Superguia sobre meditação yogue – Parte IV

por Gilberto Coutinho

Este e o quarto texto de: Superguia sobre meditação. Para acessar o primeiroclique aqui; Para acessar o segundoclique aqui; Para acessar o terceiro – clique aqui

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19) O que é concentração?

Resposta: Dhárana é a técnica de concentração do yogue. No primeiro *aforismo do capítulo III do “**Yoga Sutras”, ***Patañjali, o conceitua da seguinte forma: “Desha-bandhah (fixação em um único lugar) chittasya (da mente) dhárana (concentração).” Ou seja: “Concentração é a fixação da mente em um único lugar ou objeto.” A concentração é a focalização da mente (da atenção) sobre um único objeto ou ideia; pode ser em um objeto externo ou interno. A concentração é uma forma ou um método de acalmar e estabilizar a mente, uma vez que ela é inconstante, oscilante, dispersa, muito facilmente influenciável (pelos sentidos, pensamentos, desejos e pelas informações) e, muitas vezes, distraída.

A princípio, pode ser mais fácil concentrar-se em objetos externos e concretos. Após um período de treinamento regular da concentração em um objeto concreto e externo, o praticante deve treinar a concentração interna e abstrata. A concentração pode conferir ao praticante disciplinado uma experiência única e muito interessante. Sua prática regular, disciplinada e perseverante pode conferir ao yogue o poder de conquistar uma mente disciplinada, serena, estável (sem muitas oscilações) e capaz de se concentrar profundamente. Nessas condições, o poder do pensamento torna-se extremamente poderoso. O perfeito domínio do controle respiratório (pránáyáma) e da concentração (dhárana) pode conferir certos siddhis.

20) Por que a concentração é indispensável para se alcançar o estado de meditação?

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Resposta: Não se pode alcançar o estado de meditação se a mente não for capaz de se concentrar em um único objeto de contemplação de forma profunda e prolongada.

21) Cite uma técnica de concentração externa e interna.

Resposta:

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Concentração externa

Sente-se num lugar tranquilo com as pernas cruzadas (posição de meditação yogue) e coluna vertebral alinhada, ou então numa cadeira. Durante o exercício, respire de forma lenta, suave, profunda e relaxe todo o corpo. Olhe atentamente, sem piscar os olhos, para um ponto ou objeto pequeno externo e concreto, durante um ou dois minutos, ou pelo maior tempo possível, sem tensionar os olhos e os músculos oculares. Quando sentir os olhos cansados, pisque-os algumas vezes (para lubrificá-los) e, depois, feche-os por alguns instantes para descansá-los.

Com a prática, a duração de cada período de contemplação pode ser aumentada gradativamente. Pode-se olhar também fixamente para a ponta do nariz (naságra drishti – fixação nasal), antigo método do yoga que fortalece os músculos dos olhos e beneficia a visão. Tal envesgamento temporário não prejudica a visão. Ou, então, olhar fixamente para o espaço entre as sobrancelhas (de frente para uma parede branca).

Como esse exercício, no início, pode ser incômodo e cansativo para os músculos oculares, deve-se descansar os olhos logo que se fizer necessário. Ou, ainda, concentrar-se numa chama de vela (não muito próxima e nem muito distante, e num ambiente sem corrente de ar, para que a chama tenha uma forma mais uniforme e estável), tomando-se todos os cuidados preventivos contra incêndio.

No final do exercício, para descansar os olhos, pode-se friccionar as palmas das mãos durante alguns instantes até aquecê-las; quando estiverem quentes, feche os olhos e cubra-os rapidamente com as palmas das mãos, transferindo a energia calorífica para os olhos. Esse procedimento ajuda a relaxar a musculatura, descansa, nutre (pois aumenta a circulação sangüínea na região) e revitaliza os olhos.

Concentração interna

Siga as recomendações iniciais do item anterior. Sente-se num lugar tranqüilo, com as pernas cruzadas na posição de meditação yogue e mantenha a coluna vertebral alinhada, ou então numa cadeira. Respire de forma lenta, suave, profunda e relaxe todo o corpo. Olhe fixa e atentamente para a chama da vela, sem piscar os olhos, por um ou dois minutos. Observe atentamente o formato da chama, a cor e o seu tamanho. Tente extrair o máximo de detalhes a respeito da chama da vela (não pensando em mais nada, somente nela); depois, feche os olhos, concentre-se e tente reproduzir a chama da vela em sua mente, no espaço entre as sobrancelhas. À medida que a imagem da vela for desaparecendo de sua mente, volte abrir os olhos e, mais uma vez, concentre-se na chama da vela, repetindo o procedimento anterior.

Faça isso inúmeras vezes até conseguir reproduzir nitidamente a chama da vela em sua mente. Quando isso acontecer, ocorrerá um fenômeno muito interessante. Não se assuste, não interrompa o exercício e prossiga na concentração. Quando for capaz de reproduzir mentalmente a chama da vela em sua fronte, estará bem próximo de conquistar uma poderosa concentração. Após conquistar completamente essa técnica, o próximo passo é desenvolver a concentração interior num objeto abstrato. Volte a atenção para o espaço entre as sobrancelhas e visualize um ponto pequeno luminoso de cor violeta (é a cor do referido centro de energia ou chakra). Quando visualizar mentalmente esse ponto, não desvie a atenção e prossiga firmemente na concentração. A profunda concentração abre uma porta para uma nova dimensão e percepção da consciência.

22) O que é samádhi e quais os passos para alcançá-lo?

Resposta: Sutra 3, do capítulo III – “Tad (o mesmo) eva (o mesmo) artha (objeto, a luz do objeto) matra (sozinho/exclusivamente) nirbhasam (bilhar com) svarupa (si mesmo) sunyam (desprovido de) iva (de como era) samádhih (êxtase, contemplação).” Ou seja: “Aquele que brilha com a luz do objeto de contemplação e perde a noção de si próprio alcança o samádhi.”

Comentário de Vyasa: “Quando o objeto de contemplação assume completa posse da mente, a contemplação revela adiante apenas a luz da forma do objeto contemplado; desprovido de sua própria cognição; então, isso é chamado de êxtase (iluminação da consciência ou hiperconsciência).

Samádhi

Samádhi é a condição na qual apenas há consciência do objeto da meditação e nenhuma consciência da mente (do eu) em si. É a concentração no mais elevado grau. Nesse estágio, não existe mais distração, e a mente perde a noção de sua própria natureza e torna-se consciente apenas do objeto de contemplação. Samádhi ocorre quando a mente assume a natureza do objeto sobre o qual se medita, esvaziando-se de sua própria natureza. É um fenômeno único; quando ele ocorre, transforma a vida do praticante. O item 4 desta entrevista descreve os 7 passos para se alcançar o samádhi.

*Aforismo: máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral;

**Os Yoga Sutras (Aforismos do Yoga) são o texto clássico que codificou o conhecimento tradicional sobre o Yoga

***Patañjali foi o compilador do Yoga Sutras, um grande trabalho contendo aforismos sobre a sua prática e da sua filosofia, definindo a prática do Raja Yoga