Traição deve ser encarada como um problema de quem trai

por Luiz Alberto Py

Há quem ache que namorar é fazer – e cobrar – sacrifícios. Quando um namoro nasce viciado pela valorização da troca de sofrimentos tem tudo para terminar em um casamento penoso onde os cônjuges em vez de aliados e parceiros são adversários e até inimigos.
Para evitar isso, é necessário que os parceiros comecem a refletir desde cedo sobre seus desejos em uma relação e optem entre escolher a alegria e o prazer da convivência ou se preferem viver o clima repressivo das proibições recíprocas e do patrulhamento afetivo.

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"Desde que comecei a namorar nunca mais fui ao Maracanã", ou "Ele me proibiu de conversar com meus amigos" são comentários ouvidos com frequência que expressam uma relação na qual se está dando espaço para amarguras imediatas e futuros rancores. Esse posicionamento negativo na relação é quase sempre causado pela insegurança. Esta se origina do sentimento de falta de valor próprio e isso fortalece o ciúme.

Pessoas que não acreditam em sua própria capacidade de atrair os outros, tendem a desconfiar do amor que recebem. É uma situação típica onde a baixa autoestima acaba por provocar dificuldades no relacionamento. Para superar a insegurança, é importante aprender a confiar em si mesmo e no outro.

Confiar em si mesmo significa acreditar na própria capacidade de seduzir o parceiro de forma a que ele não se interesse por outras pessoas. Mas principalmente confiar na própria capacidade de superar eventuais traições e de ser capaz de lidar com essas situações inevitavelmente dolorosas. E confiar no outro significa dar ao parceiro um crédito de confiança e ter em mente que cada um é responsável por sua própria felicidade. Ou seja, a traição deve ser encarada como um problema de quem trai e não de quem é traído. A confiança ajuda no fortalecimento do vínculo afetivo e contribui de modo muito mais eficaz para o sucesso da relação do que o clima de repressão.

Quando, numa relação amorosa, um dos parceiros sente-se sufocado pelo outro, isso significa que o amor não está predominando. Em lugar dele, estão em cena o ciúme, o egoísmo, a vaidade e possessividade. Enquanto o amor impera, a relação é caracterizada por altruísmo, generosidade, humildade e respeito pelo parceiro. A confusão entre possessividade e amor é frequente. Existe até um adesivo para se colocar no vidro traseiro do carro que diz: "Não tenho tudo o que amo, mas amo tudo o que tenho". Quem acredita nessas palavras não aprendeu que amor é doação, respeito, admiração e liberdade.

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Amor tem a ver com ser e estar. Não com ter e possuir. Caso seu parceiro manifeste a necessidade de lhe controlar, isso é sinal de que chegou o momento de você "cair fora". Pois já não há confiança nem amor suficiente. Amor é um sentimento adulto e maduro de quem está consciente de que não pode ser dono da pessoa amada. Uma relação que evolui, melhora com o passar do tempo e dá frutos preciosos se fundamenta na igualdade entre os parceiros e não em cobranças e, muito menos, na superioridade de um sobre o outro. É uma relação que se enriquece com trocas (de carinho, de ideias, de apoio) e vive do respeito recíproco.

O ciúme é imaturo

Frequentemente os namoros começam sobrecarregados por uma atitude de ciúme da parte de um dos dois, por vezes até dos dois parceiros, principalmente quando são jovens. Em geral, esta atitude está relacionada com uma baixa autoestima que conduz à falta de confiança em si mesmo. Tal situação gera uma insegurança que faz crescer o medo de perder o outro. Racionalmente não faz sentido ter medo de perder alguém que pouco tempo antes não significava nada e cuja existência às vezes nem sequer se conhecia.

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Para pessoas inseguras, de baixa autoestima, conseguir um namorado é vivido como uma vitória e como uma evidência de valor pessoal. A existência do outro significa que a pessoa tem capacidade de atrair um parceiro. Ela se sente em condições de mostrar-se bem-sucedida e consegue esconder de si mesma sua insegurança.

Esta situação emocionalmente confortável e muito desejada corre o risco de se desfazer caso o parceiro desista da relação. Mas na medida em que a pessoa não acredita em seu próprio valor, tem dificuldade em crer no interesse do namorado pelo relacionamento e em consequência está sempre aguardando o momento – para ela previsível – em que o companheiro vai se decepcionar e partir para outra. Então a insegurança faz o ciúme brotar e crescer. Ciúme significa apenas isso: baixa autoestima e insegurança gerando uma tola e permanente desconfiança. Controlar o outro é inútil. O problema só pode ser resolvido melhorando a autoestima. Quando digo que ciúme é apenas isto devo deixar claro, estou passando ao largo das situações de ciúme patológico.