Da nuvem cibernética ao registro akáshico

por Roberto Goldkorn

Recentemente estava em outro país precisando importar dados para o computador novo de minha filha. Meu filho me explicou: “Peça a senha dela, que vamos na nuvem e trazemos os arquivos para colocar na máquina nova”.

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Pela primeira vez descobri que minha filha tinha seus arquivos numa “nuvem”, e essas coisas tão modernas me levaram numa viagem ao meu passado recente.

Há exatos 32 anos fiz uma palestra no Rio de Janeiro, na qual para explicar um conceito metafísico, recorri a uma comparação estranha, quase uma profecia. Disse mais ou menos que o avanço da tecnologia iria nos trazer a confirmação de muitas afirmações ocultistas. Naquela época nem computador eu tinha e a internet era uma experiência universitária nos EUA.

Mas a existência da possibilidade de uma rede de conexões interpessoais já se anunciava à minha tese: “Todos nós estamos interligados — de um chinês da remota província de Xing Ling até o músico baiano do recôncavo. Todos nós nos influenciamos reciprocamente em proporções desiguais”. De certa maneira estava falando da moderna Teoria do Caos.

Um gesto feito no Alaska por um nativo poderia desencadear uma revolução na Arábia duzentos anos depois. O nascimento de uma criança em Belém poderia mudar o rumo da civilização.
Ironicamente seria a mais avançada tecnologia que iria dar um exemplo prático daquilo que os místicos diziam existir em planos ocultos.

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Eu falava que havia um conceito místico da absoluta interconectividade entre todos os seres do universo — a ação de um influenciaria a vida de outro, mesmo desconhecido, e a milhares de quilômetros de distância. Na palestra disse que acreditava que um dia o avanço da tecnologia iria reproduzir esses conceitos, mas nunca imaginei que chegaria tão longe em tão pouco tempo.

Quando vejo a internet com suas redes de relacionamento, penso logo na rede de encadeamento cármica, onde as pessoas que têm afinidades vibratórias se juntam, se comunicam e interagem. Todos estamos interconectados, mas na minha rede social só entram pessoas com quem tenho alguma, ainda que mínima, afinidade e, quando essa afinidade passa a ser destoante, eu a desligo como certamente já devo ter sido desligado da rede de alguém.

Penso também no conceito de “nuvem”, um espaço virtual praticamente ilimitado onde todos as informações digitais dos usuários podem estar guardadas e não apenas em seu PC. Quando, na Idade Média, os alquimistas desenvolveram a ideia de Registro Akáshico, um espaço fora do espaço onde as informações e conhecimentos da humanidade estariam armazenados para fins de “Justiça e Evolução Cármica”, os mais cartesianos desdenharam da ideia. Mais tarde outros nomes surgiram para denominar esse conceito: Anima Mundi, Memória da Espécie, e modernamente uma elaboração do psicólogo suiço C.G.Jung: o Inconsciente Coletivo.

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O Inconsciente Coletivo seria para o Inconsciente Individual, como a “Nuvem” digital é para o computador pessoal.

Imaginem isso daqui a dez, ou mais ainda, vinte anos. Imaginem um banco de memória planetário, onde praticamente todo o conhecimento humano, desde as maiores bobagens até os desenvolvimentos científicos mais sofisticados estariam armazenados. Blogs pessoais, fotos, livros, fragmentos de conhecimento, retratos do cotidiano, recuperção da história, futurologia, os medos e esperanças de cada um de nós, tudo ali armazenado, guardados por senhas pessoais, que com um pouco de habilidade poderiam ser quebradas. Essa era a ideia antiga de Akasha, dos antigos gnósticos, alguns pré-socráticos, alquimistas e magos.

Esse espaço-tempo, memória das coisas que a nossa espécie fez, faz e fará, passaria a ser algo vivo, inteligente, dotado de energia que se autoalimenta ao mesmo tempo que é alimentada por mais informação de todos nós.

Isso que os tecnocibernéticos criaram — essa tal “nuvem” é apenas a materialização de um fenômeno da natureza humana, já há muito intuido ou mesmo conhecido de alguns místicos e ocultistas privilegiados.

Nós não estamos inventando nada de novo, apenas materializando ideias platônicas que já acompanham a humanidade desde tempos imemoriais.

Um dia alcançaremos a imortalidade de nossos intelectos e esse dia não está longe. Da mesma forma que em vinte anos poderemos substituir todas as partes do corpo humano por peças de biotecnologia nos proporcionando maior durabilidade da “máquina”, iremos poder transferir nossa memória inteirinha para um escaninho na “nuvem”. Certamente os netos de minha neta poderão conversar com ela dez ou quinze anos após sua morte física, saber de suas ideias, emoções, memórias e experiências, apenas acessando seu arquivo na “nuvem”.

Hoje alguns seres especiais, como por exemplo, Chico Xavier, tem acesso a esse arquivo, a comunicação ainda é precária, porque na verdade essa comunicação interplanos é uma violação de leis naturais. Mas ter acesso aos meus arquivos pessoais, deixados de propósito na “nuvem” não será problema, e a morte não será mais esse esquecimento, essa imensa saudade.

Êta modernidade maravilhosa, que vem aos poucos replicando, via tecnologia, aquilo que os poucos escolhidos diziam existir no plano espiritual. Nós não criamos algo do nada, existe uma ideia anterior que guia os passos da criação humana.

Assim, hoje, vejo com satisfação a realidade confirmar minhas palavras amalucadas e para alguns sem sentido de 32 anos. Em que me baseei para ter esse insight? Na eterna fonte de conhecimento grafada na mítica Tábua de Esmeraldas atribuída a Hermes Trismegistos: “O que está em cima é tal qual o que está em baixo”. E nada mais.