Todos nós temos uma personalidade financeira

por Eliana Bussinger

Cada um de nós tem uma história com o dinheiro que determina uma personalidade financeira específica e, a partir daí, a forma como lidamos com dinheiro.

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Essa personalidade é como uma geografia própria, com mapas de desejos realizados e não realizados, rotas pretendidas, seguidas ou não.

A nossa história do dinheiro associa-se à nossa própria história pessoal, cheia de erros e acertos, de reviravoltas e suas incansáveis repetições.

Alguns eventos são tão marcantes que tornam-se eles próprios formadores de modelos mentais:

Você já soube de alguém que viveu durante a Grande Guerra, que foi um momento de tremenda escassez, e que por isso essa pessoa aprendeu a poupar, para nunca mais correr o risco de ficar sem nada?

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No Japão e em muitos países da Europa, há muita resistência com relação ao consumo exacerbado, porque a memória da escassez ainda está muito viva, mesmo nas gerações atuais que não viveram a guerra propriamente, mas receberam lições de frugalidade de seus pais e avós.

No Brasil, muitas pessoas que investiam na Bolsa de Valores, perderam muito dinheiro na crise de 1971 e ficaram traumatizadas. Nunca mais quiseram saber de investir na Bolsa.

Conheci pessoas que viveram em famílias onde o pai foi embora e a mãe não conseguiu manter o padrão de vida anterior à separação. As crianças mudavam constantemente de escola, de casa, enfrentaram tremendas dificuldades e hoje nenhum deles quer saber de ter filhos.

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Enfim, histórias há diversas que acabam moldando a forma como cada um irá agir com relação ao dinheiro na vida adulta.

Enfim, são muitos os fatores que nos influenciam e que determinam a nossa vida financeira, que acaba sendo escrita para cada um de maneira única e original.

Hoje, profissionais do mercado financeiro em muitos lugares do mundo, principalmente os conselheiros financeiros, estão buscando aplicar práticas comportamentais para entender essas formas de agir e reagir e, só depois, recomendar o uso de produtos e serviços financeiros específicos.

Mais e mais, as recomendações dadas por esses profissionais estão se baseando não apenas em renda, capacidade marginal de poupar, volume de investimentos, e outras variáveis de segmentação conhecidas no mercado, mas também utilizando-se de técnicas de observação de comportamento daqueles que procuram os serviços das instituições financeiras.

Hoje, quando abrimos uma conta corrente em um banco ou nos associamos a uma corretora, geralmente nos perguntam quanto ganhamos, qual o nosso CPF, RG, endereço, patrimônio, etc.

Mas a tendência será modificar inteiramente essa forma de abordar os clientes.

Você estaria emocionalmente preparada para responder às perguntas do seu gerente que fossem da seguinte natureza: O que a motiva em relação ao dinheiro? O dinheiro é amor ou ódio? É escassez ou abundância? O que é riqueza para você? Quem a ensinou a mexer com o dinheiro? Sua mãe era econômica ou perdulária? E seu pai? Quem cuidava das finanças da família fazia-o com desvelo, com cuidado, com esmero ou odiava fazer isso? Se você teve irmãos, seus pais falavam mais de dinheiro com os homens do que com as mulheres? Como as suas crenças ou mitos em relação ao dinheiro interferem em sua administração financeira? Você acha que o dinheiro é forte componente da sua felicidade? Você gostaria de conhecer um pouco mais sobre suas forças e fraquezas em relação à sua administração financeira? Quais são as habilidades que você tem que poderiam estar associadas ao sucesso financeiro? Você gosta de matemática? Em que medida o seu estresse é resultado da má administração financeira? Ou será que é o contrário? Você tem medo do mercado financeiro? Como você combate esse medo?

Do ponto de vista do dinheiro, é muito importante saber quem somos, quais os aspectos e fatos das nossas vidas que transformaram-se em crenças e em atitudes que são nossas rédeas, nossas bússolas ou até mesmo os filtros que influenciam nossas ações.

Mas o debate entre os estudiosos do comportamento não acabou. Para alguns, a sua personalidade é imutável. Você nasce, vive e morre com o mesmo tipo de personalidade. Para outros, no entanto, o nosso repertório comportamental pode ser mudado, transformado, adaptado e refinado.

Mas seja qual for a sua personalidade, mutável ou não, a sua história financeira é você que escreve.

Nós somos os autores da nossa história com o dinheiro. E se nós a escrevemos, será que como tal, não podemos de fato reescrevê-la?