Quando nasce uma mãe, nasce uma culpa

por Thaís Petroff

Dizem que quando nasce uma mãe, nasce a culpa. Consegui compreender essa expressão em profundidade quando me tornei mãe. Ser mãe e sentir-se culpada caminham de mãos dadas. A culpa consegue encontrar as mais diversas frestas para se instalar.

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Para algumas mães, aparece por não ter conseguido amamentar o quanto queria, para outras a culpa é por ter feito cesárea. A culpa também vem por que o bebê caiu do berço ou por que a criança caiu da cama que ainda estava sem grade; culpa por ter se trancado no banheiro por um minuto para ter um pouco de sossego e conseguir fazer um xixi sem alguém grudado na perna; também por ter gritado ou por ter colocado de castigo ou ainda por ter dado algumas batatas fritas no restaurante só pra conseguir engolir a comida com um pouco mais de tranquilidade. Enfim, a culpa ronda o tempo todo e parece que não há como se livrar dela.

Por mais que nos esforcemos e nos desdobremos para fazermos o nosso melhor, ainda assim sempre há algo que na nossa percepção não saiu como deveria.

Recentemente uma mãe escreveu um texto no Facebook expondo como se sentia com relação à maternidade e o quanto para ela estava muito distante de ser mil alegrias. Foi alvo de inúmeras críticas.

Como pode então uma mãe conviver com tantas perdas, dores e dissabores que estão contidos na maternidade, se ela não pode ser verdadeira com seus sentimentos?

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Não é à toa que a culpa aparece a todo momento; como uma forma de calar toda e qualquer manifestação que não seja ficar o tempo todo pajeando o bebê ou a criança.

Sim! Bebês e crianças precisam de cuidado – e MUITO! – e não é à toa que são tão bonitinhos e cativantes (como uma sábia maneira que a natureza encontrou de nos "enfeitiçar"), mas é justamente pela constante e rígida atenção que eles nos exigem, que as mães PRECISAM conseguir respirar com mais leveza e viver com menos culpa.

Normal

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É normal sentir raiva do seu filho.

É normal querer fugir dele e ficar só.

É normal querer fazer coisas sem ele.

É normal não querer mais amamentar.

É normal querer ficar com o marido ou namorado sozinha.

É normal querer dormir até mais tarde sem um choro que te acorde.

É normal querer viajar sem o filho. Sim!

Tudo isso e mais outras tantas coisas são perfeitamente normais e não fazem de você uma mãe ruim, relapsa ou rejeitadora por ter esses desejos ou comportamentos.

Viramos mães, mas não deixamos de ser esposas/namoradas, profissionais, amigas, amantes etc. No entanto, a maternidade chega como um furacão e de repente parece que nada mais passa a ter espaço em nossas vidas e aí vem o luto, a tristeza, a falta da vida de antes, associada com um pequeno ser tão maravilhoso e amado que não te deixa um só minuto.

Faz sentido agora a confusão emocional diante desse turbilhão de informações?

Para lidar melhor com esse momento (que na verdade será eterno, porque jamais deixaremos de ser mães), poder conversar e realmente se abrir em ambientes sem julgamento é uma das melhores estratégias. Desde grupos de mães (presenciais ou online), até encontrar uma psicoterapeuta na qual você confie, e que realmente seja ética, irão te auxiliar a revisitar todas essas questões que te trazem tanta culpa. E finalmente, assumir que sim, você ama seu bebê/filho(a) e que junto com isso você também sente falta de tantas e tantas coisas na sua vida, principalmente da sua liberdade (de tempo, de expressão, de não ter tanta responsabilidade).