Ensinar cidadania à criança é dever dos pais

por Ceres Alves Araujo

Na etimologia, a palavra cidadania vem do latim civitas, cidade. O habitante da cidade, no cumprimento de seus deveres, é um indivíduo de ação, estabelecido na cidade moderna e que convive em sociedade. A cidadania refere-se à qualidade de cidadão.

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Preparar o cidadão para o exercício da cidadania precisa ser um dos objetivos da educação de um País e ensinar cidadania aos filhos é um dever dos pais.

Ainda que o ser humano tenha como uma característica básica ser gregário, pois ele só desenvolve vida mental na relação com outros seres da mesma espécie, a criança nasce, dotada, sem dúvida da possibilidade da intersubjetividade, mas vive, nos primeiros tempos da vida, centrada em suas próprias necessidades e desejos.

Primeira noção de cidadania: a criança entender que não é o único centro de interesses da família

Pais de bebê, prontamente atendem seu filho, até adivinham o que ele precisa. Entretanto, com o crescimento é fundamental ensinar à criança que ela não é o centro único de interesses da família, mas que ela convive em um sistema familiar, onde as necessidades e os desejos dos outros têm sua vez também. Esse é o ensinamento que dá fundamento à noção futura de cidadania.

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Aprendendo a adiar a satisfação imediata de suas necessidades, a lidar com a frustração de desejos que não podem ser logo atendidos, a criança passa a perceber o outro e a levar em consideração o que o outro precisa e quer. Quando isso acontece, ela torna-se capaz de fazer trocas afetivas, de desenvolver condutas interativas, de ter condutas de cooperação, de ser sensível às alegrias e às dores das outras pessoas. A criança ganha a qualidade da solidariedade.

As condutas interativas dizem respeito à interação com pessoas e situações. Quando a criança é capaz dessa forma de conduta, surge verdadeiramente a cidadã. Ela não é mais um sujeito absorvido por si e para si mesmo, mas é alguém participante de vida de comunidade, primeiro da família, depois da cidade e do mundo.

O papel dos pais continua, na necessidade de darem aos filhos o modelo de cidadão, ensinando assim valores e princípios. O modelo de cidadão é aquele que não é omisso às necessidades da cidade onde vive, mas que se julga no poder de agir na cidade. Os problemas da cidade dizem respeito a todos os cidadãos, pois cidadania não combina com omissão e individualismo. Relações de reciprocidade são esperadas no convívio na cidade.

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Muitos de nós vivemos hoje em megalópoles. A densidade demográfica de nossas cidades aumentou muito nas últimas décadas. Temos no nosso País, cidades espraiadas na sua grande maioria, onde a mobilidade é um enorme transtorno, onde os equipamentos públicos, como praças, parques e outros lugares de lazer institucionalizados são incipientes. A infraestrutura urbana coletiva é pobre e, nessa situação, fica difícil a vivência da cidadania.

Quem usa o espaço, habita o mesmo. O tipo de uso desse espaço será determinado pelos valores da população que o utiliza. A identidade de uma cidade é a identidade de seu usuário ou de seu uso. Portanto, é preciso ensinar cidadania às nossas crianças.

Não se trata apenas de plantar árvores, economizar energia, poupar água, preocupar-se com a poluição, não jogar lixo nas ruas etc. É mais: as crianças precisam aprender com seus pais a tomar conta da cidade que é sua, de suas ruas, dos bens coletivos como tomam conta de seus brinquedos e de suas casas. Têm muito o que aprender. Como seres urbanos, as crianças devem ser sensibilizadas à beleza que está à sua volta. Podem ser estimuladas, por exemplo, a apreciar a floração das árvores com as mudanças das estações que colorem a cidade. Precisam ser incentivadas a amar a cidade que habitam e a tomar conta dela. E isso é ser um verdadeiro cidadão.

"A cidade é a casa, a casa é a cidade" escreveu o arquiteto brasileiro Vilanova Artigas.