Como explicar a origem dos santos?

Por Roberto Goldkorn

Volte e meia os meios de comunicação chamam a atenção do público para um fenômeno interessante: a devoção aos santos nas mais variadas camadas da população, inclusive entre os evangélicos que por conceito não crêem nos santos.

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Não é de hoje, que eu pagão assumido confio e me apego aos santos. Quando era pequeno, depois de uma visita a uma amiga de meus pais em outra cidade, o ônibus em que estávamos deslizava por uma estrada de terra em péssimas condições. Todos estavam apreensivos e havia até algumas mulheres chorando. Minha mãe conta que eu fui para o meio do ônibus (devia ter uns 5 anos) ergui a mão e disse: “Não tenham medo ela vai nos levar até em casa, e nada vai nos acontecer”. Quando minha mãe foi ver que objeto era aquele em minhas mãos, descobriu que era uma imagem de ferro de Nossa Senhora da Aparecida que eu havia roubado da sua amiga. Essa imagem ficou comigo quase quarenta anos e sumiu misteriosamente.

Muitas vezes durante esse tempo me perguntei qual era a origem e realidade por trás da força dos chamados santos católicos. Na Índia só para dar um exemplo, alguns seres especiais passam a ser tidos como santos mesmo em vida, sem precisar de um referendo da religião para tal. O passaporte para esse clube fechadíssimo? Uma vida dedicada ao caminho espiritual, sem desvios ou parada para descansar. A renúncia dos místicos indianos aos apelos da vida mundana, e a manifestação de fenômenos, que aqui chamaríamos de milagres também ajudam. Mas para nós ocidentais e sob a enorme influência do catolicismo, os santos oficiais, autorizados pela Igreja são os mais cotados, embora o povo volta e meia eleja seus santinhos particulares sem o aval dos padres.

O padre Cícero Romão Duarte de Juazeiro, é um exemplo disso. São Jorge outro, e muitos mais, como a menina Odetinha, para muitos cariocas uma mártir que depois de morta virou milagreira. As mentes mais racionais perguntariam como esses seres humanos como nós, depois de mortos poderiam obrar tantas maravilhas e estar em tantos lugares ao mesmo tempo. Será que depois de desencarnados adquirimos o dom da ubiqüidade? Será que a ausência de um corpo físico nos habilitaria a produzir prodígios justamente num plano que acabamos de deixar? Respostas difíceis para um simples mortal. Mistérios do além e do aquém.

Mas diante desses altos cumes inatingíveis pela mente apenas humana, um consolo nos resta: podemos especular, avançar hipóteses, sem medo de sermos pegos em erros rasteiros como quem erra uma conta de subtrair. O máximo que pode acontecer é algum grande e ascencionado mestre conhecedor dessas profundidades ler a nossa matéria e balançar a cabeça complacente diante de tanta ignorância. Há duas possibilidades que considero muito promissoras e não excludentes.

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Hipótese I – Egrégoras

A primeira é postulada por correntes ocultistas que nos fala das Egrégoras. Que seriam? Grandes “torres” invisíveis de pensamentos/emoções afins entrelaçadas e formando um ser “vivo”. A base desse conhecimento é: pensamentos são coisas. Sobre uma igreja por exemplo, ou em locais de peregrinação, se “construiriam” ao longo do tempo essas torres com os pensamentos cheios de fé e de esperança de todos que ali vão em busca de mais ou menos a mesma coisa: cura para suas dores, e realização de seus desejos. Esses pensamentos carregados de emoção vão se intertecendo até criarem esse “ser” que ao mesmo tempo é a soma de todos os pensamentos individuais, e os transcende. As velas, sacrifícios, orações, cânticos, apenas tornam a Egrégora mais forte.

Hipótese II – ‘Milagres’

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A outra lei do ocultismo que mata a charada diz: “Tudo que vem à vida, luta para permanecer nela.” E luta de que maneira? Buscando mais alimentos (outros pensamentos afins) e evitando morrer (de inanição). Para isso, esse ser energético, pode fazer alguns “milagres” como, por exemplo, injetar um pouco dessa energia poderosa que acumulou em algum enfermo para acelerar seu processo de regeneração celular, ou impregná-lo de energia emocional a ponto de fazer jorrar substâncias que estavam bloqueadas, como dopamina, serotonina, e até adrenalina e outras. Esses neurotransmissores como vocês sabem podem trazer euforia aos deprimidos, pode sedar, pode até anestesiar dores agudas e por aí vai. As Egrégoras não são inteligentes no sentido humano, mas sabem o bastante do jogo, para se manterem vivas.

Hipótese III – Efeito placebo

A outra possibilidade, é fornecida pela medicina psicossomática. Estamos falando do famoso e tão injustamente desprezado efeito placebo. As pesquisas mais recentes e avançadas mostram que o efeito placebo é muito mais poderoso e influente do que pensam a maioria dos profissionais de saúde. Sabemos hoje que até cirurgias falsas podem dar certo quando o indivíduo acredita que foram feitas e com êxito. Não há espaço aqui para desfilar todos os avanços dos chamados fenômenos da fé, mas creiam, eles são abundantes e irrefutáveis.

O mestre Jesus sabia bem o que estava dizendo quando uma mulher enferma no meio da multidão sorrateiramente tocou seu manto e sentiu-se curada. Quando gritava para todos que Jesus a havia curado o Divino Mestre disse: “Tua fé te curou.” Assim as curas e desejos atendidos pelos santos poderiam ser creditados na categoria dos milagres da fé ou seja do efeito placebo.

Tenho um livro que relata alguns dos milhares dos milagres acontecidos em Lourdes. Ou tudo aquilo é uma perversa conspiração gigantesca para reforçar a fé, ou ali está uma imensa torre de energia de cura. Como não acredito nessas conspirações fico com a segunda hipótese.

A recente (?) popularidade dos santos porém não fica nisso, na suas capacidade de agilizar nossas demandas. Por serem figuras mais próximas de nós, tornam-se mais acessíveis ao nosso pensamento, eles têm mais concretude, além é claro de uma especialização muito ao gosto moderno. Sua fama de serem mensageiros, e levarem as nossas preces a Deus sem dúvida é um ponto a favor deles, embora eu considere essa qualidade um pouco forçada.

Anjos, santos, gnomos, auxiliares invisíveis das mais diversas categorias entram e saem de moda, pois vivemos a cata de adjutório para as nossas pequenas e grandes necessidades. Nós seres tão minúsculos diante desse mundão de Deus, cheio de mistérios insondáveis e de pedras no caminho. De minha parte trabalho com uma imagem de Santo Expedito na minha frente, ansioso como sou preciso tudo pra ontem, mas o santinho me assegura que HOJE resolverá as minhas aflições. Amém.