Para arriscar no novo, é preciso confiar naquilo que não vemos

por Patricia Gebrim

Escrevo este artigo em meio às verdes montanhas de Minas Gerais. Olho pela janela e sou brindada pelo suave arredondado das montanhas, que parecem soprar estas palavras em minha direção. É bom sentir essa paz, e o fato de estar momentaneamente longe da cidade, me dá muito o que pensar.

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Meu pensamento me leva a olhar para o preço de tudo. Quando estamos em meio à nossa vida, tão cheia de obrigações, nem sempre nos damos conta do preço que pagamos por escolhas que, muitas vezes, nem mesmo são conscientes.

O preço da vida que levo é alto. Muitas vezes custa minha paz, custa meu silêncio, custa o cafezinho à beira do fogão de lenha que acabei de tomar, custa as conversas que amo ter, sobre a vida, o mundo, e como podemos tornar tudo melhor; custa minhas amizades, custa meu amor. Custa demais.

Não é fácil nos darmos conta disso, pois logo atrás dessa percepção vem a incômoda pergunta:

– E o que vou fazer com isso?

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Para mudar é preciso desapegar

Não é fácil mudar, eu sei. Sinto na pele o sopro assustador dos ventos de uma possível mudança. Para mudar é preciso coragem. É preciso desapegar, deixar para trás aquilo que ilusoriamente parece nos oferecer segurança. Deixar para trás o aparente conforto, a doçura do leito de morte. É preciso arriscar o novo, e para isso é preciso confiar naquilo que ainda não vemos. Uma tarefa heróica, não é para qualquer um.

Por outro lado, fugir às mudanças necessárias é morrer um pouco por vez, é deixar a vida escorrer por entre nossos dedos, e permitir que nossa alma vá ficando aprisionada em uma falsa torre conceitual. Cada tijolinho, uma crença mofada assentado sobre nossos medos, esse cimento sombrio que enclausura nossas asas.

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Todos temos o desejo secreto de sermos heróis. No entanto, muitas vezes tentamos ser heróis de maneira equivocada, superficial talvez. Ouça. Não precisamos ser heróis para essa sociedade adoecida que nos rodeia, que idolatra celebridades vazias e valoriza conquistas puramente materiais. Essa é uma distorção que nos aprisiona mais e mais. Nos faz ter que matar nossa alma aos poucos para conquistar falsos ícones de poder. Não. Não é assim que ganharemos nossa parcela de brilho sobre-humano.

O herói que precisamos libertar de dentro dessa torre maldita é aquele que tem a coragem de fazer o que for necessário para tornar-se quem de verdade é. O herói que de verdade somos não quer conquistar um brilho falso a qualquer custo. Ele quer mais, quer também o bem do outro, pois sabe que só dessa maneira podemos todos ser de fato felizes. Não se pode ser feliz sozinho.

Como seria bom se as supostas celebridades idolatradas e cheias de conquistas meramente materiais soubessem disso. Quanto bem poderiam fazer, se fossem realmente heróis, e não essas tristes caricaturas distorcidas da real beleza do ser humano.

O que verdadeiramente somos, senão seres maravilhosos, capazes de sonhar coisas belas, de criar, de amar, de produzir mudanças no mundo, de iluminar, de libertar?

Nada isso pode se conquistado a partir do que existe fora de nós. Tudo aguarda mansamente em nosso intimo, à espera de ser descoberto. Assim, não importa quais sejam as escolhas que façamos em nossas vidas, não podem custar a existência dessas qualidades maravilhosas que abrigamos na caverna secreta onde nosso herói nos espera.

Apenas quando nos apropriamos da luz que existe em nosso íntimo, nos tornamos verdadeiros heróis e heroinas. E finalmente adquirimos o brilho real, muito mais belo do que os desesperados flashes e holofotes que faiscam tristemente sobre o tapete vermelho.