Estou sendo usado (a) neste relacionamento?

por Grupo de Aprimoramento Junguiano sobre Questões Amorosas – Clínica Psicológica PUC/SP

É possível que todas as pessoas já tenham ouvido ou vivido esta questão: Estou sendo usado (a) neste relacionamento? A resposta a esta questão depende do modelo de relacionamento estabelecido pelas pessoas envolvidas. Como já discutimos em artigos prévios, um relacionamento genuíno envolve igualdade, parceria, troca e aceitação mútua. Um relacionamento amoroso genuíno depende da disposição dos parceiros de abrir mão de certas expectativas que possam existir, sejam quais forem.

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Frequentemente as pessoas estabelecem relacionamentos amorosos baseadas nas expectativas materiais, de segurança e de proteção, mas o amor nem sempre atende às nossas vontades. Isto acontece porque a escolha amorosa é inconsciente, e nem sempre a escolha do inconsciente condiz com o que conscientemente queremos para nós. Portanto, só podemos viver a plenitude do amor na medida em que conseguimos abrir mão de nossas expectativas conscientes, pois a imprevisibilidade é característica do amor.

O amor é um deus caprichoso, que não aceita condições. Mas, por outro lado, se conseguirmos reverenciar este deus sem exigências ele nos gratificará com toda a plenitude que um verdadeiro encontro amoroso traz. Não fazer exigências significa poder enxergar o parceiro como ele realmente é, e não como gostaríamos que ele fosse. Significa apreciar seus defeitos e qualidades como parte integrante da totalidade daquele ser e, nesta medida, saber fazer concessões, tão necessárias a qualquer relacionamento. É conseguir viver o momento que se apresenta, o encontro pelo encontro, sem tentar prever ou estabelecer estratégias para conseguir algo que se espera, chegar ao altar, por exemplo. Implica num movimento de entrega total à vida, permitindo ser usado (a) pelo amor, não pelo parceiro, nem pelo ego.

Talvez o maior impedimento a esta conquista seja a necessidade de poder e controle. Quando alguém se pergunta se está sendo usado (a) pelo parceiro, já está demonstrando uma postura de controle, como se o amor fosse um jogo onde se comparam resultados, tipo quem cede mais, quem faz mais as vontades do outro, quem é mais disponível, quem liga mais, etc. Esta necessidade de poder pode aparecer de outras formas em um relacionamento: sentimento de posse, ciúmes excessivos, controle financeiro e até a desvalorização do outro, como uma forma de mantê-lo dependente, entre outras. Aí sim existe o "uso", pois as decisões e concessões não são feitas em prol do relacionamento e sim das necessidades de uma das partes. Nesta situação, sempre há o desrespeito à liberdade e autonomia do outro. Como dizia Jung: onde o poder se instala, Eros se retira…

Portanto, para saber se uma pessoa está sendo usado (a) ou usando, basta analisar o tipo de relacionamento que está estabelecido. Se os parceiros estão orientados para o "nós", se as decisões e atitudes são tomadas visando atender às necessidades do relacionamento, é certo que o ganho é mútuo. Porém, quando isto não acontece, talvez seja o caso de, junto com o parceiro (a), repensar o relacionamento para transformá-lo, ou então abrir mão da relação em favor do amor próprio, que também é uma forma necessária de amor. Na vivência amorosa, só ganha quem se entrega.

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Autores e integrantes do Grupo de Aprimoramento Junguianao PUC-SP : Carla Regino, Fernanda Menin, Helena Girardo de Brito, João Paiva, Lilian Loureiro, Luiz André Martins, Mariana Leite, Marina Winkler, Priscila Parro e Thiago Pimenta – sob a coordenação da profa. Dra. Noely Montes Moraes