Como me reerguer, mudar de vida e ser feliz?

por Anette Lewin

Depoimento de uma leitora:  

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“Tenho 30 anos, nunca namorei e nem beijei. Nunca tive amigos na escola e sempre me senti sozinha e incompreendida. Não consigo me relacionar com pessoas desde a infância. Sempre fui muito tímida, quieta e gostava de brincar sozinha. Hoje estou terminando o curso de psicologia, iniciei numa universidade, mas reprovei nos últimos semestres e meus pais acharam melhor voltar para casa e terminar em uma faculdade privada. Acho que sempre fui muito apegada e dependente da minha mãe para fazer escolhas na minha vida. Quero ser independente e dona de mim mesma, mas não sei como fazer isso. Além do mais, ela não concorda que preciso de terapia e nunca concordou… acha que tenho que me ajudar sozinha. Além disso, não trabalho ainda e me sinto culpada por isso. Queria ser atriz desde criança, nunca tive coragem de ir atrás disso. Tenho irmão gêmeo que sempre foi o oposto de mim em tudo: na escola tinha amigos e minha mãe sempre elogiava sua inteligência. Sentia-me burra, desajeitada e sem valor. Não acreditei nos meus sonhos achando que eram bobagens e ilusões. Nunca consegui me abrir com ninguém, exceto às vezes que fiz terapia curtas. Escrevo para pedir ajuda, pois não sei como me reerguer. Queria descobrir uma força que me fizesse mudar de vida e ser mais feliz. De pequena não fazia nada sem minha mãe, nem esportes fiz. Nas festas em família não desgrudava dela. Obrigada.”

Resposta: Sua avaliação sobre seus sucessos e fracassos parece um tanto quanto tendenciosa. Você enumera um sem-número de coisas que não deram certo na sua vida e nenhuma, veja bem, nenhuma em que você obteve êxito!

A primeira coisa que você deve questionar, frente a essa sua atitude, é sua forma de avaliar e julgar a si própria. Você parece estar fazendo com você, a mesma coisa que sua mãe sempre fez, percebe? Não vem ao caso aqui se sua mãe está certa ou errada. O que nos importa é que, se ela colocou em seu irmão o rótulo de "bem-resolvido" e em você o rótulo de "mal resolvida", você não é obrigada a compactuar com isso, principalmente agora que já tem 30 anos. Cabe então reavaliar sua vida como um todo e verificar se você realmente não teve sucessos.

Só de ler seu e-mail, é possível perceber pelo menos um sucesso que você obteve: entrou numa universidade pública. Só que a forma como você menciona esse fato é absolutamente sem realce. Você realça os últimos semestres em que não se saiu bem, mas não valoriza o início onde teve que passar por uma triagem, nem os primeiros semestres em que foi aprovada. Percebe como isso ajuda você a se sentir um fracasso?

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Reflexão na prática

Tente então, num primeiro momento de reflexão, refazer sua lista de uma forma mais equilibrada. Para cada fracasso encontre um sucesso. Talvez, no começo, seja difícil. Mas certamente você já se saiu bem em algumas coisas. Tente lembrar-se delas.

Com relação a seu curso de psicologia, faça um esforço para terminá-lo sim! Evite que a interrupção seja classificada por você e sua família como mais um fracasso. Seja na universidade pública, seja na faculdade particular, continue. Primeiro porque uma faculdade de psicologia vai ajudá-la a se entender melhor, e entender as pessoas com quem você se relaciona. Depois porque dará a você a oportunidade de trabalhar na área que, afinal, foi uma escolha sua.

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E mesmo que você depois trabalhe em outra coisa, noções de psicologia sempre a ajudarão em qualquer área. Aliás, seria muito bom que você começasse a trabalhar mesmo cursando a faculdade. Arranje um estágio, um trabalho de algumas horas, enfim, qualquer coisa que ajude você a testar sua capacidade na prática. Aprendemos a confiar em nós mesmos agindo e não apenas pensando em agir. E não é necessário esperar terminar uma coisa para começar outra. As coisas em nossa vida acontecem simultaneamente e quanto mais ocupada você estiver, menos tempo você terá para ficar ruminando pensamentos negativos.

Certamente uma psicoterapia poderá ajudá-la bastante. Aliás, como futura psicóloga, é quase essencial que você se conheça profundamente. Afinal, quem pretende ajudar os outros a se conhecer melhor precisa, antes de mais nada, conhecer a si própria. Assim uma terapia é quase mandatória para quem quer ser psicólogo. Talvez, se você conversar com sua mãe e explicar que você precisa fazer uma terapia pela sua profissão, ela aceite melhor. É bem comum mães não gostarem muito de ver filhas fazendo terapia. Primeiro porque acham que elas, mães, deveriam ser as confidentes de suas filhas; depois porque uma filha que precisa de terapia soa como um sinal de que elas (mães) falharam como formadoras e educadoras.

Embora isso não seja real, essa fantasia é muito recorrente nas mães que acabam agindo como a sua. E nesse sentido fica mais fácil que mães aceitem melhor a terapia das filhas quando a percebem como um requisito de formação profissional e não como sinal de uma falha emocional.

Além da terapia, você pode correr atrás do seu sonho de criança e procurar um curso de teatro. Não precisa ser um curso profissional, mas algum curso ou grupo de teatro de sua faculdade, do clube da sua cidade, enfim, qualquer atividade artística que possa ajudá-la principalmente no quesito desinibição. Além de ajudá-la a concretizar seu sonho de criança, o de ser atriz, na prática. Lembrando que para ser atriz e representar uma personagem, você precisa, antes de mais nada, desenvolver a capacidade de observar o outro e tentar entender o como e o porquê de seus comportamentos. Muito parecido com o que você precisa desenvolver para ser uma boa psicóloga, não é? Pense nisso.

Finalmente, lembre-se que independência se conquista correndo riscos. Nem sempre se acerta, nem sempre se erra. Você já fez uma análise do seu passado e descobriu o que não funcionou. Que tal preencher seu presente e seu futuro com uma nova postura, mais erguida, mais confiante e mais ousada?

Apenas levante os ombros, respire fundo e dê o primeiro passo. Os outros virão mais facilmente.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.