Sedução: Está só e sofre muito? Saiba o que fazer

por Roberto Goldkorn

Uma pergunta me foi feita por um jornalista na semana passada e, pelo pouco espaço disponível, a resposta não pôde ser adequada à profundidade da pergunta.

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P- Solidão é doença?

R- Não.

R- Sim.

A resposta parece-se com aqueles enigmas que os mestres zen propõem aos seus discípulos. Porque não, a solidão não é uma doença. Mas sim, a solidão é uma doença.

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A solidão não é uma doença, se ela é buscada, se existe um preço que a pessoa paga para obtê-la.

Quando alguém persegue a solidão como aquele espaço/tempo onde vai lamber suas feridas, reagrupar suas forças esquartejadas pela intensa exposição social, então a solidão é um remédio.

Existe, porém quem faça de tudo para ficar só, e depois reclame de solidão. São os “esquizofrênicos”. Essas pessoas são essencialmente egoístas, não suportam partilhar, não doam, não emprestam, não dividem. E por fim quando se veem sozinhas, saem por aí contaminando o mundo com seu ressentimento.

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Mas e quando a solidão é doença?

É possível ficar realmente doente de solidão?

A doença da solidão se dá quando ela é sinônimo de desamor, de indiferença dos deuses do amor e do afeto a quem quer tanto, precisa tanto de amor, carinho, atenção e sexo.

A sensação de abandono, o famoso “ninguém me ama, ninguém me quer” cai como uma maldição, uma nuvem negra, gorda e pesada que parece ter sido feita sob medida para aquele indivíduo.

Essa solidão é doença e se agrava quando o indivíduo “escolhido” se revolta e se debate contra esse “destino” maledeto.

É doença grave, pois quanto mais esforços a pessoa faz para escapar das malhas dessas rede invisível que o afasta das delícias do amor correspondido, mais ele se embaraça.

Conheço gente que vive batendo na porta dos pais e mães de santo, gastando o que tem e o que ainda vai ganhar em trabalhos dos mais prosaicos aos exóticos.

Os mais moderninhos entram em três quatro, cinco sites de relacionamento criando perfis que em geral não refletem a verdade de quem de fato são.

Um conhecido coloca nos sites uma foto sua de dez anos atrás e trinta quilos mais magro.

A solidão é uma doença quando a falta de amor ou de companhia é agravada por uma carência que aumenta exponencialmente na proporção do tempo de privação do amor. Cada dia, cada semana sem afeto, maior é o buraco da solidão e maior é o desespero, o afã de capturar alguém.

Quanto mais ansiedade nessa busca frenética, mais “repelente” a pessoa se torna, menos chances tem de sair do exílio.

Como disse sabiamente minha amiga Clarisse Lispector: “É preciso estar distraída para que o telefone toque”.

Mas pedir isso a quem já viu seus melhores anos passar em branco, ou só pode inventariar “tranqueiras” em seu currículo amoroso, admito é pedir demais.
A única solução é “morrer”. Apressei-me depois de digitar a palavra, a colocá-la entre aspas para não provocar maiores danos.

Não adianta ficar batendo a cabeça no muro, só para sentir o alívio assim que para.

É preciso que esse ser com seus valores, seus passivos, sua maneira de ver o mundo, morra. Não conheço outro jeito.

Não aconselho a se debater, a tentar atalhos, fórmulas mágicas, forçar a barra. Minha experiência diz que pode até funcionar, pode até trazer o “ser amado em 30 dias” mas essa emenda será sempre, ou quase sempre pior, muito pior que o soneto, se é que os mais jovens entendem o que estou querendo dizer.

Já escrevi um livro sobre isso, portanto não me cabe aqui, repetir as orientações do livro.

Mas não posso terminar esse artigo sem jogar alguma luz nesse beco sombrio.

Uma das maneiras de morrer, é não acusar o golpe da solidão, ou seja não vestir a carapuça da solidão. Não se considerar solitário, não fazer as caretas, as rugas, as expressões e respostas comuns aos solitários/ressentidos, é um começo.

Fingir que é tudo, menos solitário. Sim fingir mesmo, não tenho medo de afirmar isso.

Começa com a encenação de um bom papel.

Mostre ao mundo que tecnicamente você pode até estar só, mas de fato sua face sorridente, amorosa, agradecida, não passa recibo do que vai em seu íntimo.

Dê uma rasteira na solidão e em seus comparsas.

Não demonstre nenhuma ansiedade, aja como se fosse a pessoa mais bem resolvida do mundo e em hipótese alguma está indo com muita sede ao pote.

Nessa encenação será útil se aprender a ler, escrever, tocar um instrumento, aprender a dançar, pintar, caminhar ou fazer trilhas… Sei, sei muito bem que todas essas atividades nem passam pela sua cabeça, é isso mesmo, a solidão ocupa espaços com seu fel.

Isso é apenas uma estratégia circular, uma tática guerrilheira. Não se enfrenta o programa instalado de solidão de frente, a derrota é certa.

Finja ser uma pessoa de bem com a vida, agradeça a cada dia por ser muito amado e por amar, por ter amigos, por ser querido, mesmo que nadica de nada disso seja verdade…ainda.

Você que está se enquadrando no perfil que desenhei, me diga: vem tentando da sua maneira até agora, não é? O que conseguiu? Onde chegou?

Por que não tentar do meu jeito? Arrisque, seja corajoso. Depois me conte.