Tempo de internação por alcoolismo das mulheres é maior

Da Redação

Mulheres passam em média 24,4 dias internadas; já os homens ficam 22,2 dias As mulheres passam mais tempo internadas por causa do alcoolismo do que os homens, segundo pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.

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O estudo foi feito com 2.203 pacientes de 56 municípios da região Centro-Oeste de Minas Gerais. Nele, o professor Richardson Miranda Machado, autor da pesquisa, constatou que o tempo de internação médio da mulher é de 24,4 dias, enquanto do homem é de 22,2 dias. O trabalho também destaca que no período estudado (1980 a 2008) a idade média dos pacientes diminuíu.

Sobre o tempo de internação maior das mulheres, o professor explica que há duas principais causas. Uma delas se refere às condições fisiológicas da mulher: “Pelas próprias proporções anatômicas, a mulher que é bem menor do que o homem, apresenta-se mais frágil e sofre mais com o efeito do álcool, o que requer um tempo maior para a recuperação”. Outro motivo levantado diz respeito a mudanças ocorridas no comportamento. Segundo o professor, a identidade cultural da mulher mudou muito nos últimos anos. “Antes, a mulher que bebia era mal vista, hoje tal hábito não é condenado”, diz.

Referente à faixa etária, observou-se 34 internações de jovens entre 10 e 20 anos de idade, sendo que o professor relatou casos até de crianças de 10 anos internadas nos últimos cinco anos, o que antes não se via. “As crianças estão sendo tratadas pela sociedade como adultos mais cedo. Isso as leva a assumirem hábitos de consumo dos adultos”, alerta o professor.

O estudo fez parte da tese de doutorado de Machado, sob orientação de Moacyr Lobo da Costa Junior, professor da EERP. A pesquisa se baseou em dados do sistema eletrônico de internações hospitalares do único hospital psiquiátrico da região Centro-Oeste de Minas Gerais, a Clínica Psiquiátrica São Bento Menni, que serve de referência para as internações psiquiátricas hospitalares pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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Internações

A pesquisa analisou também os fatores que levavam à maior ou menor dependência do álcool e o perfil geral dos pacientes. Entre os dados estudados, estão as relações das internações com o sexo, a escolaridade, a profissão e a faixa etária. Desta, a maioria dos pacientes (31,5%) tinham entre 40 e 50 anos. Já da escolaridade, observou-se que quanto maior o nível de formação, menor é o número de internações por alcoolismo.

Apesar do maior tempo de internação do sexo feminino, o número de homens internados ainda é bem maior. Eles representam 82,4% dos internados, o que, para Machado, já era esperado, uma vez que eles se arriscam mais e têm maior pressão para se ajustar ao grupo de amigos; fato este muitas vezes facilitado pelo consumo de álcool.

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Quanto à profissão, a maior parte dos pacientes são trabalhadores informais ou trabalham no comércio. Machado explica que o alto número de trabalhadores informais internados se dá por uma particularidade local. “A região Centro-Oeste de Minas Gerais tem muitos trabalhadores autônomos nas plantações. Eles ficam em situação de maior isolamento, onde a ingestão de álcool acaba sendo uma das poucas alternativas de lazer”, conta. De todos os aspectos, os apresentados como maiores fatores de dependência são a idade e a escolaridade.

O professor observa um dado positivo. No trabalho, ele verificou melhorias no diagnóstico médico. De 1980 até 1996, muitos dos diagnósticos médicos eram dados como “não especificados”, ou seja, os médicos não sabiam se o problema de alguns pacientes internados era gerado por alcoolismo ou por outra complicação. A partir de 1996, os diagnósticos ficaram mais precisos e, além disso, eles começaram a detectar uma grande quantidade de alcoólatras que sofrem com problemas psiquiátricos, como depressão, transtorno de ansiedade e psicose.

Mas Machado enfatiza que o alcoolismo ainda permanece como um grave problema na sociedade e observa que ele piorou em alguns pontos: “Apesar de o álcool ser uma substância muito antiga, o homem ainda não achou o equilíbrio em seu consumo. Hoje, o alcoolismo se apresenta como problema em áreas que antes praticamente não existia, como o aumento do consumo pelos mais jovens e pelas mulheres.”

Fonte: Agência USP de Notícias