Mergulhar no sistema financeiro é ‘igual’ a mergulhar no mar

por Eliana Bussinger

Sempre nadei em piscina e mal. Sou de São Paulo, onde não há praias e a gente aprendia – quando aprendia – em piscinas. Alguém criado em beira de praia, aprende a explorar a costa, mergulhar, nadar entre as ilhas. Para os nadadores de piscina, qualquer 200 metros no mar podem ser aterradores. Para mim é. É difícil vencer esse medo.

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Eu sinto, aliás, não tê-lo vencido. Isso me atrapalhou muito no decorrer da minha vida. Deixei de aproveitar muitos momentos que eu acredito teriam sido poéticos. Muitas vezes fiquei na praia olhando as pessoas cruzando entre ilhas ou pulando dos barcos, no mar. Por não saber, não conseguia me arriscar. Ainda bem!

O que eu deveria ter feito? Ter acreditado em mim, para começar. Ou seja, criar coragem para vencer meus medos. E depois aprender.

O sistema financeiro criado pelo homem, contém as similaridades, disparidades e controvérsias da forma humana de viver. Assim, em se tratando de risco, saiba quem você é, conheça seu perfil e suas limitações. Não depois de se atirar ao mar, mas antes. Ou seja, antes de investir. Assim como eu não creio que me meter dentro do mar seria a melhor forma de aprender, não use o mercado para aprender quem você é.

Também não use isso para justificar perdas. Ou arrependimentos. Se eu soubesse nadar no mar, teria tido momentos maravilhosos, tenho certeza. De aventuras e de descobertas. Momentos românticos, em ilhas perdidas. Mas não aprendi. E o tempo não perdoa.

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"Se eu tivesse aprendido a investir em Bolsa poderia ter obtido ganhos surpreendentes nos últimos três anos". Creio que poderia. Veja a performance da Bolsa de Valores brasileira nesse período. Foi fantástica. Bons resultados teriam sido sim possíveis. Garantidos não, mas possíveis sim. A vantagem é que para investir você não precisa necessariamente de vigor físico. Basta vigor intelectual.

Mas daqui para frente, tudo pode mudar. Embora a maioria de nós do mercado financeiro sequer cogite tal possibilidade. Torcemos para que o mercado de capitais brasileiro se fortaleça, que mais e mais empresas abram capital e que milhões de pessoas tornem-se investidores de longo prazo.

Mas se você resolver investir e perder, precisa estar ciente de que essa possibilidade existe.

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Conheço pessoas que perderam na grande crise da Bolsa da década de 70, e ficaram tão traumatizadas que até agora reclamam disso: "Porque é mesmo que eu não comprei uma casa na praia, ou não fiz aquela viagem, ou não coloquei o dinheiro na poupança?"

E esquecem que muitas pessoas perderam dinheiro para muitos planos de governo, sem ter – voluntariamente – arriscado nada. O Plano Collor, sem dúvida, é um bom exemplo. Ao congelar as poupanças pegou muitas pessoas de surpresa.

Que tal aqueles que investiram suas reservas financeiras no sonhado sítio e depois descobriram ser uma furada? Não tinham vocação para o mato e os mosquitos. A escoliose nas costas não permitiu sequer plantar o sonhado canteiro de temperos exóticos. Não encontraram um caseiro na redondeza para plantar salsinha e cebolinha. Os filhos nunca tiveram a intenção de passar mais do que um fim de semana por ano lá. Aí decidiram vender e ninguém quis comprar. O dinheiro ficou empatado em um sonho que não foi bem analisado. Os ativos do mercado imobiliário (e o sítio está incluído nele) quase sempre se caracterizam por pouca negociablidade (ou pouca liquidez). Ou seja, nem sempre tem quem queira comprar pelo valor que você quer vender na hora que você precisa.

Traumas e mitos com relação ao mercado também são criados por imprudência. Você precisa saber como vai se sentir se houver problemas dessa natureza. Precisa construir confiança – pelo conhecimento – antes de decidir onde vai investir seu dinheiro.