Quando o casal possui ritmos sexuais diferentes; o que fazer?

por Marcelo Toniette

"Meu namorado tem compulsão sexual? Tenho um namorado que não consegue se controlar, ele precisa ter mais de uma mulher, faz sexo 3 a 4 vezes por dia, só que quando sai com outras mulheres se arrepende. Isso é compulsão sexual? Qual e como seria o tratamento?"

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Resposta: Um diagnóstico sobre o que o seu namorado atravessa depende de uma avaliação aprofundada de um profissional da área de psicologia ou de psiquiatria.

Muitas vezes, de uma forma distorcida, é chamada de compulsiva sexual aquela pessoa – seja homem, seja mulher – quando apresenta desejo intenso e/ou se envolve com muita freqüência em atividades sexuais.

Cada pessoa tem uma forma singular de expressão da própria sexualidade. Algumas pessoas têm o desejo mais intenso por sexo, outras nem tanto; algumas pessoas praticam sexo com muita freqüência, outras praticam sexo mais esporadicamente, ou até raramente.

É importante sempre levar em consideração que o contexto social em que uma pessoa vive influencia de forma marcante no desenvolvimento e na expressão da sexualidade. Vemos em nossa cultura ocidental patriarcal que o homem é muito estimulado para exercer a sua virilidade, nas inúmeras conquistas do sexo oposto, em um ampliado número de parceiras. Este é um dos motivos que muito homens compulsivos não procuram ajuda, pois muitos acreditam que “faz parte da natureza do homem”.

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Dentre os fatores relacionados à compulsão sexual, estão o aspecto orgânico, social, cultural, que fornecem subsídios para a forma de expressão sexual de uma pessoa. No entanto, o fato de uma pessoa ter elevado desejo sexual, ou mesmo que pratique sexo com elevada freqüência, não é decisivo para que seja diagnosticada enquanto “compulsiva sexual”. Vale lembrar que as mulheres também podem apresentar formas de compulsão. Devido às diferenças nas formas de expressão de ser homem e de ser mulher, as formas de apresentação da compulsão são as mais diversas.

Sinais de compulsão sexual

Em um quadro compulsivo a pessoa sente-se impelida em realizar determinado ato ou comportar-se de determinada maneira. No comportamento compulsivo a pessoa não consegue a satisfação almejada, o que abre espaço para a culpa, o arrependimento, a angústia, ao realizar os atos compulsivos. Existem vários tipos de compulsão, dentre elas, a compulsão sexual.

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Em uma visão geral, a compulsão sexual está relacionada com o fato de a pessoa ter recorrentes pensamentos e atos relacionados ao sexo, além de idéias, imagens, impulsos, que a pessoa não consegue resistir. A pessoa acaba desenvolvendo uma série de atitudes, muitas vezes repetitivas – ex. “tenho que transar ao menos quatro vezes ao dia”… –, sendo que muitas vezes esse quadro é acompanhado de ansiedade ou depressão. Deste modo, o comportamento sexual compulsivo leva a algum tipo de sofrimento emocional, podendo acarretar prejuízos interpessoais, ocupacionais, familiares e até financeiros. Em termos gerais, em uma perspectiva pluralista, a expressão sexual é saudável desde que não traga prejuízos para outras pessoas e para si.

Converse com seu namorado sobre as suas preocupações e, caso julgue necessário, que consulte um profissional – um/a psicólogo/a, ou um/a psiquiatra – a fim de realizar uma avaliação pormenorizada do caso. Agora, um tema que deve ser posto em pauta é quanto ao uso da camisinha nas relações sexuais a fim de preservar a ambos de uma gravidez indesejada, ou mesmo de doenças sexualmente transmissíveis.

Meu namorado quer sexo o tempo todo
Namoro há quatro anos e gosto muito do meu namorado. Porém, sinto-me muito incomodada com o fato dele sempre me procurar o tempo todo para fazer sexo. Ele fica me tocando e tentando me estimular. Ele me deixa sem espaço para procurá-lo…  Isso está me fazendo perder o tesão. Já tentei conversar com ele, mas não adiantou. Jogo umas piadinhas dizendo que temos que morar em casas separadas para eu conseguir tomar meu banho sossegada…Mas a "ficha não caiu". Não sei se o problema é dele (obcecado por sexo), se é meu (perdi a vontade de fazer sexo com ele) ou se é do nosso relacionamento

Resposta: “Ele me deixa sem espaço para procurá-lo”… Você mostra na sua pergunta que existe um descompasso entre o seu desejo sexual e o de seu namorado, a ponto de você sentir-se incomodada com a freqüência sexual.

Agora, repare como você vem administrando o seu próprio espaço. Aos poucos você foi cedendo, cedendo, e, agora, até o seu próprio desejo foi abalado. O sexo, que espera-se ser algo gratificante e prazeroso, se torna enfadonho.

Você se questiona se é um problema dele, pelo fato dele querer muito sexo; se o problema é seu, por ter perdido o desejo por ele; ou se o problema é do relacionamento. Que tal deixar os problemas e as causas de lado e focar um pouco mais naqueles pontos em comum entre você e o seu namorado? Que tal focar naquele lado bom que aos poucos foi se esvaindo da vida de vocês? Resumindo, que tal focar na solução?

A parte sexual pode não estar tão satisfatória, pois pode ser reflexo do que está acontecendo entre vocês dois. O encantamento, aquela sensação gostosa e gratificante de estar com quem amamos, é fundamental para administrar as diferenças. Esse encantamento é conquistado no dia-a-dia, em um clima de parceria, de cumplicidade, de comprometimento, além de muita ousadia.

