Fatores prejudiciais à saúde mental da mulher aliados ao ciclo reprodutivo

por Joel Rennó Jr.

O psiquiatra Prof. Dr. Joel Rennó Jr. esclarece os principais pontos da saúde mental da mulher aliados ao seu ciclo reprodutivo. Esse é o tema de seu primeiro livro "Mentes Femininas – A saúde mental ao alcance da mulher".

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O objetivo deste livro é auxiliar e ensinar todas as mulheres sobre a saúde feminina. Como alguns problemas surgem e o que fazer para evitá-los. E, se surgirem, como curá-los e a quem procurar. O livro trata de assuntos como TPM, menopausa, ansiedade, depressão entre muitos outros.

Vya Estelar – Por que o senhor decidiu escrever um livro unindo os focos saúde da mental da mulher aliado ao seu ciclo reprodutivo?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Porque na minha prática clínica de 15 anos, atuando especificamente nesta área de conhecimento médico, acompanhando também as principais publicações científicas, observei que os hormônios e suas respectivas variações em períodos críticos do ciclo reprodutivo feminino como o pré-menstrual, o pós-parto e a perimenopausa podem contribuir para o desencadeamento de transtornos depressivos e ansiosos em mulheres.

TPMOutro fato comum é a piora de algumas doenças como epilepsia, enxaqueca, alcoolismo, fibromialgia e bulimia na semana que antecede a menstruação. Portanto, o humor, o comportamento feminino e até mesmo algumas doenças clínicas sofrem influências significativas das peculiaridades do ciclo reprodutivo feminino.

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Vya Estelar – Qual é a função do hormônio estrógeno ou estrogênio? A queda desse hormônio afeta a saúde mental da mulher?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O estrógeno é um hormônio sexual feminino produzido nos ovários, embora pequenas quantidades dele sejam produzidas na adrenal (glândula que fica no pólo do rim).

O estrógeno promove o desenvolvimento das características sexuais secundárias como o desenvolvimento das mamas. O estrógeno age na mulher desde o intraútero, durante o desenvolvimento da gestação, organizando a arquitetura do cérebro feminino e sua ação continua na puberdade influenciando o humor e o comportamento; através da interação com receptores (proteínas) localizados na superfície dos neurônios que sintetizam e regulam a liberação de neurotransmissores (mensageiros químicos cerebrais) como serotonina, noradrenalina, etc. Sua ação em nível de SNC é marcante, tanto em nível estrutural quanto funcional. Leva até a alterações na forma como os neurônios estabelecem novas sinapses (comunicações).

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O volume de neurônios do hipocampo (região da memória) aumenta sob a influência do estrógeno.

Estrógeno e saúde mental – A ação do estrógeno no SNC, regulando vários neurotransmissores diferentes, pode explicar por que a sua queda pode causar depressão, por exemplo, em mulheres vulneráveis.

Vya Estelar – A TPM de fato causa todo esse “estrago” afetando o comportamento de forma drástica ou a própria TPM pode ser usada por algumas mulheres como uma “muleta psíquica” para justificar atitudes impulsivas, impensadas ou que não sejam politicamente corretas?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Na nossa sociedade, a TPM ainda é envolvida por muitos mitos e preconceitos. Apesar da maioria das mulheres apresentar a forma leve de TPM que melhora com mudanças de hábitos alimentares, atividades físicas e comportamentos, não podemos nos esquecer que os sintomas psíquicos graves ocorrem no universo de 3% a 9% das mulheres.

TPM grave

A TPM grave é conhecida como transtorno disfórico pré-menstrual, gera prejuízos sóciofuncionais significativos e muito sofrimento.

TPM grave – A impulsividade, a tristeza e a irritabilidade são sintomas marcantes e precisam ser tratados com antidepressivos serotoninérgicos (que aumentam a disponibilidade de serotonina no sistema nervoso central)

Infelizmente, até mesmo alguns médicos ginecologistas ainda não acreditam nessa hipótese, mas realmente ela existe e precisa ser encarada com embasamento científico.

Vya Estelar – Como a mulher atual encara a gestação? É um processo tranqüilo? Ou cada caso é um caso?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – A gestação costuma ter diferentes significados e representações para as mulheres. As percepções variam individualmente, algumas mulheres com mecanismos psicológicos neuróticos têm até uma exacerbação das angústias e neuroses durante a gestação.

Posso dizer que a gestação leva a mulher a reviver seus relacionamentos e suas vivências de filha (agora em outro papel) de uma forma positiva ou negativa, dependendo do seu histórico de vínculos afetivos e características de sua personalidade. Na gestação, a fragilidade de alguns relacionamentos conjugais ou familiares pode também se exacerbar.

Para algumas mulheres, torna-se um sinal de invasão e até desconfiguração do seu corpo e de sua vida. Isso não é para denegrir esta maravilhosa fase de vida da mulher, mas para deixar claro, sem preconceitos e com dados clínicos e científicos substanciais, que as vivências podem ser muito distantes daquele modelo mágico e idealizado de felicidade universal obrigatória.

Cerca de 10% a 20% das gestantes têm depressão, o que é ignorado nos exames de pré-natal.

Vya Estelar – Em caso de depressão ou mesmo tristeza durante a gestação, qual deve ser o procedimento?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O tratamento deve ser realizado quando o diagnóstico psiquiátrico detectou a doença depressão. É claro que isso precisa ser feito por um especialista e com todos os cuidados envolvidos, avaliando-se os riscos e benefícios envolvidos. Alguns antidepressivos podem ser utilizados.

A depressão pode prejudicar o desenvolvimento do feto e levar a um bebê prematuro, com baixo peso, caso não seja tratada.

