Conflitos: cultivá-los ou desconstruí-los?

por Regina Wielenska

Nos consultórios de psicoterapia, não raro há clientes que procuram ajuda se queixando de problemas de relacionamento com familiares, amigos e conhecidos.

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Por vezes, relatam que o problema é a rigidez de pontos de vista da outra pessoa ou seu temperamento difícil. Há quem constate no outro a presença de sentimentos de inveja, desprezo, hostilidade, indiferença, mágoa e sofra intensamente com isso.

Na verdade, não há fim na lista de queixas possíveis quando se trata do convívio entre pares que mais parecem ímpares. E cada uma das situações congrega seu pacote exclusivo de dores, frustrações, cujas repercussões tendem a ampliar os conflitos já existentes. Raiva gera mais raiva, e um pequeno afastamento, por sua vez, resulta em maior distância entre as pessoas. O ponto central de meu argumento é o "efeito bola de neve que evolui para avalanche", que ocorre quando uma dificuldade de relacionamento é mal conduzida e resulta em problemas ainda maiores.

Há luz para isso no fim do túnel? Sim, em muitos casos. Mas pode também haver armadilhas no meio do caminho. Ao menos uma das partes afetadas precisa se interessar, de coração aberto, em refletir sobre o problema, entender suas facetas e tentar se colocar na posição de seu oponente. É um exercício de empatia, no qual o problema será examinado da forma mais completa possível, inclusive sob a perspectiva da outra pessoa.

Será que eu posso fazer algo palpável, significativo, para mudar a situação?

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Não adianta cruzar os braços, fechar a cara e esperar pela iniciativa da pessoa com quem entramos num embate. Tendemos a desejar ardentemente que a mudança parta da outra pessoa. Afinal, "é dela a culpa…". E pode ser mesmo que dali partiu o problema. Mas, ainda assim, de que valeria cruzar os braços, fazer cara de vítima enfurecida e esperar que o outro mude?

A gente pode ter mais sucesso se pensar que o problema pode até ter sido iniciado pelo outro, mas foi mantido, ao menos em parte, por cada um de nós. Também somos rudes, rígidos, intransigentes, malcriados, ambiciosos, descuidados e outras coisinhas do mesmo naipe. Há uma brecha escondidinha para a reconciliação: ela reside no reconhecimento genuíno de nossa parcela de responsabilidade pela geração, manutenção e/ou modificação do problema.

Quem sabe possamos chamar a pessoa para conversar e lhe revelar que nos sentimos parcialmente responsáveis pela situação que agora nos afeta?

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Podemos reconhecer nossos equívocos, assumir nossa parte do problema. Também podemos dizer que gostaríamos de saber se a pessoa tem alguma expectativa acerca do conflito e sua solução, pergunte-lhe:

– O que você gostaria que eu fizesse para dar início às mudanças?

A tendência usual é culpar os outros e se fechar em copas. Proponho a coragem de fazer o oposto, cada pessoa poderia tomar para si a ousadia de abrir o coração e expor ao oponente/inimigo a sutil beleza do perdão, de uma reconciliação, da reparação de um dano.

Os casos mais difíceis podem contar com o auxílio de um mediador treinado (psicólogos ou até mesmo advogados qualificados para tal), profissional que facilita às partes chegarem a um acordo. O importante é assumir para si a iniciativa da mudança, movido pela ventania do crescimento pessoal. Coisa pra gente que gosta de paz, não ignora os próprios defeitos, e caminha na direção de valores significativos para uma vida com propósito e muito amor.