Meu filho é dependente de álcool e soropositivo. O que fazer?

por Danilo Baltieri

"Gostaria de saber se ele pode tomar algum medicamento para parar de beber?"

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Resposta: O consumo nocivo de bebidas alcoólicas entre portadores do vírus da AIDS (HIV) é bastante comum, sendo que as taxas desse uso chegam a ser duas vezes maiores entre os portadores quando comparadas com a população geral. Infelizmente, o consumo inadequado de bebidas alcoólicas pode complicar certas condições clínicas frequentemente associadas com esta infecção, tais como as hepatites B e C, ou mesmo associadas com o tratamento da infecção, tais como intolerância à glicose e hipertensão arterial. Outrossim, o consumo de bebidas alcoólicas está relacionado com comportamentos sexualmente arriscados, múltiplos parceiros sexuais e uso de outras substâncias psicoativas concomitantemente.

Todos os portadores do vírus da AIDS devem ser questionados sobre o consumo de álcool e de outras drogas, devido à alta coexistência e consequente necessidade de manejo conjunto. Clínicos especializados no tratamento de pacientes portadores de HIV devem estar familiarizados com serviços dedicados ao tratamento de problemas associados com o uso de álcool e de outras drogas, para onde devem encaminhar seus pacientes com consumo problemático.

Psicoterapias e grupos de mútua ajuda (Alcoólicos Anônimos) sempre devem ser contemplados no tratamento para os pacientes com problemas relacionados com o consumo. Medicações comprovadamente eficazes para o tratamento do alcoolismo também constituem importantes ferramentas para esse manejo. Naturalmente, essas medicações devem ser criteriosamente prescritas, tendo em vista as indicações médicas.

Como já detalhado em respostas prévias aqui no Vya Estelar, existem quatro medicações comprovadamente eficazes para o manejo do alcoolismo: acamprosato, naltrexone, naltrexone-depot e dissulfiram. Outras medicações, ainda sob investigação clínica intensiva, têm também sido utilizadas, como: topiramato, ondansetron e baclofeno.

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Como os portadores do vírus HIV fazem uso de outras medicações, é importante que o clínico monitorize possíveis interações medicamentosas entre 'as medicações prescritas para conter o avanço da doença infecciosa' e 'as medicações prescritas para o tratamento do alcoolismo'.

O clínico, então, tem cinco importantes papéis:

a) investigar a existência de um problema relacionado com o consumo de bebidas alcoólicas;
b) se existente, avaliar a necessidade do uso de medicação específica para o tratamento do alcoolismo;
c) determinar, a partir do armamentarium (arsenal) médico disponível para o manejo do alcoolismo, qual medicação seria mais apropriadamente recomendada para o paciente em questão, tendo em vista o padrão de consumo, a intensidade da fissura, sintomas de síndrome de abstinência, idade de início dos problemas com o álcool, dentre outros aspectos;
d) avaliar as possíveis interações medicamentosas entre a medicação indicada e as demais medicações utilizadas pelo paciente;
e) monitorizar tanto a eficácia quanto a segurança terapêutica da medicação então prescrita.

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Os problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas devem ser rigorosamente tratados. Existem indicações precisas para cada uma das medicações comprovadamente eficazes para o seu manejo. Assim, é importante que o paciente seja avaliado por médico especialista no campo das dependências químicas, objetivando determinar a melhor modalidade de tratamento inicial e de manutenção.

Não recomendo, sob quaisquer hipóteses ou pretextos, o uso de quaisquer medicações para essa condição sem uma adequada avaliação e supervisão médica especializada. Desta forma, sugiro que conduza seu filho para uma avaliação e seguimento com médico especialista o quanto antes.

Não perca tempo.

Atenção!

Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.

Meu filho é dependente de álcool e soropositivo. O que fazer?

por Danilo Baltieri

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Resposta: O consumo inadequado de bebidas alcoólicas pode facilitar comportamentos de risco que expõem o bebedor ao contato com o vírus HIV; outrossim, quando um indivíduo já é infectado, o consumo inadequado de bebidas alcoólicas compromete negativamente a adesão ao tratamento com os medicamentos antiretrovirais. Dessa forma, vale bastante a pena tratar aquele portador de HIV que tem problemas com o uso de bebidas alcoólicas (bem como com outras drogas), objetivando maior estabilidade do quadro clínico.

Quando existe um quadro de síndrome de dependência de álcool, a combinação do tratamento psicossocial com o farmacológico específico para o alcoolismo é bastante adequada e recomendada. Certamente, para cada tipo de medicação, existem indicações e contraindicações médicas que devem ser respeitadas.

Até o momento, existem quatro medicações aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration) para o tratamento farmacológico da Síndrome de Dependência de Álcool: Dissulfiram, Naltrexone, Naltrexone-depot, e Acamprosato.

O Dissulfiram, aprovado na década de 40 para o tratamento farmacológico da dependência de álcool, atua no fígado, impedindo uma das fases de metabolização do álcool e, consequentemente, gerando uma substância (aceto-aldeído) tóxica que provoca sintomas bastante desagradáveis, tais como cefaleia, náuseas, vômitos, pele avermelhada, ansiedade. Naturalmente, o indivíduo apenas experimentaria tais sintomas se estivesse fazendo uso dessa medicação na vigência do consumo de bebidas alcoólicas. Com esta medicação para portadores de HIV, teríamos alguns problemas: a adesão ao uso de uma medicação que pode gerar sintomas bastante desagradáveis se o paciente fizer uso de bebidas torna-se baixa, especialmente quando ainda existe uma ambivalência do bebedor quanto a cessar ou não o uso do álcool; segundo, o Dissulfiram é ativado por um citocromo do fígado (P450 3A4), local comum de atuação também de medicações antirretrovirais. Logo, a efetividade do Dissulfiram poderia estar comprometida e ajustes de doses deveriam ser realizadas.

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O uso do Naltrexone é uma indicação interessante para uma parcela de dependentes de álcool. No entanto, deve-se lembrar que portadores de HIV podem também sofrer de quadros de dor e, infelizmente, alguns tipos de medicações para dor (em especial as medicações opioides) não podem ser administradas concomitantemente.

O Acamprosato é uma outra interessante indicação farmacológica para dependentes de álcool. Ocorre que o principal problema aqui é a adesão ao esquema medicamentoso. Os pacientes com mais de 60 Kg devem ingerir todos os dias 2 comprimidos pela manhã, 2 comprimidos à tarde, e 2 comprimidos à noite (cada comprimido tem 333 mg de acamprosato). Como a adesão aos esquemas medicamentosos é crucial para o sucesso dos tratamentos, o paciente deve ser bastante disciplinado para conseguir resultados.

De qualquer forma, seu filho precisa ser acompanhado por especialista sensível aos seus problemas e às suas características. Deve saber impor limites, quando da falha no cumprimento do manejo terapêutico. Os familiares devem também demonstrar total apoio e participar ativamente do manejo médico e psicossocial.

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Converse com o especialista. Seguramente, ele terá opções potencialmente benéficas para o tratamento desse problema.

Atenção!

Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.