Matrix: como lidar com o mundo virtual e real?

por – Andréa Jotta – Psicóloga componente do NPPI

É incrível a capacidade americana de transformar em indústria do entretenimento o que sentimos.

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Na atualidade, alguns já se questionam se seria essa indústria já a formadora desses desejos, ou se ela estaria apenas os colocando em formato de fantasias ou romanceando-os com (ou seria sem?) o nosso consentimento?

Quais as consequências do fato das crianças já nascerem aprendendo num Tablet?

O que será dos nossos relacionamentos face a face com nossa imersão cada vez mais intensa na virtualidade?

E sobre as repercussões do acesso à tamanha quantidade de informações e estímulos para os nossos cérebros?

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 De qualquer maneira, o incrível aqui, é que seja por algum sentimento de culpa, ou por consumirmos mais quando achamos que a escolha é nossa, eles sempre nos dão a opção – como no filme Matrix – nos levam até a porta, sendo nossa escolha abri-la ou não.

Toda a tecnologia à nossa disposição hoje, diferente do que acontece no filme, onde seres humanos têm suas mentes aprisionadas na virtualidade e são cultivados em campos, para servirem de pilhas às máquinas (e aqui um novo paradigma nos é “informado” – seres humanos geram energia, e muita), ainda estamos no comando, e estar ou não na virtualidade continua dependendo de nossas escolhas.

Por mais demoníacas que possam ser as previsões, de que assim como no filme as máquinas dominarão o mundo, foi a escolha humana de se afastar da natureza, do humano no sentido animal, e destruir o sol na tentativa de acabar com as máquinas, a causa de sua derradeira destruição.

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Smith, o agente que não é gente, só inteligência artificial, em seu primeiro embate com Morfeu, o humano que dá a opção a outros humanos de acordarem ou não de suas fantasias virtuais, conta que já viveu em muitos mundos virtuais; que a primeira Matrix havia sido criada para ser um mundo perfeito, sem defeitos ou doenças, campos e campos de seres humanos cultivados tinham sido perdidos, porque a mente humana se rebelava e não aceitava esse tipo de programação e controle. Então foi recriado um mundo virtual, próximo ao ano de 1999, onde os seres humanos cresciam em número populacional, ocupando cada vez mais áreas da terra e destruindo – com suas construções desenfreadas e ambições desmedidas – o local ocupado, até que ali não sobrasse mais nada de natural. Nos informa ainda que só existiam duas classes que faziam isso: os humanos e os vírus.
 
O filme em diversos pontos permeia características humanas muito pertinentes à atualidade, embora pareçam misturadas no contexto e passem despercebidas ou continuem inconscientes na sua grande maioria.

Trinity, a personagem feminina, par romântico de Neo, o mocinho da história, ao introduzi-lo na reunião com Morfeu, um dos lideres da resistência humana contra as máquinas, dá a Neo um conselho: “Seja sincero, ele sabe mais do que você pensa”. E aqui podemos traçar um paralelo, pois Morfeu, Trinity e Neo até aqui ainda estão dentro da Matrix, ou seja, ainda estão dentro da mente de Neo, ou seja, fica aqui o conselho: “Seja sincero com você mesmo, quando resolver olhar dentro de sua mente, de seus pensamentos, da Matrix ou de seus usos virtuais, eles sabem bem mais do que você pensa sobre você mesmo”.

No filme, que se passa em algum tempo para além de 2199, e o controle virtual nessa época está em todo lugar. É um mundo irreal, criado por computadores para aprisionar a mente humana e torná-las pilhas, talvez o que eles (computadores e americanos) ainda não tenham descoberto, é que embora a mente humana seja capaz de criar realidades vindas da fantasia, e que nós certamente ainda desconhecemos muito de nossas capacidades neurais, o corpo em movimento gera ainda mais energia. E ambas as forças parecem necessárias, para uma vivência plena e saudável. Estar só na virtualidade, no computador, embora possível, causa incômodos físicos e no entorno, que devem ser levados em conta, com igual ou maior peso, aos prazeres oferecidos pela virtualidade.

Tomar a pílula azul te coloca de volta no mundo dos sonhos, no cume do iceberg, e você acorda podendo acreditar ou não no que vê ou sente.

Mas não se esqueça, ao tomar a pílula vermelha, que o autoconhecimento e a consciência são um caminho sem volta, tomar a pílula azul te oferece a verdade, traz à tona uma superfície maior do iceberg de nossas mentes, onde anteriormente só se via o cume. E ninguém te promete que esse caminho seja fácil.

E você, qual pílula escolheria?

 A azul que te leva de volta ao reino das fantasias esquecidas, fugas e esquecimentos, andando como zumbis anestesiados dentro do sistema que os controla? Ou a vermelha, do autoconhecimento, da capacidade de lidar internamente com coisas não tão saborosas, não tão brilhantes ou coloridas, mas que podem e devem ser sentidas interiormente, uma vez que no sentido evolucionário, parece que cada vez mais (ou a cada geração que nasce) desenvolvemos capacidade cada vez maior e mais natural de lidar com os dois mundos.