Condições essenciais para a prática do yoga

por Nicole Witek

Agradeço ao leitor que perguntou sobre uma das condições essenciais da prática de yoga, que geralmente gera muitos comentários do tipo: "o yoga não é para mim… é muito parado" ou "detesto yoga, falta ação" ou "yoga e para mulheres".

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Porém, essa questão da imobilidade é fundamental para uma prática correta que requer vários ingredientes para ser chamado yoga:

Um asana é uma posição corporal mantida

1 – imóvel
2 – um bom tempo
3 – sem esforço
4 – com controle da respiração
5 – com controle da mente

Só assim, quando todos os ítens estão reunidos, podemos falar de "asana" (postura).

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Aqui preciso mais uma vez citar o Andre Van Lysebeth (1) que explica com muita clareza a ação da imobilidade dentro das posturas. Mais uma vez, ele vai me ajudar hoje a transmitir uma noção única do yoga.

Por que essa necessidade de imobilidade?

Antes de falar desse assunto, precisamos fazer uma revisão sobre os músculos! Durante um asana os músculos são voluntariamente colocados em situações anormais, o que não quer dizer "posições antifisiologicas", pelo contrário! Se trata aqui de colocar os músculos em situações diferentes de tudo que eles possam fazer durante a vida corriqueira.

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A característica principal do músculo é sua possibilidade de contrair. Quando se contrai, ele encurta. Mesmo que geralmente o músculo antagonista se alongue; quando se trata de movimentar o esqueleto, precisamos da contração.

Durante uma sessão de yoga, os músculos são esticados. Durante as atividades normais, o músculo pode se contrair ao máximo, porém não podemos ter certeza que ele poderá depois da contração, des-tensionar, ou seja, relaxar.

O músculo tem uma certa elasticidade. Quando o músculo chega perto de seu ponto máximo de elasticidade, o músculo resiste. Todos os movimentos são executados dentro do limite de elasticidade normal do músculo

Porém, os asanas têm como meta ir muito além desse limite. As condições para os asanas vão depender das características do músculo. Para que o músculo ultrapasse seu limite normal de elasticidade, é preciso:

1 – Permitir que ele possa des-tensionar. Em situação normal, o músculo chegando no seu limite, se defende e se contrai para se proteger. É preciso ultrapassar esse reflexo de defesa do músculo. Para isso precisamos voluntariamente "des-contraí-lo".

Quando sentimos que o músculo começa a resistir, precisamos impedir que o reflexo de defesa do músculo se instale. Precisamos, calmamente, colocar toda nossa atenção no músculo que resiste. Com paciência convencê-lo para que ele des-tensione. O que nos ajudará será o uso da respiração: a cada expiração podemos ajudar o músculo para "des-tensionar" um pouco mais, a cada expiração, precisamos relaxar o corpo um pouco mais dentro da forma que escolhemos, dentro do asana escolhido.

2 – Dar para o músculo o tempo suficiente: durante a prática de yoga não podemos correr, nem nos apressar. O músculo chegando no seu limite normal de elasticidade precisa de um certo tempo para se submeter, sem resistir, à nossa vontade de des-tensionar. Isso pode demorar no mínimo 30, 40, 50, 60 segundos. Sabendo disso, podemos com paciência acompanhar gradativamente o relaxamento do músculo submetido a uma longa tração.

3 – Evitar qualquer movimento brusco: enquanto o músculo está num estado de não resistência, é perigoso submetê-lo a um evento brutal: como por exemplo espirar, tossir ou aceitar uma pressão sobre as costas numa vontade amigável de ajudar, porque nesse momento o músculo é vulnerável.

Durante a prática de yoga, o yogi deixa tudo isso acontecer. O yogi respeitará os limites do seu corpo e gradativamente com carinho e suavidade intensificará as trações sem dor. Lembramos ao leitor que tremer indica que o músculo não está relaxado. Por isso é necessário que o praticante esteja concentrado e interiorizado para "ouvir" tudo que o corpo fala para praticar corretamente o asana. Assim que se movimenta o corpo, ele volta para seu limite de elasticidade habitual.

