Infidelidade, um outro olhar

Falar de infidelidade é ter a sensação de estar mexendo em uma temática que gera uma série de questionamentos pessoais e relacionais. Atinge-se conceitos morais, sexuais, antropológicos, filosóficos, religiosos e muitos outros.

O artigo anterior a esse abordava o mesmo assunto e a linha de pensamento era de refletir sobre a traição a partir de um fato ocorrido. Foram recebidos aproximadamente 500 e-mails de leitores que manifestavam-se a respeito de como aquela leitura havia atingido o universo de cada um. Infelizmente não era possível entrar em contato com todos devido à grande demanda, mas em muitos lidos haviam variadas colocações e manifestações, ora divergentes ora semelhantes.

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A grande maioria das mensagens que foram acessadas (mais de 80% das lidas), eram depoimentos que compartilhavam situações em cenas de infidelidade com pessoas que traíram ou que foram traídas. Descreviam suas sensações e experiências que obtidas a partir desses papéis, as suas conseuüências e os desfechos. Eram compartilhamentos de emoções variadas envolvendo dor, raiva, rancor, arrependimento… Enfim reflexões de como puderam passar por essa fase de suas vidas. Eram muitos os leitores que se identificavam com o artigo, representando uma incidência considerável desse comportamento.

Abordar essa temática tão frequente nos leva a buscar compreender qual o sentido que está por detrás dessa postura e a necessidade de encararmos situações que nem sempre são de felicidade. Isso não tem o mesmo sentido de estar fazendo apologia à infidelidade, mas sim poder refletir a partir desse ângulo em um posicionamento crítico de como uma cena tão temida como a infidelidade e tão presente, ainda tem uma posição de silêncio inabalável.

É de conhecimento de todos que muitos casais estabelecem seus vínculos em uma firme relação de total fidelidade e que a traição não foi e nem provavelmente será tema dessa relação. A infidelidade não é eminente a todos. Existem outros dissabores em uma relação homem/mulher como dificuldades econômicas, filhos adolescentes, perdas significativas, sexualidade dos filhos, dependências químicas, que são situações que podem também estremecer o relacionamento e trazer rumos muito danosos e às vezes irreparáveis à relação.

O que se perguntar depois de uma traição quando a poeira baixar?

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Porém, quando a traição é constatada, quando se rompe um contrato afetivo ocasionando danos emocionais, ela deve ser encarada como uma situação de balanço e de reflexão para ambos os lados. Em algum momento os indivíduos envolvidos deverão parar para algumas questões do tipo:

1ª) Valeu a pena?

2ª) Trouxe-me crescimento?

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) Quero me separar?

4ª) A traição aconteceu pela dificuldade de nos amarmos?

5ª) Qual é o significado desta traição para cada um de nós?

6ª) Agora seria o momento de concretizar situações desejadas (planejadas)?

Olhar para a infidelidade por esse ângulo, depois de ter passado o constrangimento, a dor, a vergonha, a indignação é uma maneira de questionar o próprio papel na relação e a possibilidade de enriquecer o seu script de vida.

A relação homem/mulher precisa de cuidados constantes e há sinalizações que são verdadeiros chacoalhões de que a relação está descuidada. As situações que são vivenciadas com dificuldades, são muitas vezes as merecedoras de mudanças significativas.

Não se recomenda a infidelidade como forma de mudança, assim como não se recomenda que uma família tenha um filho drogado, porém muitas vezes essas situações estão presentes e não podem ser desmerecidas ou ignoradas.

Fonte: Marisa Micheloti – psicóloga