Entenda a cleptomania

por Dr. Joel Rennó Jr.

A cleptomania, um distúrbio do controle do impulso, não é frequente. As mulheres são cerca de duas vezes mais acometidas quando comparadas aos homens. A maior prevalência em mulheres ainda é um mistério. Acredita-se que fatores biológicos, sociais, culturais e relacionados a características de personalidade feminina interajam entre si, de forma diferente aos dos homens. No fundo, a cleptomania ainda é um distúrbio mental pouco estudado, até pela dificuldade envolvida quanto aos aspectos ético-legais.

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Alguns quadros clínicos podem se iniciar na infância, embora tenhamos que ter muito cuidado para fazer tal diagnóstico, já que os limites entre comportamentos corretos e inadequados, neste período de vida, são tênues. É mais comum a eclosão de tais quadros na puberdade. Os pais precisam procurar especialistas em casos de repetição de tais atos impulsivos, prejudiciais ao desenvolvimento e integração da criança no seu ambiente escolar e social.

O que determina um impulso é a falta de controle sobre os atos cometidos. É como se a pessoa estivesse no 'automático', não conseguindo estabelecer estratégias e planejamentos adequados para a execução de uma determinada ação. É nessa falta de controle dos impulsos que reside a essência da cleptomania.

Na cleptomania, a pessoa sente-se muito ansiosa quando observa um determinado objeto. Tal tensão só é aliviada quando ela se apossa do referido objeto. Ela não consegue evitar o desejo de roubar, porém, tais pessoas sentem-se muito culpadas após seus atos. É importante esclarecermos que tais objetos são de pequeno valor, não caracterizando um roubo de preciosidades. Após o roubo podem até , inclusive, da mesma maneira que pegaram o objeto, deixá-lo onde o encontraram.

Não há critérios quantitativos que caracterizam a cleptomania. O que sabemos é a tendência da repetição de tais atos no curso do tempo.

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Entre os medicamentos utilizados, os antidepressivos serotoninérgicos (que aumentam o fluxo do neurotransmissor serotonina no espaço entre dois neurônios) costumam controlar os sintomas psíquicos e até os impulsos. A psicoterapia cognitivo-comportamental procura identificar os fatores ou situações que desencadeiam os impulsos, ensinando técnicas para controlá-los e não atuar sobre a ansiedade e sentimentos existentes, antes do ato de roubar. Portanto, os pacientes devem aprender a lidar, de forma diferente, com as diversas emoções existentes.

Acredito, pela minha prática clínica, que os grupos de autoajuda envolvendo cleptomaníacos, embora até possam favorecer, dificilmente, serão constituídos por conta do sentimento de vergonha, envolvimentos legais, resistência à exposição dos mesmos e dificuldade para organizá-los, já que poucas pessoas, no dia a dia são, efetivamente, identificadas e diagnosticadas. Imaginem então no Brasil, onde as desigualdades sociais absurdas confundem quaisquer parâmetros diagnósticos.