Shinyashiki revela como buscar o sucesso sem estresse

por Angelo Medina


Roberto Shinyashiki: 'É preciso entender que é possível ser feliz com o que se tem e se é
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Nesta entrevista ao Vya Estelar, o escritor Roberto Shinyashiki diz como lidar com a obcecada busca – luta – pelo sucesso e alerta sobre os perigos desse caminho. Ele diz o que é na prática ser uma pessoa heroica.

Você é muito mais sensacional quando se permite ser simplesmente você. Esta frase é o mote de seu novo livro 'Heróis de Verdade' (Editora Gente), que combate a supervalorização da aparência. Por esta via ele argumenta que o caminho para o sucesso pode ser mais natural e simples do que se imagina, mas desde que se liberte da hipnose do condicionamento social, onde se busca copiar modelos bem-sucedidos. Em suas recentes entrevistas, tem dito que falta ao Brasil competência e não autoestima.

Há 20 anos no mercado editorial, Shinyashiki publicou 11 títulos e já vendeu 6,5 milhões de livros.

Vya Estelar – Por que muitas pessoas têm obsessão ou mesmo compulsão pelo sucesso?

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Roberto Shinyashiki – A sociedade vive hoje quatro loucuras. A primeira é a do sucesso – e não é qualquer sucesso, mas o que a sociedade determina. A segunda é ser feliz todos os dias e de preferência nas 24 horas do dia. E não é qualquer felicidade, é a felicidade da alegria, de estar sorrindo todo o tempo. A terceira é a do consumo, de adquirir tudo o que se tem vontade. A quarta é ter um único jeito de fazer as coisas. Nessa perspectiva, não há jeito para criar. Se morou junto, tem de casar. Se casou, tem de ter filhos. Não há espaço para ser diverso, para ser você. E isso bate com as fraquezas das pessoas. Minha dica: procure sempre se aprimorar em suas ações, mas não gaste a sua energia querendo mostrar que é maravilhoso e sensacional o tempo todo. Certamente você é muito mais sensacional, quando se permite ser simplesmente você. Sem querer impressionar ninguém, muito menos querendo mostrar o que não é…

Vya Estelar – Como não cair nessas quatro loucuras?

Roberto Shinyashiki – O primeiro desafio é não deixar a sociedade definir quais são nossas metas. É preciso olhar para dentro de si e definir o que realmente é importante. Há muitas mulheres, por exemplo, que trabalham intensamente, correm para pegar o filho na escola e levar para casa… Eu pergunto: o que essa mulher quer? E você responde: participar da vida do filho. Para isso, pegar o filho todo dia na escola não é importante. É preciso entender que há pessoas em que se pode confiar, com as quais se pode compartilhar vontades e necessidades. Nesse caso, volta-se a pertencer à raça humana e resolve-se o segundo desafio, que é justamente se aproximar da realidade. O terceiro é ter retorno sobre as ações e evoluir.

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Vya Estelar – Como lidar com o ideal de perfeição?

Roberto Shinyashiki – Todo mundo erra, mas faz pose de bacana. As pessoas machucam quem amam, mas sempre têm uma justificativa na ponta da língua. É muita arrogância. Falta humildade. Se a gente observar, as relações não andam, as famílias estão fragmentadas, as carreiras das pessoas se sustentam abaixo de muita pressão. Nas empresas, todo mundo sabe o que precisa ser feito e acha que sua proposta tem de prevalecer. E só há uma forma disso se estabelecer, que é destruindo as relações, os núcleos e a confiança das pessoas. No fim das contas, quais são as pessoas que acabam dando certo? Aquelas mais simples, que constroem suas vidas com significado, baseadas nos sentimentos do coração, sem a preocupação de competir e ganhar do outro sempre. Vivem sua essência. Não são os heróis que vemos na televisão ou nas revistas, que estão sempre certos e são infalíveis. São pessoas como eu e você.

Vya Estelar – Como se tornar um herói na sua essência?

