Entenda a autossabotagem da prosperidade

por Roberto Goldkorn

Minha filha mais nova adora uma cantora da qual nunca antes havia ouvido falar. Eu ouvia as músicas dela, gostava do que ouvia, e sabia que estava ali um grande talento musical. Mas não ligava o nome à pessoa. Até que meses atrás li algo sobre internação por abuso de drogas, fuga da instituição e uma música feita como crítica a essas tentativas de reabilitação “Rehab” (Reabilitação).

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Os mais antenados já sabem de quem estou falando, ela mesma, a piradona do penteado e visual retrô: Amy Winehouse! A partir daí comecei a ficar mais ligado nas peripécias de Amy. Prisões, internações, confusões… Na última deu um direto no queixo de um fã que (dizem) tentou puxar seu cabelo durante um show. Minha filha diz que já existe uma bolsa de apostas tentando adivinhar quando ela vai passar a fazer shows no nadar de cima (ou de baixo).

Amy Winehouse é um mau exemplo. Não falo do ponto de vista moral, nada daquela história de que ela contamina os jovens com a sua demência e destempero. Também não me refiro ao fato dela beber ou se drogar, afinal isso não é mais novidade, e não assusta mais ninguém, creio eu. O que quero dizer é que ela é um exemplo péssimo para o modelo de sucesso de muitas pessoas. A Amy vai reforçar um chavão péssimo que diz mais ou menos assim: Está vendo como dinheiro e fama, não trazem a felicidade?

Bordão infeliz

Isso me lembra inclusive a letra de uma música do Dorival Caymmi, que cantava: “Triste de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz”. Não há nada mais sabotador dos programas de riqueza que esse bordão. É aquela coisa de dizer: dinheiro não traz felicidade, ou todos os ricos que conheço são infelizes, suas famílias são desestruturadas, se drogam, etc. e ai citam exemplos reais. Nada mais mentiroso, nada mais falacioso e corrosivo. Claro que os exemplos existem, mas são pontuais. Existem ricos e famosos, infelizes, drogados, bêbados, pervertidos, mas existe também pobres, gente de classe média, etc.

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Pela minha experiência atendendo pessoas de posses e notórias, posso afirmar: a maioria está feliz, curte a vida muito mais que o resto dos mortais, e quando têm problemas suas chances de minimizá-los são obviamente maiores. Amy é bebum sim, mas o Zé “Pudim de Cachaça” que mora num barraco também é. O Kurt Cobain se matou, e tantos outros seguiram o mesmo caminho, mas a maioria dos ídolos pop, artistas famosos e milionários está chegando aos sessenta e setenta em plena forma, mas deles ninguém fala, nunca os tomam com exemplos do bem que fazem a fama e o dinheiro.

Antiprosperidade

Acreditar que a riqueza e a felicidade são antagonistas é um perigoso ingrediente de antiprosperidade, que vão se somar a tantos conceitos sabotadores veiculados pelos nossos pais e pela cultura da pobreza e da mediocridade. Essas ervas daninhas são programadores nefastos que vão ao longo da nossa vida ora sendo reforçados, ora contestados. O mais comum, no entanto é que a gente vai sendo programado e reforçado por elas. Quando ouço a Amy cantando logo penso em algumas pessoas dizendo: “Tá vendo? Rica, famosa, idolatrada mundialmente, infeliz, drogada, fazendo de tudo para se autodestruir.”.

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A conclusão não dita mas introjetada é: “É verdade, não vale a pena se esforçar para ser rico e famoso, não quero acabar babando e trêbeda em pleno palco. Prefiro ser pobre mas feliz.” E ao se programar com essa falácia, o nosso anjo interior que alguns chama de Inconsciente diz: “Que assim seja!