Crianças podem ficar ansiosas com a demora da passagem do tempo

por Ceres Alves Araujo

O tempo é o senhor de todos os destinos, diz o poeta. E é por isso que ele é invocado, das mais variadas formas possíveis, no ontem, no anteontem, no amanhã, no hoje e assim por diante.

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A sensação sobre o passar o tempo também varia de pessoa para pessoa. Porém, aí sim, de forma universal, o tempo parece passar mais rápido para os adultos e mais devagar para as crianças.

Nós, na vida adulta, temos o sentimento de que o tempo está passando muito rápido. Com frequência escutamos, no final de cada ano, as pessoas dizerem: "Como este ano passou tão rápido!" Essa sensação, de nós adultos, decorre do número de anos vividos que, acumulados às experiências de nossa existência, faz com que tenhamos menos novidades na nossa vida. Pelos fatos tenderem a se repetir, temos a impressão que o nosso cotidiano anda mais rápido do que antes andava. É comum escutar o adulto falar: "Bem que o dia poderia ter 48 horas, assim daria para eu fazer tudo e com calma".

As crianças, ao contrário dos adultos, sentem o impacto do acúmulo das novas experiências. O mundo é para elas como se fosse um parque de diversão de novidades. Com menos conhecimentos ainda adquiridos, a vida parece caminhar mais devagar para os pequeninos. É normal, portanto, as crianças reclamarem que o tempo demora para passar.

Mas, essa relativização do tempo é uma coisa complexa e faz parte do processo de educação de nossos filhos. As crianças tendem a se tornarem ansiosas com a demora do passar do tempo. Os pais devem saber trabalhar a relação do tempo com a ansiedade dos filhos. É comum, por exemplo, na estrada as crianças de 4 até 8 anos de idade, perguntarem se falta muito tempo para chegarem no destino. Qual é a melhor resposta, quando ainda falta muito? Não se deve dizer que está chegando, se não está. Mas, pode-se nomear as coisas interessantes que serão vistas, na estrada, até o momento da chegada. É uma forma lúdica de se treinar relações temporo-espaciais.

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Indagações muito comuns, em relação ao tempo, também estão ligadas às datas comemorativas, nas quais as crianças ganham presentes: aniversário, Natal, Páscoa, Dia da Criança. "Quanto tempo falta para o meu aniversário", pergunta a criança. Se o aniversário estiver muito longe, se faz necessária uma resposta mais elaborada para acalmar a ansiedade da criança. É interessante explicar para ela que o aniversário vai chegar depois de outras coisas muito boas que estão por vir, como, por exemplo, uma viagem que farão juntos ou uma outra data comemorativa, Natal, Páscoa etc. Antecipar sequências de acontecimentos até a data esperada, traz tranqulidade à criança e, ainda, a ajuda a se inserir numa linha de tempo.

Outra pergunta corriqueira é aquela que a criança de quatro, cinco anos de idade pergunta aos pais, quando ela poderá fazer algo que o irmão mais velho já pode fazer. Uma resposta vaga, portanto inútil: "Quando você tiver a idade dele". É vaga e por isso não vai diminuir a ansiedade da criança, pois se o irmão tiver dois ou três anos a mais que ela, esse tempo que irá demorar não está se referindo a absolutamente nada. Sem referência, a criança não consegue ainda quantificar o quanto demora para ela esse período.

Mas se a resposta for: quando você tiver a idade dele, acrescida de fatos interessantes que vão acontecer durante o tempo que falta para ter a idade que hoje o irmão tem, a ansiedade da criança irá baixar e ela terá a sensação de que esse esperar, esse tempo, estará repleto de coisas boas e interessantes.

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O tempo é único, mas a sensação de seu passar varia muito da criança para o adulto. E explicar o tempo, falar sobre ele, para os filhos, quando ainda são pequenos, não é tarefa simples. Aliás, vale lembrar que no passado, para se referir ao tempo para as crianças, nos serviamos, como exemplo, das quarto estações do ano.

Hoje, nem mais essas referências temos para nos auxiliar a explicar o tempo às crianças. De nada adianta dizer para o filho pequeno que tal fato irá acontecer na primavera. Qual é o significado visual da primavera nas grandes metrópoles? Praticamente nenhum. O mesmo vale para as demais estações do ano.

É por esses motivos que explicamos o tempo para as crianças mediante os fatos e acontecimentos. Mas, insisto, é preciso buscar fatos e acontecimentos interessantes para elas. Assim, o passar do tempo, o passar do senhor de todos os destinos, estará contribuindo para que elas sintam que a vida delas é extraordinária.