Relações significativas nos ajudam a evoluir

por Patricia Gebrim

Outro dia eu estava fazendo uma lista. E a pergunta que motivava a lista era assim:

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– Se existirem outras vidas, quais seriam as pessoas que eu gostaria que nascessem perto de mim?

Bem, o que menos importa aqui, é se existirão ou não outras vidas, mas essa pergunta nos mostra com clareza quais são as pessoas verdadeiramente significativas em nossas vidas.

Após anos e anos de prática na psicoterapia, me relacionando semanalmente, de forma profunda, com tantas pessoas, tão de perto e sem máscaras, aprendi que o relacionamento verdadeiro é uma das mais poderosas ferramentas de transformação do ser humano. Que linda é essa entrega. Mas é preciso que a gente compreenda de que tipo de relação estou falando. Aqui chamo uma relação dessas de “relação significativa”.

Nem todas as relações são dessa natureza. Aliás, as relações significativas são exceções e não regra. A maioria das relações, no mundo de hoje, acontece num espaço de superficialidade onde o significado não tem espaço para se constelar. Estar junto não é o mesmo que se relacionar. Pessoas podem se reunir por horas à volta de uma mesa de bar sem trocarem absolutamente nada entre si. Esse tipo de encontro pode sim ter outras utilidades, como ajudar a criar relaxamento, aliviar tensões; mas em termos de transformação podem não surtir efeito algum, podendo até mesmo bloquear o processo de aprofundamento necessário para que algo mude em nós. Um exemplo disso: é comum que as pessoas se refugiem em uma vida social intensa como uma maneira de evitar o contato consigo mesmas.

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Transformação requer aprofundamento, requer contato com o que existe sob a superfície da nossa vida cotidiana automatizada, muitas vezes medíocre. Somos mais do que parecemos ser.

Quando ficamos sós, por exemplo, mergulhamos em nosso íntimo e abrimos portas que permaneciam invisíveis em meio à correria do dia a dia. Crescemos com isso. Nos tornamos mais. Mais sábios. Mais conscientes. Evoluímos. Mas nem todos conseguem aceitar a solitude como algo saudável e positivo. Talvez tenhamos sido condicionados a temê-la, talvez sejamos manipulados, forçados a ficar sempre longe daquilo que poderia nos libertar: nós mesmos. Como resultado desse condicionamento, muitos olham com desconfiança e até com medo para a possibilidade de ficarem sós. Nesses casos, um outro caminho possível para a evolução seria o que sugiro neste texto: precisamos aprender a cultivar relações significativas.

Como construir uma relação significativa?

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Uma relação significativa é um encontro humano que transforma profundamente quem dele participa, de maneira tal que ambas as partes saiam dele maiores do que entraram.

Algumas pessoas nos ajudam a enxergar melhor a nós mesmos, a resgatar de dentro de nós partes que não conhecíamos. Talvez não consigamos estabelecer relações assim em meio ao ruído das festas ou mesas de bar. Essa qualidade de encontro requer uma entrega que não pode se dar na superficialidade da vida. Muitas vezes um encontro entre pessoas precisa ser cultivado por meses, ou anos, até que chegue ao grau de maturidade de uma relação significativa, assim, há que se ter persistência, paciência, gentileza e compaixão na nutrição de nossas relações. Um relacionamento, para se tornar significativo, requer PRESENÇA. A nossa. A do outro. Requer coragem para olharmos no nosso íntimo, aceitarmos o que quer que exista por lá, e – muito importante – permitirmos que o outro nos veja, exatamente como somos, sem máscaras.

Quando permitimos que alguém chegue perto assim, não há como sairmos desse encontro da mesma forma como entramos. Uma transformação inevitavelmente acontecerá. A abertura e ausência de barreiras permitirá que, por alguns momentos, eu e o outro sejamos um, vulneráveis, abertos, entregues. A minha beleza e a beleza do outro se tornam uma mesma beleza. A minha feiura e a feiura do outro se tornam uma mesma feiura. Quer aprendizado maior? Pare um pouco e sinta isso…

Nós nos misturamos, e quando temos que nos “desmisturar”, sempre algo do outro soma em nós, e algo de nós soma no outro, e ambos se tornam maiores.

Uma sugestão: faça sua lista. Traga para a sua consciência a qualidade das suas relações e se permita sentir o significado de cada pessoa em sua vida.

Juntos somos mais poderosos.