Homens superprotegidos tornam-se dependentes e frágeis na vida adulta

por Arlete Gavranic

Não vou falar da mulher superprotegida, nem da mulher vitima, manipuladora e acomodada.

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As mulheres das últimas três décadas tiveram e têm muita energia de superação: cuidam da casa, educam filhos, estudam, trabalham, e ainda têm se desenvolvido para serem companheiras lindas e sexualmente interessantes. Muitas ainda estão amadurecendo… cada uma no seu ritmo e no seu tempo.

Comportamento masculino

É esperado que o homem ao tornar-se pai, assuma com responsabilidade a missão de criar, sustentar e educar seu filhos. Ele é preparado e educado para iniciar e crescer na vida assumindo responsabilidades: contas a pagar, a família e a realização de metas de sobrevivência e de crescimento.

Desenvolver essa estrutura fazia dele um representante bem criado da masculinidade, pois nem se contava tanto com a possibilidade homossexual. Mas independente da orientação homo ou heterossexual, esse filho estava pronto para assumir a própria vida e até no futuro auxiliar os pais que envelheceriam.

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Mas os tempos de fartura e a melhora de condições de vida provocaram muitas mudanças nas famílias de classe média e media alta. Mudanças nem sempre positivas, pois hoje colhemos frutos nada saudáveis dessa fartura em muitas famílias e na estrutura psicossocial e sexual de muitos filhos.

Muitas famílias no desejo de desempenhar uma excelente paternidade e demonstrar amor, se autoafirmavam socialmente oferecendo o melhor a seus filhos, sem estabelecer para eles uma relação custo-beneficio. Ou seja, sem criar condições para que os ‘presentes’, ’prêmios’ ou ‘benefícios’ fossem adquiridos.

Em muitos desses casos, esses pais também não impunham condições, não davam para esses filhos a responsabilidade e referência de cuidar bem e preservar suas "conquistas". Isso estimulava a visão de que tudo poderia ser adquirido sem muito esforço ou sacrifício e que tudo era descartável, ‘se estragar a gente repõe’.

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Imagine isso acontecendo com crianças e jovens em pleno mundo de abertura às novas tecnologias: antigamente Atari, depois Playstation, Wii, computadores, tablets… E isso tudo somado a outros mimos oferecidos pelos pais como: moto, carro, roupa de grife, tênis de marca, dinheiro para sair, viajar … Enfim, um vidão!

Quem não gostaria de ter tanto prazer e regalia?

Mas paralelamente a esse universo, associa-se um outro fator: filhos homens, muito mais estimulados a atividades físicas – esportes de lazer e não com espírito competitivo ou de dedicação – são pouco estimulados a atividades que exijam foco e concentração. Isso pode fazer com que prazeres imediatos e que exijam pouca determinação e dedicação sejam o foco de suas atividades.

E os estudos?

Alguns filhos com mais habilidades intelectuais podem seguir bem, talvez abaixo do seu potencial real, mas seguem. Outros com algum tipo de dificuldade ou com menos facilidades podem desistir de estudar ou ir para um colégio mais fácil, faculdades menos puxadas, sempre fugindo frente às dificuldades ou minimizando as possíveis concorrências.

Esses pais também costumavam (e costumam) impor poucos limites, notas, desempenho, continuidade… Isso poderia significar que seu filho não era tão bom e pais que têm medo de não serem amados costumam exigir menos.

E aí como fica a vida adulta desses filhos ‘superprotegidos’? Afinal, eles foram criados com seus desejos facilmente atendidos, com poucos estímulos para conquistas e com a sensação de que seus desejos se transformavam em uma ordem magicamente realizada.

Quem vivenciou todas as condições mencionadas pode se tornar um adulto com baixa autoconfiança, imaturo para as competências e concorrências que a vida exigirá dele. Às vezes um ‘reclamão’ que se sente injustiçado, ou que nunca tem maturidade para levar adiante um negócio, um emprego. Ele proclama ao mundo o quanto os outros sempre são traiçoeiros, injustos e exigentes. Fica à espera de ser bem tratado, ajudado, e quando isso não ocorre, vive o papel de vítima, de coitado.

Determinação e competência para planejar (não só desejar e ganhar como foi na infância e adolescência) e fazer acontecer: essa é a característica que faltou ser estimulada e desenvolvida, na maioria das vezes, nesse homem.

Sexualmente podem se tornar homens inseguros e até desenvolver dificuldade de ereção. Homens inseguros, ansiosos e temerosos têm mais chances de desenvolver quadros secundários de ejaculação precoce; outros podem desenvolver fetiches ou fantasias sadomasoquistas. Desenvolver segurança e autoconfiança para o sexo também requer a sensação de: “eu sou capaz!”

Afetivamente esses homens vivem com frequência o papel do ‘bonzinho’, são carinhosos, divertidos,‘prestativos’ e atenciosos. Dificilmente conquistarão mulheres que exijam deles uma atitude pró-ativa. Mulheres competitivas ou impetuosas não conseguem conviver muito tempo com esse homem ‘bonzinho’, mas pouco pró-ativo.

Mas como vivem poucos sucessos, cativam em algumas pessoas o afeto filial de: ‘o cara que não tem muita sorte e que precisa ser ajudado, apoiado’.

Poucos avaliam a inconsistência da maioria de suas atitudes pró-ativas na vida e no trabalho, ou suas eternas atitudes de ‘espera’: espera de um bom emprego/salário, espera de um bom negócio, espera de bons clientes, espera de apoio familiar, espera da ‘Mega Sena’, espera da sorte…

Após uma sequência de insucessos, adultos que foram superprotegidos podem se tornar depressivos, derrotistas, ou podem se tornar adultos que se acomodam no papel de vítima, e mais que acomodados, alguns não admitem adequar seu padrão de vida ao seu ganho, pois na sua imaturidade e vaidade; merecem ser atendidos nos prazeres, mesmo nunca tendo efetivamente feito coisas no sentido de conquistar esse crescimento.

Muitos passarão a vida como dependentes, dependem da empresa do pai, da mesada, da aposentadoria do pai, dos bens, da herança… E esses pais inutilmente sustentam esses fracos egos com a ilusão de que estão ajudando-os, mas de fato muitas vezes esses pais são reféns de um sentimento de culpa. Eles se questionam onde erraram, mas também acreditam que esse filhos são ‘coitados’ e continuam ajudando, ou melhor, protegendo.

Pais de filhos adultos podem e devem orientar, estimular, apontar caminhos, mas nunca se responsabilizar ou efetuar a conquista (nem pagar a conta!) por eles. Como popularmente se diz, estimule o melhor dele, ensine a pescar, não dê o peixe!

Como romper essa dinâmica incapacitante?

Para nascer é necessário cortar o cordão umbilical, nascer é sofrido, respirar dói, mas é a única forma de entrar no ciclo da vida. Para sair dessas relações dependentes, é necessário sair da acomodação do útero familiar. Enganam-se aqueles que consideram isso ajuda, pois cada filho precisa aprender a viver sua competência e a sobreviver dela.

O prazer, seja de uma conquista sexual, da compra de um bem, da realização de um sonho ou da sensação de conseguir determinada façanha, só tem sentido quando se consegue dizer “Eu consegui”. Há de se sair do conforto de ser ajudado para que a maturidade possa acontecer. Se isso dói? É claro que dói, mas sem viver a dor, não se desfruta o prazer dessa conquista e se vive eternamente na ameaça de não ser capaz!