Você diz que faz piadas, no sentido de “dar um toque” para o seu namorado. Mas você é testemunha de que “a ficha não caiu”. Ou seja, esse não é o melhor caminho. Seu namorado precisa saber o que se passa com você, até mesmo para auxiliá-la a retomar o desejo e ter prazer na relação. Piadinhas não funcionam, pois seu namorado não necessariamente compreenderá o sentido da piada. Sugiro que você reflita sobre o seu receio de falar com mais clareza e objetividade sobre seus sentimentos. Lembre-se que quanto mais você se sufocar, mais será a tendência de ter menos desejo e, por sua vez, ter menos prazer na relação.

Caçar problemas nem sempre resolve a situação, muitas vezes complica ainda mais. Que tal vocês usarem isso a favor da relação? Você diz que ele gosta de estimulá-la. Que tal você mostrar a ele formas que gosta de ser estimulada? Que tal mostrar a ele formas que você gosta de estimular? Que tal expressar quando e de que forma você precisa de espaço?

O bom entrosamento do casal depende muito da comunicação. Não entre naquela armadilha de achar que pelo fato de vocês estarem há quatro anos namorando, que um já sabe tudo o que o outro gosta, já estão acostumados. Não caiam nessa! Conquistem-se no dia-a-dia, valorizem o “papo de cama”, ou mesmo aquela saidinha a dois. Isso pode ser valioso para que vocês se conheçam mais e para que a relação se torne cada vez mais gratificante e fortalecida. Uma relação acontece entre duas pessoas, em uma via de mão-dupla, se autorize e cuide bem do seu espaço, ok?

Meu marido diz ter indisposição para sexo, mas se masturba com freqüência
Sou casada há dois anos. Até 6 meses atrás a minha relação sexual com meu marido era algo que parecia irreal de tanto excitante, ambos conversamos várias vezes sobre o assunto. A nossa freqüência sexual caiu muito, sem falar na qualidade que também já não é a mesma. Fico insistindo para que ele me dê um motivo para tanta mudança. Sinto muito mais vontade de fazer sexo do que ele, pois sempre estou à disposição querendo sexo e ele nunca quer… Já me disse que é devido a problemas, mas não acredito tendo em vista que por diversas vezes ele se masturba antes de ir dormir e ao chegar na cama diz que está indisposto para sexo. Como é possível?

Resposta: Em uma relação a dois, nem sempre os parceiros apresentam a mesma intensidade de desejo sexual. E isso pode variar muito de acordo com o estado emocional e com diversos outros fatores vivenciados por um parceiro ou por ambos, com estresse, excesso de trabalho, problemas de ordem financeira, entre outros.

A masturbação é uma forma de obtenção de prazer. Esta prática é presente não só na vida de pessoas solitárias, mas também na vida de pessoas casadas o que, em si, não se constitui nenhum problema. Se uma pessoa se masturba e alcança o orgasmo, a sua disponibilidade para engajar-se em atividade sexual torna-se diminuída.

Creio que seja neste ponto que a situação lhe incomoda. A relação de vocês dois está polarizada. Por um lado você está “sempre à disposição querendo sexo”, e, por outro lado, seu marido está “indisposto para o sexo”, até mesmo por ter previamente conseguido sua satisfação sexual.

Na sua pergunta você coloca que “insiste” para que ele dê respostas sobre o motivo de ter diminuído significativamente a freqüência sexual, que era intensa. Uma relação a dois é um espaço onde espera-se encontrar afeto, cumplicidade, comprometimento, intimidade. A cobrança, seja de você em relação ao seu marido, seja cobrança dele em relação a você, somente vai tornando mais frágil a sustentação da relação. Por quê? A cobrança gera o “ter que”. Imagine ter que ter desejo, ter que transar, ter que conversar, ter que se divertir… O ter que, na forma de cobrança, limita o sentir, aliás, é difícil imaginarmos a situação de ter que ter prazer. O prazer é sentido, e temos o prazer quando estamos a fim de ter prazer.

Tente localizar o que aconteceu há seis meses que pudesse interferir no relacionamento de vocês, e que tenha levado o seu marido a começar a brincar sozinho. Esta atitude dele não está agradando a você, apesar de poder ser uma forma de “passar o recado”. Porém, sabemos que essas mensagens indiretas geram mais dúvidas do que esclarecimentos.

De nada vai adiantar você questionar ou cobrar seu marido. Insistir em respostas não está levando a lugar nenhum. Experimente falar dos seus sentimentos em relação a essa atitude do seu marido, sobre as suas dúvidas, sobre a sua insatisfação. Muitas vezes compartilhar os “problemas” alivia o peso. Mas veja se ele gostaria de fazer isso, e respeite a vontade e o tempo dele. Por outro lado, a sua vontade e tempo também estão em jogo.

É hora de juntar esforços. Você e seu marido assumindo posturas individualizadas abrem espaço para a cobrança, para o conflito, para a falta de desejo; é o ter que ocupando o lugar do a fim de. Juntem esforços para que, de uma forma afetiva, compartilhada, cúmplice, parceira, encontrem possibilidades de tornar a relação cada vez mais gratificante e prazerosa.

Atenção!
As respostas do profissional desta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um profissional de psicologia e não se caracterizam como sendo um atendimento