Roberto Shinyashiki – Definir o que é importante para a vida, voltar para a raça humana, não se isolar. O herói de verdade faz sempre o seu melhor. Não porque alguém vai lhe aplaudir, mas para que cumpra sua missão. Ele procura realizar todo o seu potencial, porque sabe que é uma pessoa especial e que merece ser feliz e se realizar. Ele se preocupa mais com sua consciência do que com sua imagem. A consciência é o que você é, enquanto sua imagem é o que os outros pensam de você. Portanto, se você seguir sua consciência, as pessoas vão perceber que você é um herói de verdade.

Vya Estelar – O que as pessoas podem fazer para que passem a existir dentro de suas vidas, num dia que só tem 24 horas?

Roberto Shinyashiki – Vivemos hoje a sensação de lutar, lutar, e ainda assim não dar conta de tudo o que precisa ser feito. As pessoas trabalham como loucas, mas nunca conseguem o retorno desejado. Amam seus filhos, mas se sentem culpadas por não estar com eles tanto quanto gostariam. Amam o companheiro, mas não têm energia para desfrutar desse amor após uma longa jornada de trabalho. Desejam permanecer atualizadas, mas não conseguem ler os livros e as revistas que compram. O sentimento que fica é de um eterno devedor. E o resultado disso? Quanto mais as pessoas sentem esse vazio, mais o preenchem com imagens. Querem ser super-heróis. Prevalece o "eu sou o máximo", "eu sou sensacional", "eu sei de tudo", como se nunca cometessem erros. Ninguém consegue ser o máximo e acertar o tempo inteiro. É preciso fazer o que é importante para si.

Vya Estelar – Como não sermos vulneráveis às pressões do dia a dia?

Roberto Shinyashiki – É preciso entender que é possível ser feliz com o que se tem e se é. Eu digo, com todo carinho do meu coração: da mesma maneira que é importante tirar das suas costas o peso de ser algo que você não é, também é importante tirar esse peso dos ombros de quem está a seu lado. Aliás, nem precisamos ser o que não somos, nem precisamos ser perfeitos no que queremos ser. Ser muito bom já é suficiente. Temos de ser bons naquilo para o qual temos talento, o que não significa nos exigir sermos maravilhosos o tempo todo.

Vya Estelar – E se aparecer uma insegurança perturbadora, em função das pressões e exigências. O que fazer?

Roberto Shinyashiki – Tenho percebido que chega um momento na vida em que as pessoas tomam uma decisão: vou seguir a minha essência e terminar um casamento que não tem amor, vou seguir a minha essência e casar com a pessoa que eu realmente amo, vou seguir a minha essência e termino essa relação às vésperas do casamento ou mantenho as aparências porque já enviei os convites, vou ficar casado porque é o pai ou a mãe dos meus filhos… Nesse caso, a pessoa larga a essência e segue as aparências. Então, finge tesão por alguém que não desperta mais interesse, finge romantismo num casamento sem magia. Só que manter as aparências custa um preço muscular e neurológico. Isso desgasta até a depressão. A saída é justamente organizar a vida e viver a essência.

Vya Estelar – O senhor incentiva as pessoas a resgatar a sua essência e agir de acordo com a sua alma. Na prática o que seria isso?

Roberto Shinyashiki – É construir uma vida com significado, baseada nos sentimentos do coração, sem a preocupação de competir e ganhar sempre. Precisamos entender que é possível realizar nossos sonhos, estimular as outras pessoas a também realizarem os seus e construir um mundo de paz.

Vya Estelar – Na filosofia hindu tudo o que buscamos para satisfazer o ego ou os cinco sentidos é ilusório. O que o senhor acha dessa filosofia?

Roberto Shinyashiki – Para a cultura hindu, tudo na vida é maya, que significa ilusão. Tudo é aparência. Pois como diria Saint Exupéry, "o essencial é invisível aos olhos". A sociedade moderna tem procurado satisfazer os sentidos sem se preocupar em satisfazer a alma e isso é preocupante. Pois o aumento da depressão mostra que esse estilo de vida não está satisfazendo muitas pessoas.