Médicos falam que a minha falta de libido é de caráter psicológico. O que fazer?

por Marcelo Toniette

Resposta: Nem sempre a falta de desejo está associada a causas psicológicas. A falta do desejo sexual também pode ser conseqüência de algum tipo de problema orgânico também. De acordo com a sua pergunta, presumo que você já passou por avaliação médica e foi descartado problema de ordem orgânica.

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Quando a causa é psicológica deve-se considerar a trajetória e as experiências da pessoa, o que facilita e o que funciona como um obstáculo para a vivência sexual, o estado e as condições de vida que a pessoa se encontra, entre outros fatores. Nem sempre existe uma causa específica para a falta de desejo, mas sim, a junção de uma série de fatores que influenciam não só na intensidade do desejo sexual, como também fatores que influenciam na vida da pessoa como um todo.

É muito comum as pessoas acharem que sexo independe de outras esferas da vida. O sexo, quase sempre, é um reflexo de como a pessoa se situa e onde é situada nas relações sociais, de como compreende e de como vive a vida. Se uma pessoa está com a auto-estima rebaixada, certamente isso se refletirá na sua resposta sexual (desejo, excitação, orgasmo) e na sua vida como um todo. Você consegue imaginar uma pessoa em estado depressivo com desejo sexual ou mesmo com desejo de exercer suas atividades rotineiras? Claro, esse é só um exemplo que não quer dizer que uma pessoa que não tenha desejo sexual está deprimida.

A intensidade do desejo sexual também está relacionada aos valores e padrões rígidos a respeito da sexualidade. Ainda existem pessoas que acham o sexo um pecado, algo sujo, algo indesejado, ou mesmo algo que deve ser feito apenas de um jeito específico para não ser julgado como um ato imoral. O resultado dessa limitação na percepção do sexo inevitavelmente refletirá na vida da pessoa.

Autocobrança

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Dentre os diversos fatores, também existe a autocobrança que é o mais comum nas dificuldades sexuais. A pessoa coloca-se no lugar daquele que já deveria saber determinadas coisas, que já deveria fazer isso ou aquilo. Quando a autocobrança é excessiva, a pessoa acaba se fechando, acaba perdendo aquele ânimo, acaba perdendo aquela disposição de estar no mundo, de experimentar o mundo, de viver a vida num constante ato de descobrir a cada instante, a cada contato com as pessoas, a cada contato com as coisas do mundo, a sutileza do sentir.

Que tal renovar sua forma de estar no mundo, de estar com as pessoas, de olhar mais positivamente o prazer, inclusive o sexual? Nada melhor do que se colocar no lugar do aprendiz. Isto mesmo, você não tem que se obrigar em saber ou em fazer nada que não queira. Simplesmente experimente “sentir” mais o contato entre você e as pessoas, o contato entre você e o mundo. O desejo (inclusive o sexual) vem destas sutis percepções e sensações do tocar e ser tocado, de autorizar-se a ser encantada pelo mundo e no mundo, naquele sentido que Clarice Lispector nos fala de que o “sentir” fornece mais sentidos do que o “entender”, pois, “viver ultrapassa qualquer entendimento”.

Em vez de “resolver” este momento que você atravessa, tente vivenciá-lo como parte de você, no sentido de ampliar possibilidades de experiência, sem cair na auto-cobrança de que você “deveria” ter ou não ter desejo, que você “deveria” ser deste ou daquele outro jeito… Mas também sem cair na mesmice, na apatia, ou na indisponibilidade de autorizar-se a viver o novo. Permita-se tocar mais e ser mais tocada não apenas pelo contato físico, mas também pelos cheiros, gostos, texturas, sons, imagens… enfim, de tudo isso que está à sua volta. Não permita-se viver na falta. Viver pode ser uma deliciosa e constante descoberta. Boa Sorte!

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