Causas de depressão no idoso em casas de repouso

por Elisandra Vilella G. Sé

Continuo neste artigo o tema sobre dosos que residem em instituições de longa permanência. Para ler o texto anterior – clique aqui.

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Uma questão importante é a interação social dessas pessoas no contexto das instituições. Sabemos que a capacidade de usar a linguagem socialmente nos dá a oportunidade de cumprir papéis sociais, modificando o ambiente e a si mesmo. Mas quando essa linguagem é afetada, surge uma barreira para as relações sociais entre o indivíduo e os semelhantes. Assim, o ambiente social deve dar atenção ao conteúdo e ao contexto do discurso dos idosos, pois isso implica a valorização das suas habilidades com a linguagem, habilidades essas que podem ajudá-los a ganhar autonomia para governar suas vidas.

A interação verbal atuando como um suporte social, pode ser relevante para o bem-estar físico e mental do idoso. Mas no caso do idoso que vive em instituições, como será sua comunicação, seu desempenho linguístico e suas interações sociais?

Essa é uma questão importante para levantarmos, uma vez que o contexto das instituições pode propiciar uma diminuição dos valores pessoais, da proximidade com amigos e familiares, dificuldades de laços afetivos, da manutenção de vínculos, fatores que definem muitas vezes o senso de identidade das pessoas.

Segundo o pesquisador da área de gerontologia CARSTENSEN (1995), na velhice a diminuição do número de parceiros sociais e a redução do contato social refletem a relativa perda de significado de algumas metas e do significado das emoções na vida do idoso. A redução do contato com os amigos é maior para os homens do que para as mulheres. O vínculo com irmãos parece fornecer uma proteção contra a depressão. O contato com filhos e netos é importante para o bem-estar subjetivo (avaliado por ele).

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A motivação por interação social pelos idosos é mais voltada para vivências de emoções, ou seja, manter redes de relações que lhes deem mais prazer, do que motivada pelo vínculo de filiação (relações com familiares) ou busca de informações.

Outros pesquisadores de gerontologia, RYFF e SINGER (2001) afirmam que os relacionamentos sociais são a maior fonte de felicidade, ajudando no controle do desprazer e na manutenção da boa saúde. Ao estudarem as emoções e as relações sociais no envelhecimento, procuraram entender os mecanismos pelos quais as relações contribuem para o bem-estar emocional e que tipos de interações são mais satisfatórias.

Os autores concluíram que as relações em que as pessoas estabeleciam uma ligação mais segura e duradoura e experimentavam afetos positivos estavam mais associadas com o alto bem-estar afetivo. Já pessoas que tinham ligações inseguras ou que evitavam contatos demonstraram baixos níveis de bem-estar emocional.

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Poucas pesquisas têm investigado o impacto do contexto social e ambiental sobre o autoconceito de indivíduos idosos. Porém, estudos dessa natureza tornam-se de suma importância para a gerontologia, para a psicologia do envelhecimento e às neurociências, pois domínios cognitivos e afetivos constituem o autoconceito dos indivíduos. Ou seja, como a pessoa autoavalia sua qualidade de vida, seus níveis de satisfação, de felicidade.

RYFF e SINGER (2001), também estudaram as consequências do ambiente sobre o autoconceito e a autoestima em 60 idosos institucionalizados e 60 não institucionalizados e verificaram que o grupo de sujeitos institucionalizados tinha autoconceito mais negativo e pior autoestima do que os não institucionalizados.

Conforme afirma PRETI (1991), as instituições de longa permanência para idosos muitas vezes não proporcionam uma adequada integração entre eles e servem para condená-los a uma vida isolada, silenciosa e introspectiva.

BRAZ et al. (1996), dizem que as instituições para idosos constituem-se num ambiente de comunicação deficiente. Em estudo voltado para a análise da influência do fator institucionalização sobre o funcionamento psíquico de idosos, concluíram que a institucionalização interfere negativamente nas vivências afetivas desses indivíduos. Os idosos asilados que permanecem inativos têm seu potencial intelectual diminuído e sua criatividade e relacionamento social afetados. O isolamento social priva o velho de importantes apoios emocionais e físicos.

Embora saibamos que nem todas as casas de repouso apresentem um ambiente desfavorável, deficiente ou desestimulante para os idosos e esses apresentam diferentes formas de adaptação ao contexto institucional. É importante alertar para que instituições que privam os idosos de práticas interativas conduzindo à vida introspectiva, isolada, com poucos contatos sociais, sem estímulos e interações, com uma rotina formal e muita rígida, podem tornar essas pessoas mais vulneráveis à depressão; com maior risco para desenvolvimento de doenças que comprometem a cognição.

Um aspecto importante a ser ressaltado é que transtornos depressivos em idosos podem dificultar a prática do cuidado e aumentar o estresse de cuidadores. Assim, torna-se relevante criar estratégias facilitadoras para promover um envelhecimento com qualidade nas instituições e na comunidade.

Pessoas envolvidas com o cuidado dependem de suas habilidades comunicativas para serem capazes de informar e compreender os idosos. Entender o seu universo, seu mundo, sua vida, seus anseios, desejos, alegrias e dores. O mundo e a vida são um só e processo mental é vida.