Uso de cocaína durante a gestação: consequências para o bebê

Por Danilo Baltieri  

Depoimento de uma leitora:

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“Minha filha fez uso de cocaína durante o período de gestação. O bebê nasceu prematuro, 35 semanas. O que percebo nele, hoje com 100 dias de vida, é que ele se contorce todo, as mãozinhas e os pezinhos suam frio, e a inquietação dele; sempre com as mãozinhas fechadas, e muito tenso. O que pode ser isso? Às vezes, tenho a sensação de que ele se acostumou com a droga e agora sente falta.”

Resposta: Grande parte das mulheres que faz uso de cocaína está em idade fértil. Embora mutável entre diferentes estudos e amostragens, estima-se que cerca de 5% das mulheres gestantes sejam usuárias de uma ou mais substâncias psicoativas que podem prejudicar o desenvolvimento do feto e/ou do recém-nascido.

Durante o período pré-natal, as mulheres devem ser questionadas pelos profissionais da saúde sobre o comportamento de consumo de substâncias; apesar de serem questionadas, muitas das usuárias gestantes acabam negando o consumo das substâncias por medo, vergonha ou mesmo desconfiança sobre a possibilidade de perder a custódia futura.

De qualquer forma, é imperativo que mulheres e homens que fazem uso de substâncias psicoativas, como a cocaína, tenham pleno conhecimento de que estarão prejudicando o feto de maneira, às vezes, devastadora. Claramente, gestantes usuárias de substâncias psicoativas devem ser prontamente tratadas por especialistas médicos e psicólogos objetivando a interrupção imediata do consumo das drogas e, assim, uma gravidez mais saudável.

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Nas mulheres gestantes, o uso de cocaína pode provocar fortes crises de enxaqueca, aumento da pressão arterial, convulsões, parto prematuro, descolamento da placenta, óbito fetal dentre várias outras consequências ruinosas.

Entre os fetos e recém-nascidos, o nexo causal entre o consumo de cocaína pela mãe durante a gestação e os problemas físicos e comportamentais futuros do filho, é mais intricado, visto que variáveis relacionadas tanto com a substância usada e forma de consumo bem como com o ambiente onde ambos vivem interagem para um determinado desfecho, comumente lesivo.

Cada caso é um caso  

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Algumas das variáveis relacionadas com o consumo da substância devem ser levadas em consideração durante a avaliação deste nexo de causalidade, tais como:

a) qualidade e quantidade da droga usada;
b) frequência do consumo;
c) tipos de substâncias usadas (uma, duas, mais de duas…);
d) exposição à violência doméstica e extra-doméstica;
e) estilo de vida adotado;
f) comportamentos de risco associados;
g) condição nutricional da gestante;
h) qualidade e extensão dos cuidados pré-natais;
i) presença de doenças infectocontagiosas.

Estudos têm apontado que recém-nascidos de mães usuárias de cocaína apresentam menor peso e altura e menor circunferência craniana do que filhos de não usuárias. Outrossim, o retardo no desenvolvimento motor do infante tem sido amplamente reportado.

É reconhecido no meio médico e jurídico que a exposição pré-natal à cocaína e outras substâncias psicoativas, associada às negativas circunstâncias ambientais aonde a criança nasce e se desenvolve, contribui efetivamente para o surgimento de problemas comportamentais, motores, afetivos precoces.

O uso de cocaína, por exemplo, além de modificar o desenvolvimento e o funcionamento cerebral, dadas as suas ações incisivas sobre os sistemas de neurotransmissores, pode induzir perturbações no equilíbrio vascular cerebral, causando ainda mais desordens comportamentais e cognitivas (atenção, memória, inteligência). Vale enfatizar, neste momento, que a cocaína usada pela mãe chega, com relativa facilidade, ao cérebro do feto.

Tendo em vista que a cocaína é um poderoso vasoconstritor (dificultando a circulação sanguínea), o recém-nascido, teoricamente, poderia apresentar redução da oxigenação cerebral, deficiências nutricionais e, subsequentemente, notáveis problemas de ordem neuropsicológica.

Achados de maior nível de agressividade, impulsividade, prejuízo na atenção e busca por sensações têm sido observados em crianças na idade dos 4 anos ou acima expostos à cocaína durante a própria gestação. Naturalmente, muitas destas crianças que foram estudadas conviveram em ambientes pouco adequados, com cuidadores apresentando problemas com o consumo de substâncias psicoativas e, às vezes, até mesmo, vivendo em lares substitutivos determinados pela Lei. Seguramente, os efeitos ambientais contribuem para os resultados futuros nefastos do consumo de substâncias psicoativas realizado pela genitora.

Outrossim, importante é mencionar que as interações entre a mãe e o recém-nascido são parte essencial no desenvolvimento das habilidades cognitivas, comportamentais, emocionais e relacionadas à linguagem do filho. Infelizmente, problemas com o uso de cocaína podem prejudicar tanto esta interação quanto os cuidados essenciais a serem dispensados ao recém-nascido.

A mãe da criança precisa ser adequadamente tratada para controlar este grave problema de saúde. Da mesma forma, a criança precisa ser adequadamente avaliada por neuropediatra. Na presença de problemas motores ou mesmo de quaisquer outras naturezas, a criança necessitará de tratamento especializado. Não perca tempo!

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.