Animais xamânicos e a energia vital

por Carminha Levy

Desde os primórdios da humanidade os animais acompanham seu irmão maior – o animal humano. Visto sempre como o lado mais depreciado do homem, fomos, ao longo dos tempos, ensinados a negar sua existência ou pelo menos sufocá-la por estar conectada com o ‘instinto animal’.

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Considero que uma das causas da grande violência que cerca o mundo todo se deve a esta dicotomia da separação: homem-animal-instinto.Uma força que faz parte do nosso corpo-mente-espírito, foi sufocada de tal forma que quando libertada, teve o efeito de uma bomba que joga seus estilhaços em cima de todos nós. Desde a violência no lar, passando pela urbana e desembocando na global.

A grande esperança que o xamanismo nos traz é a recuperação do instintual com o mental usando a liga da energia do coração – ou seja, a tolerância, compaixão e misericórdia.

Acordar o *arquétipo do xamã torna-se assim uma necessidade premente que faremos conscientemente percorrendo o caminho do xamã ou através do Inconsciente Coletivo com sua tremenda força de acordar os humanos para a necessidade de cura da mãe natureza, incluindo nesta todos os movimentos ecológicos, dentre eles a preservação das espécies animais ameaçadas de extinção.

Na aurora da Humanidade, o homem e o animal se confundiam, como também com o meio ambiente. Era a época do **panteísmo, no qual todos dormitavam (dormiam) na Mãe Natureza.

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Com o surgimento da consciência (a maçã de Eva, seja essa o que for), o ser humano começou o despertar. O homem sentiu a separação (de onde provém até hoje a culpa primordial por abandonar o seio da Mãe Terra), mas sua ligação com o animal continuou visceral – podemos vê-la na mais antiga estatueta da mãe, representada por uma mulher com seu filho nos braços, ambos com cabeças de cobra.

Mais adiante o animal continua a figurar em primeiro plano entre os deuses – é Zeus que como cisne possui Leda e gera dois ovos: de um nascem as gêmeas Clitemnestra e Helena, a mais bela mulher do mundo e do outro ovo nascem Castor e Pólux; Hércules é criado pelo centauro (meio homem, meio cavalo); Atenas tem uma coruja na cabeça, etc.

Posteriormente, esses animais estão nos totens das grandes tribos nômades, nos estandartes e brasões dos nobres conquistadores e até hoje nas torcidas futebolísticas. Quem não conhece os “Gaviões da Fiel”?

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Vejamos como trazer conscientemente a força destes animais para a recuperação da nossa energia vital – porque se você só pensa, algo está faltando nas suas três vigas mestras – que são o sentimento, o pensamento e o instinto. Talvez o instintual só se manifeste através de estouro, da ira incontida ou de auto-acidentes que sabotam sua vida.

Vamos juntar corpo-mente-espírito através da dança dos animais.

Prepare um local amplo onde você possa se movimentar com olhos semicerrados, em Estado Alterado de Consciência Xamânica (E.A.C.C).

Prática
 

Prepare um ambiente e marque as 4 direções sagradas; acenda uma vela (leste), um copo com água (sul), uma plantinha (oeste), incenso (norte). Use um CD de tambor ou qualquer música cujo som seja marcado por uma batida. Não use música que você já associe a algo definido e nem que tenha letra. Feche os olhos, comece a relaxar usando a sua técnica preferida, quando se sentir bem enfocado na sua intenção, ligue o som.

Não chame um animal e sim peça e aguarde ser escolhido por um. Talvez você já conheça seu animal de poder – veja como se conectar com ele – clique aqui -, também chamado de Aliado. Ele deverá aparecer primeiro. Siga os movimentos do animal sentindo-o penetrar o seu corpo – entregue-se à sua dança, sabedoria e receba sua mensagem.

Chame um segundo animal que deverá ser seu companheiro nas curas. Peça-lhe uma cura específica – sempre para você. Proceda como no primeiro, o importante é você dançar e sentir o animal no corpo. Traga conscientemente a força dele para aumentar sua energia vital, pois ela vem dos nossos animais internos.

Para facilitar esta prática, irei gradativamente trazendo a energia dos animais.

Apresento-lhe agora dois animais aleatoriamente, eles deverão servir aos propósitos de quem os tenha. Podem também falar comigo por e-mail.

Escolhi começar pela borboleta, pois seu significado de transformação e trancendência é muito poderoso. Escute a sua voz: *** “Vivo somente se há luz e calor suficiente para que eu abra minhas asas. Aprenda a celebrar a luz como eu, a ser leve para atrair as sementes da vida. Alimente-se das belezas sutis do mundo que lhe cerca. Quando estiveres impregnado de beleza, você deve aprender a oferecê-la ao mundo. Tenho o significado profundo da imortalidade, pois represento a alma que não se prende a um corpo físico. Mas cuidado, deixa o tempo seguir o seu propósito: respeita o meu casulo, a crisálida. É conhecido por todos que se meu casulo for aberto antes do tempo, não terei força para viver. Respeite seus momentos de casulo, renascendo para a vida com a sabedoria de saber esperar.”.

O segundo animal que iremos conhecer é o Leão que traz a liderança, justiça e exige a transmutação do Ego. Ouça-o: “Ser emblema de solar e símbolo de nobreza, força e majestade, tem-nos custado alto preço, pois o homem só quer ver este nosso lado, mas ele deveria se espelhar em outras qualidades que representamos: a libido dominada, o instinto em nível superior e a moral dos mestres. Da minha condição individual, ensino aos humanos uma consciência transpessoal para que sua palavra se transforme em fonte inesgotável de entendimento e concórdia. Somos o rei da floresta e nossa energia ensina que cada ser humano deverá tornar-se um dia rei do seu ego – só assim reconhecerá a dignidade que traz a justiça entre os homens.

Você deve atravessar a ponte do Eu e se assenhorar dessa fortaleza. Abre as suas janelas, descerra os portões para que o sol brilhe do interior para fora”.

E vocês dancem e dancem os seus animais, penetrem na espiral da evolução da vida e recuperem sua força vital e alegria de viver. Axé na Luz!

*Arquétipo: Segundo o psicólogo e psicanalista suíço C.G Jung (1875-1961) são as imagens psíquicas do inconsciente coletivo.

**Panteísmo: 1. Doutrina segundo a qual só Deus é real e o mundo é um conjunto de manifestações e emanações.   2. Doutrina segundo a qual só o mundo é real, sendo Deus a soma de tudo que existe.

Fonte: Dicionário Aurélio  
   
*** Sabedoria dos animais – Carminha levy e Álvaro Machado – Ed.Ground