Reflexões sobre um diálogo

por Luís César Ebraico

PACIENTE :  —  Tive a maior briga com minha sogra e avisei a minha filha que não vou convidar a avó dela para nossa ceia de Natal!
LOGANALISTA:  —  Não entendi muito bem o “espírito da coisa”…  Nós estamos em junho e você já está avisando a sua filha que não vai convidar a avó dela para a ceia de Natal?!
PACIENTE :  —  Claro!  Ela é apaixonada pela avó, que mora em outra cidade, e quase só a vê quando ela vem passar o Natal conosco.  Então, é bom que fique preparada para não vê-la!
LOGANALISTA:  —  Bem, eu acho que bastam os problemas que o mundo nos causa.  Não tem sentido ainda nos causar mais. 
PACIENTE :  —  Como assim?  Eu tinha que deixar minha filha preparada!
LOGANALISTA:  —  Entendo e me parece razoável.  Mas, para preparar sua filha, você não precisava se colocar em uma posição vulnerável.
PACIENTE :  —  Que posição vulnerável?
LOGANALISTA:  —  Você está bem aborrecida com sua sogra, não é?
PACIENTE :  —  Muito!
LOGANALISTA:  —  E é por estar aborrecida com ela que não quer vê-la em sua ceia de Natal, não é?
PACIENTE :  —  Evidente!
LOGANALISTA:  —  E como você pode ter certeza de que, daqui a seis meses, você ainda estará aborrecida?
PACIENTE :  —  Bem… 
LOGANALISTA:  —  Não pode, não é?
PACIENTE :  —  É, não posso.
LOGANALISTA:  —  Digamos que, quando dezembro chegar, hajam ocorrido mudanças, internas ou externas, que dissolvam seu aborrecimento e que lhe seja perfeitamente possível convidar sua sogra, deixando sua filha feliz.
PACIENTE :  —  De fato, poderia acontecer isso…
LOGANALISTA:  —  Mas, da maneira radical que você abordou o problema com sua filha, ou, para provar que você faz o que diz, você não convida sua sogra e se sente culpada por estar fazendo sua filha sofrer desnecessariamente com a ausência da avó, ou passa por cima do que havia dito, convida sua sogra e fica passível de ouvir sua filha dizer “Ué, você não disse que não ia convidar a vovó?”, com uma carinha de quem faz pouco de sua capacidade de fazer o que diz. 
PACIENTE :  —  Então, como eu poderia tê-la protegido, sem ficar nessa tal de “posição vulnerável”?
LOGANALISTA:  —  Vou dar uma sugestão.  Que tal:  “Minha filha, tive uma briga feia com a mãe de seu pai e estou muito aborrecida com ela.  Como eu sei que você gosta muito dela, quero ir avisando você de que, se, quando chegar o Natal, eu ainda estiver me sentindo assim, não haverá condições de eu convidá-la para cear conosco”? Acho que, assim, você teria “preparado” sua filha, sem prejudicar seu “espaço de manobra” em sua relação com a mãe de seu marido. 
PACIENTE :  —  É verdade, eu teria ficado com mais “espaço de manobra”. 
LOGANALISTA:  —  Você poderia ter sido firme, sem ser radical.  Gostei.  Aliás, estou começando a me lembrar de várias outras situações em que teria sido mais confortável para mim colocar-me dessa maneira.  Uma vez, por exemplo, no meu trabalho…

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E a paciente passou a relatar vários outros episódio de sua vida em que teria sido mais vantajoso usar o tipo de comunicação que seu loganalista lhe sugeriu.