Aprender por meio de regras ou sentir na pele o efeito dos seus atos?

por Regina Wielenska    

Vamos pensar numa receita de bolo: nela está escrito que você obterá um bolo delicioso se juntar os ingredientes x, y e z, misturar uns aos outros, seguindo certa ordem e forma de amalgamá-los, e colocar a massa numa forma de determinado formato, para assar ao forno, na temperatura e tempo especificados.

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Muitas variáveis estão implicadas no sucesso da receita. A despeito do sucesso ser incerto, seguir na literalidade cada passo de uma receita bem escrita aumenta as chances de você comer seu bolo.

Agora imagine ter que fazer bolo a partir do nada, com base em informações vagas, sem nunca ter visto um bolo ser feito em todas as suas etapas. Pouco provável que a massa resulte num bom acompanhamento para o café da tarde.

A receita é um tipo de regra, ela diz que se você fizer algo de determinada maneira poderá ter acesso a um resultado de seu interesse. Muito na vida funciona assim. O instrutor de trânsito diz ao aluno, se você vir uma bola atravessar a rua tome duplo cuidado, alguém pode vir correndo atrás da bola.

Outro exemplo vem dos tutoriais de todo tipo na internet, com dicas específicas de instrutores, aprende-se a consertar computador, fazer maquiagem, cozinhas delícias, tirar manchas de roupa, construir casa de cachorro.

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Pais e professores lançam frequentemente mão de regras como ferramenta de ensino. E isso funciona? Nem sempre. Os pais reclamam que falam, dão conselhos e nem sempre são ouvidos. Vários fatores podem enfraquecer o poder da regra, um deles é o pouco valor da consequência nela especificada.

Outro aspecto é o esforço envolvido para obtenção da consequência: “pra que eu vou me matar de estudar num cursinho pré-vestibular (o que equivale a seguir regras referentes a complexos comportamentos acadêmicos) se meu pai pode comprar a vaga pra Medicina?”.  

Professores demonstram teoremas e ensinam os alunos a fazer o mesmo. Mas e se a coisa em si parece descolada do mundo real, do cotidiano do aluno? Há que haver motivos legítimos para que a pessoa se disponha a se comportar do modo que a regra especifica.

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Até agora pudemos ver que regras e modelos de desempenho ajudam pessoas a aprenderem comportamentos.

Uma terceira via de aprendizagem é tentar fazer coisas por conta própria, na base do acerto e erro. Há vezes que isso funciona. Inventores fazem uso desse mecanismo, experimentam muitas variações numa linha de raciocínio e ação até que – Eureca!-, descobrem a resposta para aquilo que tanto almejavam.
O problema é encontrar um equilíbrio entre essas fontes de influência.

O médico diz ao paciente que ele está hipertenso e que precisará tomar remédio regularmente, mudar hábitos de estilo de vida para ver se reverte a hipertensão.  O médico especificou algumas regras ao dizer o que fazer e mencionar que a dupla consequência: reduzir a pressão e evitar acidentes vasculares cerebrais ou outras condições graves. Isto bastou para o sujeito aderir completamente ao tratamento? O quanto a pessoa acha provável acontecer o que o médico citou como riscos? O quanto há de esforço envolvido em mudar hábitos arraigados? Será que se uma pessoa das relações do paciente hipertenso tivesse morte súbita causada pela hipertensão assustaria o paciente e ele se engajaria no seguimento das regras? Se ele mudasse poderíamos entender que ele sentiu na pele dos outros as prováveis consequências adversas da hipertensão não tratada e isso lhe assustou bastante, a ponto de agir diferente e seguir as orientações médicas.

A flexibilidade comportamental é importante. Precisamos ser sensíveis a aspectos relevantes do mundo ao nosso redor, precisamos formular regras que nos ajudem a viver melhor e também seguir com eficiência regras válidas formuladas por terceiros.

Distinguir entre regras válidas que compensa seguirmos daquelas que são arbitrárias e inverídicas é outra habilidade fundamental. Podemos sim comer manga com leite, mas em certa época de cultura escravagista os fazendeiros disseminaram entre seus escravos uma informação falsa como forma de controle do comportamento de consumir leite, uma commodity valiosa. Essa crença atravessou séculos!

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