Tolerar nossos erros nos ensina a respeitar nossas emoções

por Emilce Shrividya Starling

Errar é inevitável e todos nós podemos cometer algum engano em algum momento. Admitir nossos erros nos ajuda a nos respeitar e nos aceitar como seres humanos em um constante aprendizado.

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Por que achamos que sempre temos razão? Por que sentimos prazer em dizer : “Eu não lhe disse”? “Eu estava certa sobre isso…”

Por que é tão difícil admitir nossos erros?

Porque ao admitir um erro incomodamos o ego negativo que sempre quer estar no controle e no poder. Para o ego, admitir o erro está associado à fraqueza ou ignorância.

Porém, pelo contrário, ter a atitude de aceitar que falhamos, mostra que somos fortes e ao mesmo tempo, humildes. Ser humilde não é humilhar-se. Ser humilde é compreender que somos imperfeitos. É aceitar nossa própria natureza, com tolerância e bondade.

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Não é ser conivente com nossos erros, mas aprender com eles, com paciência e caridade conosco.

Quem não admite seus erros, alimenta cada vez mais o ego negativo que fica sempre na defensiva, sem querer aceitar que errou. Torna-se agressivo e sempre coloca a culpa nos outros, na vida, nos acontecimentos.

Como não tolera os próprios erros, não tolera também os erros dos outros e está constantemente cobrando e reclamando. Torna-se rígido, autoritário, inflexível, difícil de se conviver, pois não aceita nem os pequenos erros das outras pessoas. Não consegue assumir as próprias falhas, mas quer que os outros admitam as suas e se desculpem.

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Se alguém discordar de seus pontos de vista, logo considera que o outro é ignorante ou incompetente. E, fala de maneira agressiva, humilhando e criticando. Mas se achar que o outro é inteligente, considera que ele é do contra porque não admite que alguém pense de maneira diferente.

Quem tem esse ego autoritário, não se aceita e gostaria de ser diferente tanto fisicamente, como emocionalmente. Não pode admitir seus erros, pois internamente, se culpa, se cobra muito, querendo ser melhor do que é.

Geralmente se compara com as outras pessoas, se diminuindo ou querendo ser como elas, portanto custa muito a admitir seus erros, porque acha que isso seria mostrar suas fraquezas e emoções.

Porém, a maneira de abandonar essas carências e baixa autoestima, é aceitar-se emocionalmente, é aceitar que pode errar. É aceitar que errar é humano e natural.

Kathryn Schulz, a autora do livro: Por que Erramos – O Lado Positivo do Erro (Ed. Larousse), diz que tolerar nossos erros é aprender a respeitar nossas próprias emoções.

Diz que em nossa sociedade ocidental existem duas ideias contraditórias. A primeira ideia é que as pessoas que erram são consideradas burras, ignorantes e irresponsáveis. E a segunda, é que todos nós somos passíveis de falhas e que errar faz parte da natureza humana.

Ela afirma que, em nossa cultura, o erro está relacionado à inferioridade e a pessoa pensa que admitir o erro é se humilhar. Diz que a solução seria mudar a relevância. Ou seja, seria necessário minimizar a ideia de que quem comete um erro é um idiota e enfatizar a ideia de que errar é humano. Apesar de sermos inteligentes e brilhantes, nossas mentes são incapazes de prever tudo, e errar é inevitável.

No trabalho e nas empresas, é cobrada muita eficiência dos funcionários e geralmente o erro é considerado falta de competência. Mas quando existe isso, as pessoas perdem a motivação, a criatividade e vão se tornando inseguras, e acabam errando ainda mais. Para Kathryn, a solução seria criar um ambiente em que seja aceitável errar, buscando o equilíbrio e estabelecer medidas para que os erros não se tornem tão problemáticos para a empresa.

Purifique o ego negativo

A Filosofia do Yoga nos ensina a purificar o ego negativo e criar um ego positivo, que possa nos conduzir ao Ser interior, nossa verdadeira fonte de sabedoria e perfeição.

É importante compreender que senão admitir seus erros, está priorizando seu ego negativo e não poderá melhorar. Em vez disso, continuará errando nas mesmas coisas e, alimentando o poder desse ego, que tira a espontaneidade e alegria.

Agir sem agressividade e saber lidar com as próprias falhas, é saber lidar e suportar as próprias emoções. É superar o medo de se expor, superar a vergonha, a timidez, é saber aceitar as criticas.

Muitas vezes, somos iludidos por crenças que nos foram impostas pela família, pela religião, pela educação e sociedade. Nós nos apegamos a essas convicções que achamos serem verdadeiras, porque é confortável para nós ter a mesma opinião, nos sentir seguros perante os outros e estar inseridos em um determinado grupo.

Mas, é importante se libertar desses conceitos e crenças que nos foram impostas e nos tornar um buscador de nossos próprios caminhos. Buscar o autoconhecimento e autoapreciação.

As pessoas mais próximas a nós, como nossos pais e familiares, são as que têm menos poder de nos fazer ver nossas falhas e de mudar nossa opinião. Somos resistentes e não queremos ouvir seus conselhos. É mais fácil aceitar a opinião de um estranho, de um amigo ou de um professor.

Muitos conflitos surgem no casamento, pois devido à convivência, os casados têm de tomar várias decisões todos os dias, e muitas vezes, um pensa diferente do outro. E, assim, apesar do amor romântico, um casal pode brigar, porque um quer convencer o outro que ele está certo. Desse modo, cada um tem que negociar para haver menos discussões. Sem renúncia de ambos os lados, sem aceitar as opiniões diferentes, sem tolerância pelos erros do outro, não há um relacionamento harmonioso.

Aprenda sem culpa

No livro A Arte da Felicidade, Dalai Lama ensina como reconhecer nossos erros sem culpa. Ele afirma de uma maneira muito clara e objetiva: “Produtos de um mundo imperfeito, todos nós somos imperfeitos. Cada um de nós fez algo de errado. Há coisas que lamentamos – coisas que fizemos ou que deveríamos ter feito. Reconhecer nossos erros com um verdadeiro sentimento de remorso pode servir para nos manter na linha na vida e pode nos estimular a corrigir nossos erros quando possível e dar os passos necessários para agir corretamente no futuro. Porém, se permitirmos que nosso remorso degenere, transformando-se em culpa excessiva, se nos agarrarmos à lembrança de nossas transgressões passadas com uma contínua atitude de censura e ódio a nós mesmos, isso não leva a nenhum objetivo, a não ser o de representar uma fonte implacável de autopunição e de sofrimento induzido por nós mesmos.”

Contemple essas sábias palavras de Dalai Lama e aprenda com seus erros, sem culpa, e sem angústias. Não se diminua. Não permita que isso impeça você de avançar e progredir. Um erro não pode se tornar uma fonte de desânimo, de depressão ou atrapalhar o seu modo de conduzir a vida dando o melhor de você.

É necessário aceitar a nós mesmos, com nossas limitações, fraquezas, equívocos de julgamento, sem excesso de culpa ou desprezo. Em vez de nos diminuir e gerar sofrimento desnecessário para nós mesmos, devemos saber lidar com nossas emoções. Devemos reconhecer os erros, pedir desculpas, aprender com humildade, com a intenção de ‘retificar as coisas no futuro”.

Em vez de nos concentrar nos erros, é melhor concentrar nossa atenção em ajudar as outras pessoas da melhor maneira possível, criando assim um ego positivo e uma mente amiga. Fique em paz! Namaste! Deus em mim saúda Deus em você!