Não se deve dar castigos corporais às crianças – Parte I

por Luiz Alberto Py

Frequentemente pais me perguntam sobre a conveniência e o acerto de se usar castigos corporais com seus filhos e quais os tipos de castigos adequados, se é que eles existem. Segundo um importante relatório do Laboratório de Investigações Familiares da Universidade de Hampshire (EUA), os castigos corporais às crianças poderão causar-lhes problemas sexuais na adolescência e na idade adulta.

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A análise de quatro relatórios sobre castigos corporais de pais a filhos revelou uma vinculação entre sofrer castigos corporais e o surgimento, na adolescência ou na idade madura, de três problemas sexuais: violência física nas relações sexuais, sexo sem preservativo e sexo masoquista. Esses resultados, juntamente com mais de 100 outros estudos, sugerem que o castigo corporal origina relações sexuais violentas e problemas de saúde mental.

Os investigadores afirmam que a prevenção da relação sexual violenta é fundamental e dizem que os problemas de saúde mental e a violência nas relações sexuais podem ser prevenidos através de uma recomendação de que nunca se aplique castigos corporais às crianças.

A educação é de uma importância transcendental e de grande responsabilidade para os pais. Há no mundo muitos homens que se lamentam de desgraças devidas a faltas e descuidos dos seus pais. Em educação, como em tudo na vida, recolhe-se aquilo se semeou. É necessário inculcar nas crianças – gradualmente, à medida que elas vão sendo capazes de assimilar – a limpeza, a ordem, a obediência, o sacrifício, a lealdade, o espírito de serviço, a honradez, o saber renunciar, etc. E habituá-los a portarem-se bem em todos os lugares, a praticarem o bem embora seja penoso, a fugirem do mal ainda que seja sedutor, espontaneamente e por iniciativa própria, mesmo que ninguém vigie nem castigue.

Quando forem mais velhos, será muito difícil que adquiram virtudes que não foram semeadas neles quando eram pequenos. As crianças, para seu bom desenvolvimento, precisam de carícias desde a primeira hora. Fizeram-se estudos e verificou-se que crianças atendidas perfeitamente nas suas necessidades vitais, em centros especializados, mas com falta de carinho, mostraram anormalidades características.

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Crianças mimadas

A alegação de que é preciso evitar que as crianças sejam mimadas é correta. A criança mimada torna-se caprichosa e pouco sociável. Isso virá lhe trazer problemas de aceitação entre os companheiros na escola, e irá dificultar a sua maturidade psicológica. Está comprovado que a criança que é bem aceita pelos companheiros, pelas suas qualidades pessoais, tem uma grande percentagem de probabilidade de um bom amadurecimento psicológico no futuro. Os filhos não devem ser mimados, mas também não os devemos castigar sem razão.

Castigo é inevitável

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O castigo é inevitável, pois é moralmente impossível que as crianças não cometam alguma falta que o requeira: "Sem castigo não há educação possível", afirma um dos mais célebres pedagogos da nossa época, Foerster. Mas ao castigar é necessário evitar sempre a violência corporal. Outras formas de castigo são mais educativas e eficazes. E devem ser sempre:

a) Oportunas: escolhendo o momento mais propício para ser imposto, depois de passada a ira em pais e filhos.

b) Justas: sem exceder os limites do que é razoável.

c) Prudentes: sem nos deixarmos levar pela ira.

d) Carinhosas na forma: para que a criança compreenda que o castigo lhe é dado para seu bem. Não somos eficazmente castigados senão por aqueles que nos amam e a quem nós amamos.

O castigo corporal gera revolta, rancor, diminuição do sentimento de honra. Nas meninas, o castigo corporal debilita o sentimento da intocabilidade corporal, tão precioso para o recato da sua vida futura. Mais eficazes do que o castigo corporal são atitudes como pôr a criança para comer sozinha numa mesinha, virada para a parede, ou privá-la de uma manifestação de carinho habitual, ou de um doce que lhe agrade, ou do dinheiro que se lhe costuma dar. Depende de idades e de circunstâncias.

O castigo deve facilitar à criança o caminho da honradez, da obediência, da aplicação, etc., para fazer dela um homem moral. O castigo, mais do que para pagar pela falta cometida, deve servir para a correção. Para que assim seja, não é necessário que a criança reconheça a falta e a justiça do castigo. O castigo tem muito mais valor quando a criança o aceita voluntariamente, ou quando é ela mesma quem o impõe. Depois de aplicado o castigo, se deve fazer as pazes com a criança logo que possível. É preciso ter tato para corrigir com eficácia. Pouco se consegue com apenas ferir e humilhar. É preciso animar. Despertar o sentido da própria estima.

Uma correção eficaz deve deixar sempre aberta uma porta à esperança de superação. A autoestima é fundamental para a saúde mental e devemos proteger ao máximo a criança das lesões na mesma. É preciso ter cuidado para que o castigo não corresponda ao nosso mau humor, mas sim à gravidade da falta e à responsabilidade da criança. Depois de a criança ter reconhecido a culpa, e de o castigo ter sido aceito, é muito pedagógico diminuir esse com a promessa de emenda.