Racismo, antissemitismo e indiferença

por Roberto Goldkorn

De todas as manifestações da estupidez humana (e são demasiadas) a prática do antissemitismo é em minha opinião a mais odiosa. Mesmo o próprio pensamento antissemita sem qualquer colocação na prática já é ignomínia. Conheço um rapaz que se declara antissemita. Defende com a ênfase dos ahamadinejas o seu ponto de vista, dizendo que são os capitalistas judeus americanos que mantêm as guerras no mundo e a miséria internacional! É um argumento tão rasteiro que nem merece ser contestado, mas seria simples fazê-lo. Se isso fosse verdade não teria havido o Holocausto. Se esse punhado de “judeus” capitalistas superpoderosos realmente existissem, seus irmãos e irmãs não teriam sido massacrados de forma tão brutal não só pelos nazistas, mas também pelos russos, católicos e tantos outros.

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O antissemitismo (antijudaísmo na verdade) é antigo e espalhado pelo mundo. Todas as justificativas para a sua prática não resistem a um cutucão minimamente racional. Recentemente grupos de jovens que se auto denominam neonazistas reapareceram no noticiário policial. Como não é tão fácil assim atacar judeus, eles partem para punição de negros e homossexuais, pobres é claro. Como seus heróis inspiradores a marca de sua atuação é a covardia, baixa, infame. Defendem os seus “pontos de vista” (como um completo cego pode ter pontos de vista?) com uma argumentação tosca e cheia de firulas pseudoculturais, com mais furos que os buracos do queijo suíço. Mas eles têm barras de ferro e soco inglês. A ideologia racista é burra, rastaquera, mas sabe dar porrada. Os judeus vítimas preferenciais desses coisas, aprenderam bem essa verdade ao longo dos séculos.

Um dos autores que mais respeitos na atualidade Gerald Messadié, em sua brilhante História Geral do antissemitismo, diz o seguinte: “Pensar que se pode guardar dentro de si um Hitler adormecido, é um a idéia que chega a levar ao desespero". Mas existem muitos desses micro Hitlers escorrendo seu ódio pelos cantos mais infectos do mundo e às vezes até sobem em palanques. Pensar que exista gente que condena ao limbo da existência seres cujo único crime foi ter nascido, é muito doloroso, é vergonhoso. De minha parte aprendi a lição com meus antepassados que se deixaram levar passivamente para a humilhação, tortura e morte. Estarei sempre pronto a discutir com eles os seus argumentos antissemitas, racistas e preconceituosos. Mas sei por experiência pessoal e histórica que esses seres abissais não conhecem nem contemplam a força das palavras, nem admitem o contraditório. A exemplo dos meus antepassados, continuo sendo um homem de palavras, mas ao contrário deles levo a minha arma carregada comigo. Nunca me entregarei como cordeiro sacrificial aos algozes da civilização.

Primo Levi

Primo Levi um judeu que escapou do campo de concentração acabou suicidando-se mais tarde, pois não suportava viver com as lembranças das trevas mais densas que a humanidade produziu até hoje. O autor supracitado, nos lembra que Hitler e sua corja eram seres comuns, pequenos burgueses comungando de uma existência frugal, que germinaram a semente do mal diante da indiferença de seus concidadãos. Isso não pode voltar a acontecer. Não podemos nos permitir assistir da poltrona a ressurgência dessa ideologia.

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As pessoas conscientes têm a obrigação de educar seus filhos, sobrinhos, vizinhos, amigos, sobre essa doença humana chamada racismo, antissemitismo, etc. O preço para a indiferença é muito alto e muito doloroso. Como disse o Gerald Messadié: “O que está em jogo é sua própria natureza (refere-se ao ser humano civilizado), a imagem que faz de si próprio, a confiança que atribui a si mesmo e ao próximo, e a fé na possibilidade de viver uma existência diferente da existência de uma bactéria ou de um animal selvagem”.