Quebra-cabeça para resgatar a autoestima

por Patricia Gebrim

Desde que eu sou pequena tenho algumas ideias meio malucas sobre as pessoas e sobre o funcionamento do mundo. Deixe-me explicar… “malucas” na visão dos adultos, porque para a minha Criança elas pareciam – e ainda parecem – a coisa mais óbvia e natural!

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A novidade é que hoje decidi correr o risco de convidar a minha criança para escrever comigo este artigo e dividir uma dessas ideias com você .


Ilustração: Patricia Gebrim

Bem, imagine (vou precisar da sua imaginação) que o mundo seja um enorme quebra-cabeça, e que cada pessoa seja uma peça desse quebra-cabeça. Imaginou? Milhões de pecinhas andando para lá e para cá, tentando encontrar o seu lugar.

– Ei! Este artigo só vai funcionar se você pensar como criança, então você tem que imaginar MESMO isso acontecendo!!!

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Então vamos lá. Onde estávamos? Ah … as pecinhas procurando o seu lugar!

Não sei bem como, nem por que, mas hoje em dia ficou decidido que algumas peças do quebra-cabeça são melhores, ou mais bonitas do que as outras. E ficou decidido que todas as outras peças deveriam copiar aquelas peças especiais. Isso gerou uma grande confusão no mundo das peças do quebra-cabeça. De repente ninguém mais estava feliz com suas próprias formas, o que causou um verdadeiro corre-corre. Hoje você encontra pecinhas e mais pecinhas em fila, esperando por uma tesoura para cortar partes que se sobressaem. Pecinhas querendo cavar reentrâncias onde antes só existia uma superfície lisa. Pecinhas comprando tintas para ter uma cor que acreditam ser mais bonita. Pecinhas importando “acessórios para peças de quebra-cabeça”. Pecinhas desmemoriadas, que já nem lembram como era a sua forma inicial.

Experimente fazer isso com um quebra-cabeça! Modifique todas as peças. Corte-as, pinte com outras cores. Bem, agora imagine a dificuldade de se montar um quebra cabeças assim! Como descobrir a beleza desse quebra-cabeça se as peças estão todas transformadas? Como saber qual é o meu lugar nesse todo se eu já nem sei quem sou?

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Pense um pouco na sua autoestima. Hoje em dia é quase um chavão se falar em “melhorar a autoestima”. E para fazer isso as pessoas olham para fora, ao redor, e partem em busca de um modelo externo que possivelmente as fariam sentir-se bem. Pense: que modelos são esses? Que modelos de bem-estar e felicidade são veiculados todos os dias na mídia?

Pense nisso, porque são esses modelos que estão nos fazendo correr atrás de tesouras e tintas para pintarmos nossa pecinha e deixá-la igualzinha àquela que vimos outro dia na revista.

– Se ao menos se eu pudesse ter a bunda mais dura, comprar aquele carro, chegar a ser diretor, encontrar o amor da minha vida … ahhhh … Se ao menos eu pudesse!

E assim saímos loucamente pela vida esquecendo de olhar para nós mesmos. E por mais que nos esforcemos, sempre nos sentimos um pouco frustrados. Afinal sempre existirão bundas mais duras, carros mais possantes, pessoas mais inteligentes, e amores que me parecerão maiores e mais plenos do que o amor limitado que hoje sou capaz de viver.

– Ei, nada contra se ter dinheiro, desejar conquistar algo, admirar o que é belo e coisas assim; desde que isso não nos faça esquecer de quem somos.

Bem, voltando ao quebra-cabeça, a verdade é que estamos perdidos, MUUUUITO perdidos. São peças e mais peças cambaleando por aí, tropeçando umas nas outras, muitas vezes se sentindo tristes ou irritadas. As peças sabem que estão em busca de algo, sabem que cada uma delas era parte sagrada de algo muito mais lindo e maior do que hoje podem sequer imaginar.- Mas… o que era mesmo? – Esqueceram-se!

Nós nos esquecemos do que estamos fazendo aqui. E como esquecemos, sentimos esse vazio do esquecimento. E, para preenchê-lo, mais e mais nos esforçamos em tentar ser perfeitos.- Quem sabe assim conseguimos sentir essa tal de felicidade?

Precisamos acordar dessa loucura coletiva!

Pense nos momentos em que você se sentiu de verdade alguém de valor … (pensou?). Bem, no meu caso foram momentos em que eu não estava tão focada no meu “Eu”. Momentos em que eu não estava me comparando, em que não estava julgando a mim ou ao outro. Os momentos em que me senti mais valorizada, foram os momentos em que me permiti ser simplesmente quem sou, com todas as minhas reentrâncias e saliências. Os momentos mais especiais foram aqueles em que eu acreditei ser capaz de ajudar alguém a se sentir bem. E foi então que eu fiz uma das descobertas mais importantes da minha vida de criança:

– Quando as pessoas que a gente ama se sentem bem, a gente se sente bem também! (É claro que isso que estou contando tem a ver com a pecinha que eu sou, mas quem sabe incentiva você a também fazer pesquisas e descobertas sobre a peça que você é!)

Ter encontrado, nem que brevemente, um lugar que seja meu, um encaixe, me fez um bem que não sou capaz de descrever.Me faz bem escrever este artigo, por exemplo. Escrever… não como “esta” ou “aquela” pessoa escreveria, mas escrever do meu jeito, mesmo que não seja perfeito, mesmo que não seja capaz de tocar todas as pessoas. (Quem é capaz de tocar TODAS as pessoas, afinal?)

Sabe o que me deu vontade de te dizer?

– Pare de tentar!

– Pare de tentar ser o pai perfeito, o filho perfeito, a mãe perfeita, o profissional perfeito, o corpo perfeito, a mulher perfeita… (Você percebe como isso cansa?). Pare de tentar saber o que as pessoas esperam e CORRA O RISCO DE SER VOCÊ, APENAS VOCÊ. (O seu Eu Superior pode ajudar você a fazer isso!)

Sabe de uma coisa? A gente faz as coisas muito melhor quando faz desse jeito. Tudo bem se algumas pessoas não gostarem de você. Você precisa ser capaz de suportar isso, se quiser existir! E é claro que a escolha é toda sua. Você pode optar por se mutilar para agradar aos outros, ou para se encaixar naquele pequeno pedacinho que acredita ter sido reservado a você. Eu, deste lado do papel, só posso dizer que vou ficar triste por você. E por mim… que vou perder aquilo que você poderia me oferecer de melhor. Seu verdadeiro EU.

Escute essa verdade … você é único!

Não existe neste mundo inteiro uma única pessoa que seja exatamente como você. Pense nas suas reentrâncias e saliências como aspectos únicos que tornam você perfeito, como são perfeitas todas as peças de um quebra-cabeça.

Então, se você quer melhorar sua autoestima, acredite, não olhe para fora. Olhe para dentro e aceite, aceite-se exatamente como você é. A sua felicidade não virá ao você atingir algum tipo de perfeição. Neste exato momento, você já é divino, todos somos. E quanto mais corajosos formos para sermos reais, mais essa divindade estará presente em nossa vida, nos ajudando a encontrar uns aos outros, nos trazendo paz e nos ajudando a encontrar sentido nesse aparente caos.

Eu conto com você, porque sem você, nem que todas as outras peças tenham encontrado o seu lugar, o quebra-cabeça continuará incompleto, e EU ESTOU LOUCA DE VONTADE DE VER A CARA DESSE QUEBRA-CABEÇA!