Amor ao extremo e cegueira emocional fomentam terrorismo individual

por Tatiana Ades

Em consequência do atentado terrorista sofrido em 7 de janeiro, que deixou 12 mortos, o jornal satírico francês Charlie Hebdo, célebre por suas charges ácidas, agora mundialmente superconhecido, trouxe em sua primeira capa após o ataque, uma caricatura de Maomé segurando uma placa que diz "Eu sou Charlie".

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Esse é o assunto que ilustra capas de revistas e repercute no noticiário e na mídia.

Como psicanalista comentarei os aspectos intrigantes do quadro todo e o quão preocupante é esse incidente.

Falo sempre de amor patológico, e o defino como fatal, pois ele é extremista, ele necessita do fator obsessão e cegueira emocional; é praticamente um terrorismo invisível acontecendo dentro de uma pessoa que está prestes a explodir a outra e se explodir junto, pois nada mais justificaria estar viva(o) sem o outro.
Tout est pardonné: tudo está perdoado

As religiões fanáticas (sejam quais forem) seguem essa mesma linha. Enfim, que amor é esse por um poder superior – que me permite matar, esquartejar e até morrer em nome DELE?

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Que tipo de Deus é esse que pune e maltrata, castiga e massacra? É esse mesmo Deus que massacra algumas almas que estão presas a relacionamentos de codependência afetiva, onde tudo vale por amor: matar, roubar… como a própria canção de Cazuza: Exagerado: e por você eu faço tudo, vou mendigar, roubar matar…

Estamos vivendo um mundo emocionalmente terrorista, mas apenas percebemos isso de forma superficial, ouvimos as notícias e não nos tocamos sobre a realidade emocional e cultural por trás de todo esse caos.

Essa * sociedade líquida dá vazão ao sentimento de 8 ou 80: ou eu tenho o mundo ou não tenho nada, ou eu mato ou morro. A competição profissional, amorosa e de diversas questões do dia a dia são lidadas com vigilância extrema; é ganhar ou perder, nadar ou sufocar.

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Espero que a paz volte a prevalecer em todos os corações fanáticos, pois o fanatismo só pode ferir, sangrar e deixar uma história de luto a ser contada.

Sociedade líquida: quando membros de uma sociedade, numa atitude individualista, têm um terrível desprezo pelo comportamento do outro, quando esse não coaduna com seus princípios particulares.