Por que precisamos do alongamento?

Porque os músculos, devido a nossos hábitos de vida, têm mais costume de contrair do que relaxar. Os músculos encurtam ao longo dos anos. Mesmo para o esportista, cujos músculos são duros e menos compridos que deveriam. Ao alongar os músculos encurtados, o yoga permite que eles voltem a um comprimento natural.

Como sabemos que os músculos não têm o comprimento ideal e natural?

Muito simples, se uma articulação não pode se movimentar ao máximo, isso indica que os músculos limitam o movimento por causa de encurtamento.

Do ponto de vista fisiológico, o alongamento dos músculos atua sobre os receptores nervosos sensíveis às modificações da tensão muscular. Isso gera uma cascata de reações no corpo tudo através dos órgãos tendinosos de Golgi (2).

Nessa postura por exemplo (foto): a posição do pé direto vai gerar uma sequência de modificações na posição do pé em relação ao corpo. Siga as setas (imagem) para entender como a mensagem veiculada pelos receptores dos músculos irá informar o cérebro e desencadear outras mensagens que atingirão toda musculatura na região do tornozelo. Também, um simples contato do calcanhar com o chão, informará o corpo todo das medidas a serem tomadas para um equilíbrio perfeito do corpo no espaço.

Outra coisa: um músculo estirado se esvazia, assim que volta a um comprimento normal, ele fica alagado por sangue novo com melhor oxigenação.

Finalmente não se deve "executar um asana", não se pode " fazer um asana"!

Quando chegamos na fase de imobilização, fase, lembro eu, essencial à prática correta do yoga, precisamos esquecer nossa vontade de "fazer" alguma coisa. A simples palavra "fazer" supõe "movimento", que quer dizer "ação" e "contração" .

A palavra "contração" não pertence às posturas. Por consequência, e impossível "fazer" um asana. Tudo que o adepto pode fazer, é se colocar numa posição na qual o asana possa acontecer. Os grupos musculares percebidos devem se encontrar na forma mais passiva possível; no entanto, há os grupos musculares que devem permanecer contraídos, para manter a forma do corpo ou dar uma tração sobre os músculos que serão des-tensionados, percebidos e localizados: existe uma dissociação entre os músculos em tensão e os músculos des-tensionados. Essas sensações se tornam "educativas" para perceber nas atividades do dia a dia as tensões inúteis que parasitam o proprietário desse corpo, esvaziando-o da energia vital que ele poderia desfrutar idealmente.

Muitas escolas modernas de yoga estão propondo sequências e movimentos dinâmicos. A fase dinâmica é a preparação para uma postura estática. A fase dinâmica só pode ser uma preparação para ter consciência, localizar internamente os músculos que, dentro do asana/dentro da postura, serão submetidos:

– em primeiro lugar: ao des-tensionar
– em segundo lugar: ao "relaxar" para conseguir esticar e alongar.

Pode acontecer mesmo de seu professor afirmar que a imobilidade e supérflua. Isso se seu professor de yoga transformar o yoga numa sequência pura de ginástica à moda ocidental, executando uma postura depois da outra, sem imobilidade pequena ou prolongada.

Tente praticar você mesmo dessa forma, respeitando a imobilidade prolongada. Seu corpo verá a diferença, seu corpo se sentirá livre das travas e bloqueios; se sentirá feliz. Além do corpo, o seu cérebro, e além do cérebro… seu ser todinho

Aguarde uma continuação para que eu possa estudar com você como a imobilidade pode se tornar um grande aliado para a saúde dos órgãos internos e como a imobilidade pode ser uma fonte de grande poder.

(1) Andre Van Lysebeth revistas yoga no.105 e 106 de 1972
(2) http://pt.wikipedia.org/wiki/Órgão_tendinoso_de_Golgi

Atenção!
Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.