Exercite o desapego e seja feliz

por Roberto Goldkorn

Tenho recebido muitas mensagens de leitores pedindo orientação em relação a ideias fixas, quase sempre mórbidas, negativas e que os aprisionam.

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Minha resposta invariavelmente se resume em uma única palavra: desapego. O desapego é o único antídoto eficiente para o medo de perder, que por sua vez está na origem de toda neurose da posse, que leva aos pensamentos angustiantes, etc.

Porém, paradoxalmente, são os mais sedentos de posse e poder, os mais egoístas e egocêntricos, que conseguem ter sucesso no mundo dos negócios. São aqueles cujo ego é movido a combustível de foguete e os impulsiona para frente e para o alto turbinado pelo desejo intenso de conquista, muitas vezes na vã ilusão de preencher seus buracos negros com suas posses.

Os poucos que chegam “lá” e podem usufruir das benesses do sucesso e do poder, vivem assombrados pelo fantasma da perda de seu status. Aqueles que ainda não chegaram (a imensa maioria) também são assombrados pelos mesmos fantasmas, e mais ainda: as assombrações do “nunca conseguirás!”

A mulher de um grande empresário me revelou que, abalado por um alto endividamento, seu marido acordava apavorado à noite e, chorando se encolhia todo feito bebê ao lado dela. Soluçando, implorava-lhe que dissesse que eles não iriam perder a mansão, a fazenda ou ficar pobres.

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Outro empresário, durante uma consulta me perguntou pelo menos dez vezes se eu achava que ele iria recuperar a BMW que teve de vender em meio a uma crise. Outro cliente me mandou uma mensagem dizendo que estava apaixonado por uma mulher com nunca antes esteve na vida. Um mês depois mandou outra mensagem dizendo que estava sem dormir e à base de remédios, porque o medo de perder seu grande amor o paralisava completamente, ele disse: “Não consigo nem imaginar o que aconteceria se ela terminasse comigo, ou se eu a visse com outro.”

Nunca mais me esqueço de um cliente que não conseguia mais trabalhar no banco, porque vivia achando que seu coração iria parar a qualquer momento. De cinco em cinco minutos levava a mão ao peito para sentir se o coração estava batendo.

A minha resposta é insistentemente: Entenda profundamente que nada aqui lhe pertence, nem a riqueza, nem o amor, nem mesmo o seu corpo e a sua vida física. Tudo é alugado, está com você em regime de comodato.

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Isso não quer dizer que a vida não mereça o seu empenho, o seu esforço, ao contrário. Mas é preciso mudar por dentro o botão conceitual. O medo de perder, aquilo que na verdade não possuímos, ou pior querer ter aquilo que já temos é a grande razão da angústia, e das neuroses que apavoram tantas pessoas e geram o medo paralisante.

Lembro-me quando o meu livro Falando com os Anjos se tonou um best-seller e ganhei um bom dinheiro, comprei logo um carro importado e top de linha. Fiquei obviamente todo vaidoso, mas logo o sinal vermelho acendeu e toda vez que elogiavam o carro, eu dizia: “Não é meu não, está emprestado, pertence aos Anjos.”

Compreendo é claro que o amor quando bate firme na nossa porta nos enfeitiça, é bom demais e a gente quer preservar aquele sentimento maravilhoso. Compreendo que o dinheiro traz vantagens e facilidades que só quem o possui pode imaginar. Compreendo ainda que o poder, a fama, o prestígio nos eleva acima da vala comum dos simples mortais, e acabamos esquecendo que somos apenas simples mortais.

Quando a vida nos resolve ensinar alguma lição do seu curso avançado, se não tivermos construído um castelo dentro, ficaremos desalojados de tudo que parecíamos ter ou ser.

O medo dos meus clientes tem sua razão de ser. Essas pessoas se esbaldam comprando acessórios de última geração para seu carro com chassis e motor do século passado. É preciso cuidar do que está dentro, mudar o motor e os chassis, entender de verdade que “ninguém é de ninguém e na vida tudo passa” como dizia a letra da velha canção que minha mãe cantava para mim. Tenho me esforçado. Um dia eu aprendo.