Desistir pode ser um bom sinal

por Patricia Gebrim

Olho pela janela da alma e lá está ela, a flor.

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Linda, exuberante na sua simplicidade, esplêndida pelo simples fato de ser quem é. A flor que desabrochou dentro de meu peito é branca, e a pureza desse branco tem colorido meus dias, perfumado minhas noites e embalado meu sono, sussurrando em meus ouvidos uma linda cantiga de gratidão.

A flor da paz se abriu inesperadamente em minha vida e tem conversado comigo diariamente. Sua voz é doce e nunca se cansa de ouvir minhas perguntas, tenta sempre responder da melhor maneira. Eu adoro o som de sua voz cristalina, que escorre em minha direção como a gotinha de orvalho que desliza pela vidraça em uma noite úmida de verão.

– Por que demoraste tanto para florescer?: perguntei outro dia.

Ao que ela respondeu:

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– Você não permitia. Só dormia. Dormia. Dormia.

E eu entendi. Levei muito tempo negando a mim mesma, tentando me encaixar, corresponder, tentando fazer sentido para aqueles que estavam ao meu redor. Levei tanto tempo procurando, por todos os cantos do mundo, por aquilo que já existia e esperava, pacientemente, dentro de mim.

Ah, se eu soubesse… Quanta energia teria poupado.

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Todos nós nascemos programados para "não ser". Essa é a maior armadilha desta vida que vivemos. Se ao menos, quando ainda caminhávamos cambaleantes em nossos primeiros passos, o mundo nos desse a liberdade e nos incentivasse a existir… Mas não! O que o mundo faz é nos agrilhoar e conduzir rigorosamente nossos passos, e é uma pena que seja, na grande maioria das vezes, para longe de nós mesmos.

Programados para não se permitir acessar o verdadeiro Eu

O mundo – na triste inconsciência de nossos pais, mestres e professores, eles mesmos ainda aprisionados e sem saber quem são – faz isso tanto e com tanta força que acabamos nos esquecendo de quem de verdade somos. Seguimos em frente, mas a nossa alma fica lá atrás, como uma semente de luz, adormecida, uma semente sagrada que contém todas as respostas, todos os mapas, todos os caminhos, todas as saídas, toda a vida.

Tudo isso, toda essa riqueza, toda essa beleza, fica lá, o tempo todo, disponível, no nosso íntimo, à espera de nossa atenção, a espera de nossa presença, pronta para desabrochar.

Mas estamos ocupados demais, cumprindo tarefas que os papéis que assumimos cobram de nós. Estamos ocupados demais ganhando dinheiro, sendo pais, mães, filhos, amigos. E a sementinha lá, dentro de nós, sedenta, esperando, esperando, esperando. Que desperdício.

O bom é quando finalmente nos cansamos. Acredite, se você está cansado de tudo, é um bom sinal. Se já cansou de buscar a felicidade nos relacionamentos, no trabalho, nas viagens, nas compras, nos seus filhos, nos estudos, nos projetos, nos esportes, no que quer que seja… Se já buscou por toda parte e não encontrou, isso significa que você está quase lá.

Você só pode encontrar quando desiste de buscar. Sabe por quê?

– Ouça: a busca é a ilusão.

A busca parte do pressuposto errôneo de que algo não está aqui. Isso não é verdade. Tudo já está aqui. Agora mesmo. Dentro de você. Onde sempre esteve. Não há outro lugar. Não há outro tempo. Nada falta. Respire fundo e tente sentir isso… Se você puder, nem que por um breve instante, a ilusão vai desmoronar bem em frente aos seus olhos. As prisões podem ruir num piscar de olhos, e lá, atrás dos muros, você vai encontrar. A sua flor. O seu perfume. A sua paz. O seu amor.

A "coisa" mais importante da vida é você!

Eu sei, parece apenas um jogo de palavras, simples demais, mas eu prometo que lhe falo com a maior seriedade. Desista dessa busca que está sempre afastando você do que é real. Pare. Você não precisa de mais nada. Nada está faltando. Isso terá que ser compreendido não com sua mente, mas com seu coração. E terá que ser vivido – um ESTADO de bem-estar que não pode ser traduzido em palavras. E uma vez que você sinta isso, nada, nunca mais, poderá afastar você de você mesmo.