O problema não é o colesterol, mas o excesso

por Jocelem Salgado

Estudo aponta que dois terços da população de dez países da América Latina, Europa e Ásia não sabem que as doenças cardiovasculares são as que mais matam no mundo. Esse mesmo estudo, feito pelo Instituto Adelphi International Research junto a 1.547 pacientes e 700 médicos, apontou que no Brasil, 80% das pessoas não sabem que o colesterol alto pode causar ataques cardíacos, denominação popular para o infarto do miocárdio. O Ministério da Saúde estima que as doenças cardiovasculares causem em média 800 mil mortes por ano no Brasil.

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Problema está no excesso

Encontrado exclusivamente nos produtos de origem animal, o colesterol é agrupado à família das gorduras. Além de estar presente nos alimentos que ingerimos (cerca de 30% é fornecido pela alimentação), a maior parte, cerca de 70%, é produzido no nosso corpo, principalmente pelo fígado. É o chamado colesterol endógeno.

Geralmente associado à coisa ruim, o colesterol paga por quase todos os males do coração. Mas pouca gente sabe o quanto ele é importante para o bom funcionamento do organismo. O colesterol é indispensável na produção dos hormônios masculinos e femininos, na síntese de vitamina D, na construção e restauração contínua das membranas que envolvem as células, na composição do ácido biliar que regula a digestão dos alimentos, entre outras funções. Por isso, ninguém vive sem colesterol. O importante é tê-lo na medida certa, e para isso devemos monitorar os 30% que ingerimos através da alimentação.

Importante lembrar aqui, que por defeito genético ou enzimático, existem pessoas que produzem muito colesterol no fígado; nesse caso, é extremamente importante que haja o acompanhamento de um cardiologista, com o objetivo de monitorar as taxas do colesterol endógeno.

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O colesterol em excesso costuma depositar-se sob a forma de placas nas paredes interiores das artérias, processo chamado de aterosclerose. Esses depósitos de gordura ricos em colesterol atraem compostos de cálcio que engrossam e enrijecem ainda mais as artérias, levando a arteriosclerose. Com isso, a passagem do sangue é obstruída e coloca em risco o funcionamento do coração, podendo levar ao infarto agudo do miocárdio.

No sangue, o colesterol pode estar livre ou fazendo parte das chamadas lipoproteínas (um aglomerado de colesterol, proteínas e gorduras que circulam pelas artérias e veias). O colesterol conhecido como LDL é o que participa da formação das placas de gordura que obstruem as artérias. Sua elevação é indesejável e deve ser combatida. Chamamos o LDL de "colesterol ruim".

Já o colesterol contido nas lipoproteínas HDL, chamado de o "bom colesterol", não participa do processo de obstrução das artérias e tem ainda um efeito protetor, porque retira o colesterol dos tecidos e o leva para o fígado onde é eliminado ou reaproveitado. Portanto, quanto maior forem os níveis de HDL, mais se evita a obstrução das artérias pela aterosclerose.

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Fontes de colesterol na dieta

O colesterol só existe em alimentos de origem animal, contudo, alimentos ricos em gorduras saturadas também favorecem o aumento do colesterol no sangue. Por isso, limitar apenas a ingestão de colesterol não é suficiente para se prevenir a aterosclerose.

Assim, os alimentos que devem ser evitados por quem sofre com o problema ou quer preveni-lo são a gema de ovo (a clara pode ser consumida à vontade), fígado, frutos do mar, miúdos, manteiga, maionese, gordura de carnes (inclusive pele de aves), embutidos (linguiça, salsicha, salame, presunto), sorvetes, leite integral, queijos amarelos, alimentos produzidos com gordura hidrogenada (gordura vegetal), etc. Por serem fontes abundantes de gordura saturada, o coco fruta, leite de coco, azeite de dendê e manteiga de cacau (ingrediente dos chocolates) também devem ser evitados.

Níveis ideais

Atualmente, têm sido estabelecidos os seguintes índices de medida:

Adulto sadio – Colesterol total ideal: até 200mg/dl

Pessoas com fatores de risco* – Colesterol total: até 130mg/dl

Pessoas com doenças coronarianas – Colesterol total: até 100mg/dl

*Fatores de risco: pressão alta, fumo, obesidade, sedentarismo, stress

Solução sem medicação

Para a grande maioria das pessoas que está com o nível de colesterol ligeiramente aumentado, outras soluções devem ser tentadas antes do recurso aos medicamentos.

As pesquisas estão apontando três soluções para as pessoas que estão um pouco acima dos níveis normais. Uma delas é o exercício físico. Estudos recentes estão demonstrando que a prática de exercícios pode ajudar na redução do colesterol ruim, o LDL.

Outra solução é a perda de peso. Embora indivíduos magros possam ter também níveis elevados de colesterol, pesquisas mostram que indivíduos que estão com quilos acima do peso, têm uma redução importante nos níveis de colesterol quando conseguem retornar ao peso normal.

O outro caminho é o da alimentação equilibrada, ou melhor, ainda, do uso correto de alimentos capazes de reduzir o mau colesterol, aumentando o HDL, o bom colesterol. Como pesquisadora em alimentos funcionais, vejo esta solução como a mais promissora.

Na lista de alimentos que ajudariam o bom colesterol e diminuiriam os riscos do mau colesterol estão as fibras, presentes em cereais integrais como a aveia, cevada, centeio, e na casca de frutas como maçã e bagaço de laranja; o ômega-3, um tipo de gordura presente em peixes marinhos como sardinha, atum, salmão, anchova, cavalinha, etc; as proteínas da soja e suas isoflavonas, encontradas em alimentos à base de soja; o resveratrol, uma substância presente em uvas roxas e no vinho tinto (2 cálices ao dia); pigmentos encontrados em vegetais como o tomate vermelho (licopeno), amoras, cerejas e framboesas (antocianinas), entre outros que estão sendo investigados.

Dicas importantes

Se você quer manter as taxas de colesterol nos níveis adequados não se esqueça de:

– Comer mais frutas, vegetais e cereais integrais (aveia, centeio, farelos de trigo, arroz integral, etc): eles são ricos em fibras e substâncias antioxidantes.
– Comer mais peixes marinhos como sardinha, atum, salmão, anchova, cavalinha, etc, ricos em ômega-3.
– Temperar os pratos com ervas, alho e cebola; reduzir o consumo de sal.
– Utilizar laticínios pobres em gordura, como leite e iogurte desnatados.
– Reduzir a ingestão de colesterol e gorduras saturadas, como as fontes já citadas nesse texto.
– Fazer uso, com moderação, de gorduras saudáveis presentes no azeite de oliva, abacate, nozes, castanhas e amêndoas.
– Evitar frituras; dar preferência à alimentos grelhados, assados ou cozidos.
– Consultar anualmente seu cardiologista

Informações podem ser obtidas no site http://www.hcanc.org.br/dmeds/psiq/psic2.html.