Sinto vontade de trair… e agora?

Da Redação

O conceito de traição se configura, de forma mais concreta, como a inclusão de um terceiro numa relação estabelecida como dual. Mas o termo traição abarca também outras situações e não exige tal concretude, como por exemplo, traições no âmbito moral, profissional e ideológico, onde as expectativas colocadas sobre o outro podem ser frustradas, seja ele o parceiro amoroso, amigo, mestre, colega de trabalho ou familiar.

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A traição amorosa envolve a frustração de várias expectativas: de que a relação deva ou possa ser apenas dual; de se atingir a completude no outro; de que o vínculo estabelecido em um determinado momento seja eterno. A traição amorosa tem um "peso social" diferente da traição em outros âmbitos. Aqui, o termo traição vem carregado de significados negativos, como se pode observar pelos termos pejorativos utilizados para se referir a ela.

Assim, a traição amorosa leva as pessoas envolvidas a vivenciarem uma situação de forte impacto, que é gerado, concomitantemente, por fatores pessoais e sociais. Socialmente, traído e traidor parecem ser punidos: o primeiro porque não soube escolher a pessoa certa, por não ter percebido o que estava acontecendo ou porque não conseguiu manter o parceiro (a) fiel; o segundo por ter se comportado levianamente.

Apesar disto, a traição pode estar a serviço de um projeto mais digno do que corriqueiramente lhe é atribuído – esta pode ser utilizada como um termômetro do momento íntimo de cada ser humano. A traição só pode se configurar quando entendo que, ao me relacionar com outras pessoas, desejos emergem.

A grande questão trazida pelos desejos que emergem não é a de "devo trair ou não?", mas "que encaminhamento ético posso ou devo dar a este desejo?". Aqui cabe dizer que a repressão destes desejos apenas contribui para a formação de uma carga imensa de energia represada, prestes a explodir. A maneira mais adequada para lidar com estes sentimentos é uma honesta reflexão pessoal, onde cada indivíduo deve se implicar, tanto de maneira individual como coletiva, em entender-se como um todo; não só como bem, mas também como mal; não só como luz, mas também como sombra.

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Como qualquer situação de conflito que a vida traz, nossa capacidade de escolha será testada: em nome do quê ceder, ao desejo? Em nome do quê não ceder? A resposta poderá ser diferente em cada momento da jornada, em cada parceria…Só não vale dizer que "a carne é fraca", "o que os olhos não veem, o coração não sente" ou, pior ainda: "não traio, para que meu parceiro também não traia", isto é estar a serviço do poder e não do AMOR.

Autores: Carla Regino, Fernanda Menin, Helena Girardo de Brito, João Paiva, Lilian Loureiro, Luiz André Martins, Mariana Leite, Marina Winkler, Priscila Parro e Thiago Pimenta – sob a coordenação da profa. Dra. Noely Montes Moraes