neurotransmissor dopamina, seja em áreas como a ínsula, ou subáreas do hipocampo.

O interessante é que, em sua grande maioria, áreas cerebrais que ativam a articulação verbal também ficam robustas, o que torna esses seres competentes para usar a linguagem (que deveria ser um atributo da lógica) para defender e disseminar a sua doença.

A primeira imagem que me vem à cabeça é Hitler e seus longos e apaixonantes discursos.

Mas também lembro dos fanáticos antissemitas, que tentavam ardilosamente e, cheios de curvas retóricas, me convencer da correção de seus pestilentos e boçais argumentos.

Como não podia deixar de ser, lembro dos carrascos de companheiras explicando detalhadamente (e cheios de razões) o porquê faziam aquele terror com as suas amadas. Lembro também das inutilidades dos argumentos lógicos e racionais diante de um radical religioso, político ou ideológico (quando perguntaram a Marx se ele não se incomodava de ser visto como um radical, ele respondeu: "Não, porque radical vem de raiz, e na raiz de todas as coisas está o Homem!").

Por onde começar o combate ao terrorismo?

Tenho observado com grande preocupação a disposição dos governos ocidentais de ir para o tudo ou nada com os radicais islâmicos e não investir dez dólares na blindagem ou na reconquista (muito mais difícil e custosa) das mentes emprenhadas pela propaganda fanatizante. Precisamos todos entender o que os radicais religiosos já entenderam: a batalha pela mente e pelos corações começa cedo. Existem indícios de que as crianças que recebem a educação verdadeira, antes de serem cooptadas pelas informações distorcidas, ficam meio que "vacinadas", a mesma coisa quando o assunto é drogas, ou comportamentos saudáveis sobre sexo e amor.

Se, por pudores morais, não investirmos na informação sadia para as crianças, alguém o fará, e sem querer fugir do lugar comum, poderá ser o traficante de drogas ou o recrutador das milícias radicais.

Podemos ouvir o ruído das vozes roucas dizendo: "O que é a verdade? Quando a informação é do nosso lado isso é educação, quando é vinda do "inimigo" é lavagem cerebral". Não é bem assim, informação boa, verdadeira, de qualidade, é aquela que não cria monstros dispostos a se imolar em nome de mentiras deslavadas e levar inocentes juntos. Ponto. Crianças que desde cedo aprendem o valor do respeito à vida, ao outro, mesmo que estejam à margem do sistema, mesmo que não consigam seu milhão de dólares, mesmo que ainda sejam olhadas de esguelha pelos outros, não se explodirão, não escravizarão mulheres, não violarão crianças.

Mas sou obrigado a reconhecer que qualquer educação é doutrinação, infelizmente não há como ser diferente. Porém, se a doutrinação é inevitável, se as crianças precisam ser educadas/doutrinadas, que seja com os valores que lutamos e trabalhando muito para conquistar.

Assim, a batalha é para quem chega antes na cabeça dos jovens e crianças, e de que forma chega.

Recuperar um drogado, afastá-lo do vício, ou retirá-lo de dentro de uma seita racista é muito caro e os resultados são quase sempre incertos. Por isso as prisões estão lotadas, e os campos encharcados de sangue, as famílias destroçadas e a sociedade acuada.

Uma educação que atinja as áreas de prazer "sexual" e as vincule com atos de solidariedade, de ajuda ao outro, pode viciar as crianças no respeito e no trabalho de desenvolvimento da humanidade ao invés da sua destruição. Se essas áreas minúsculas do cérebro dedicadas a reagir ao prazer e a satisfação "sexual", mas que também reagem às drogas, à bebida, à nicotinae à violência forem ativadas desde cedo com a gratificação do trabalho criativo pró-vida, vamos mudar o eixo psicoespiritual das gerações futuras.

Se ao invés de sentir prazer ao torturar a pessoa amada, o sujeito sentir prazer em fazer uma criança doente rir e se sentir mais esperançosa (as áreas do cérebro ativadas são gêmeas) estaremos atingindo o grau de investimento divino.

Assisti a um grupo de voluntários muçulmanos irem ajudar famílias destroçadas pela guerra na Síria, o líder declarou que essa era a sua "Jihad". Tenho certeza de que essa Jihad do bem deve dar tanta satisfação (ou mais ainda) que a Jihad satânica que degola e explode inocentes.

Essa não é uma missão impossível, é uma missão de "vontade política".

Por que isso ainda não é feito em escala?

Por que só vemos isso ser feito através de iniciativas pessoais ou de grupos pequenos sem alcance planetário? Porque existem forças espirituais que ainda se alimentam, do sangue derramado, do terror e do ódio. Tudo bem, sabemos que são os inimigos, agora precisamos fortalecer o exército dos aliados.

O combate deve ser travado em diversos planos mas, sem dúvida, começa na solidão da mente de cada um de nós.