Famílias disfucionais podem gerar doenças em seus membros

Por Rosemeire Zago

A hierarquia familiar até poucos anos atrás era uma estrutura rígida, seguindo padrões matriarcais ou patriarcais, onde ainda hoje encontramos filhos e netos frutos dessa estrutura familiar e suas consequências.

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Quando há uma família disfuncional, ou sejam, conflitos, brigas, desarmonia, um membro tenderá a sintetizar a patologia da família, que muitos chamam de bode expiatório. Geralmente é o mais sensível quem adoece. Há famílias onde apenas um membro não consegue assumir toda carga e outro também adoece, sendo alguém com que se tenha um vínculo afetivo mais forte e os dois adoecem, ou ainda, quando um fica curado, outro adoece.

Todo esse processo acontece inconscientemente como forma de manter algum vínculo através da doença. Mas há algumas características estruturais familiares que geram ou podem facilitar a psicossomatização:

– Famílias onde não ocorre a verbalização de emoções e de afetos, considerando que o fato de todos estarem juntos não é necessário falar o que sente
– Famílias onde os contatos corporais são raros ou inexistentes, sendo que as trocas emocionais e físicas só ocorrem através de presentes
– Famílias que se desdobram em atenção para alguém quando este se encontra doente, ou seja, é transmitida a mensagem que ficar doente é bom, pois assim se recebe atenção
– Quando ocorre na família mensagens contraditórias, incoerentes, ou seja, criança pergunta por que a mãe está chorando e esta responde que não está chorando ou que é “impressão”
– Quando a rigidez e coerção são muito altas, havendo castigos, brigas, comparações
– Quando existe o medo de:
– De mostrar sentimentos, emoções e desejos entendidos como “errados, vergonhosos, feios”
– De não corresponder à expectativa muito elevada dos pais, podendo adoecer para ser poupada da crítica
– De não ser cuidado e amado o suficiente estando bem de saúde, ou seja, se não ficar doente poderá ser abandonado
– De ser punido por estar bem, como se fosse pecado ter saúde
– Da morte, e estando doente e se cuidando sente como se tivesse a morte sob controle; (mais comum em idosos)
– Religiosidade: Pode ser interpretada de forma extremamente castradora e a pessoa adoece como forma de purificação, ou ainda, a disseminação da culpa que está muitas vezes relacionada com a cultura religiosa
– Dependência química: ela em si já aponta uma desorganização familiar que ao mesmo tempo favorece o surgimento de outras desorganizações.

Podemos perceber que a doença pode ser uma forma encontrada para que as pessoas de uma família estejam próximas e mostrarem afetos, mas podemos perceber com freqüência, que durante o surgimento da doença, todos podem se aproximar, mas em seguida se separaram novamente. Mas será que precisamos chegar a uma doença para termos proximidade?

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É importante salientar nas manifestações psicossomáticas a sua correlação temporal com determinados acontecimentos ou datas. Os acontecimentos se referem a uma perda real como morte de um ente querido, ou situações equivalentes como mudanças, divórcio, separações de casa, desemprego, crises, etc.

Por exemplo, comum uma pessoa adoecer, anos depois, na mesma data em que o pai faleceu. As datas, ou são datas de significação universal como Natal, Ano Novo, ou específicas, como o dia do aniversário, ou ainda, uma data que marca repetidamente uma situação traumática ocorrida anteriormente. O que reforça a somatização frente a situações de perda e à dor que estas implicam.

Essas informações não são com o intuito de buscar culpados, mas entender a origem de alguns conflitos que temos dificuldade em lidar; assim como rever a maneira com que muitos pais, ainda hoje, com tanta informação, educam seus filhos, podendo repetir padrões antigos de educação sem perceberem que estão fazendo aquilo que prometeram a si mesmos nunca mais repetirem.

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