Vya Estelar – Por que parte das mulheres tem depressão pós-parto? Como saber se está com essa depressão?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O fator biológico, devido à queda abrupta dos hormônios sexuais femininos, é a principal hipótese. Outros fatores de risco envolvem gravidez não planejada, conflitos conjugais, violências domésticas, antecedentes pessoais e familiares de depressão, uso de álcool e drogas na gestação, depressão na gestação que não foi tratada e idade (adolescentes podem ter taxas mais elevadas que a de mulheres adultas).

A depressão pós-parto ocorre em 15% a 20% das mulheres.

Depressão pós-parto: diagnóstico e sintomas

O diagnóstico de depressão pós-parto envolve a análise dos mesmos sinais e sintomas da depressão maior em outros períodos de vida da mulher: tristeza, desânimo, cansaço, fadiga, humor deprimido, pensamentos negativos (culpa, morte, ruína, menos-valia), indiferença ou rejeição à criança, anedonia (perda de prazer ou interesse pelas atividades habituais), alterações de atenção/concentração, alterações do sono e apetite e até ideação suicida.

Depressão pós-parto – Tais sintomas devem estar presentes por pelo menos duas semanas, na maior parte dos dias, com grandes prejuízos sóciofuncionais e sofrimento.

Reitero a importância de uma avaliação psiquiátrica, porque há diferentes subtipos de depressão. Muito cuidado para também se descartar quadros orgânicos que possam levar a sintomas depressivos como o *hipotireoidismo.

Vya Estelar – De que forma o climatério afeta o comportamento feminino?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Na realidade, o climatério vai de 40 anos até 65 anos de idade (transição entre a vida reprodutiva e a **senescência). O período crítico é a perimenopausa (início por volta dos 45 anos e termina até um ano após a menopausa, por volta dos 51 anos de idade).

Perimenopausa: sintomas

A perimenopausa é caracterizada por oscilações dos níveis hormonais, sintomas físicos (dores e ondas de calor) e sintomas psíquicos (tristeza, irritabilidade, depressão e ansiedade). A perimenopausa, mesmo em mulheres sem histórico de depressão, é um fator de risco para a depressão, aumentando a chance em duas vezes.

Vya Estelar – De que forma a infertilidade por parte da mulher ou do cônjuge afeta a sua saúde mental?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – A infertilidade, através da realização de sucessivos tratamentos, pode gerar angústia, ansiedade e depressão. Há muitas expectativas, muitas cobranças (sociais e familiares) e subjetivas nesta área delicada da dinâmica do casal. Aqui, novamente, os papéis individuais, a cumplicidade do casal são expostos a uma série de provas.

Os tratamentos costumam ser dificeis para algumas mulheres, gerando frustrações quando as tentativas fracassam. O contexto amplo do universo de vida de cada mulher infértil precisa ser analisado cuidadosamente, assim como de seu marido.

Diferentes significados e simbolismos advêm dessa análise pormenorizada. A psicoterapia de suporte é a primeira opção, deve fornecer recursos para essa mulher aprender a lidar com os fatores estressores específicos para ela e para o marido. O tratamento deve envolver o casal. Em algumas situações, o uso de medicamentos pode ser necessário.

Vya Estelar – Como o senhor trata as questões de anorexia, culto à magreza, dietas absurdas, consumo de anfetaminas?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Na realidade, são assuntos muito amplos e complexos, onde se requer uma análise individualizada.

As áreas médicas devem se integrar às questões sociais e culturais que envolvem o universo de vida das mulheres.

As mulheres que usam anfetaminas podem ser anoréxicas (que têm uma distorção de imagem corporal, emagrecimento excessivo, rígido e progressivo controle da dieta, ou seja, um transtorno alimentar grave), mas também podem ser mulheres normais em busca de um padrão corporal idealizado ou estimulado socialmente.

Conheço muitas mulheres que buscam ser magras porque se sentem rejeitadas ou com baixa auto-estima e até se dispõem a buscar todos os recursos (mesmo os arriscados) para conseguir tais objetivos. Obtêm medicamentos em Internet ou são influenciadas em academias de ginástica.

Algumas mulheres precisam ser magras por causa de suas profissões, carreiras e casamentos. Não podemos também nos esquecer que muitas mulheres tomam anfetaminas achando que estão tomando “produtos formulados naturalmente”, sem consciência plena do que estão utilizando.

Não existe remédio milagroso para emagrecer

Posso dizer que, até o momento, não há medicamentos milagrosos para emagrecimento – e mesmo dietas. Todos esses modismos são falsos e ilusórios, com riscos à saúde das mulheres.

Rimonabanto Já tivemos a retirada do rimonabanto (conhecido como “antibarriga”), um medicamento novo para emagrecimento que estava aumentando o risco para depressão e suicídio por atuar no SNC em receptores endocanabinoides.

Na prática, pouco ainda se conhece das vias complexas do metabolismo humano e as relações do mesmo com o controle do peso e da saciedade no ser humano.

*Hipotireoidismo: 1 insuficiência da atividade fisiológica da glândula tireóide; 2 má condição orgânica resultante dessa diminuição acentuada, caracterizada por baixa taxa metabólica e perda de vitalidade (Fonte: Dicionário Houaiss)

**Senescência: 1 qualidade de senescente; velhice; 2 processo de tornar-se senil; 3 condição do que está próximo de se tornar senil (Fonte: Dicionário Houaiss)

Fatores prejudiciais à saúde mental da mulher aliados ao ciclo reprodutivo

por Joel Rennó Jr.

O psiquiatra Prof. Dr. Joel Rennó Jr., colaborador do Vya Estelar, esclarece os principais pontos da saúde mental da mulher aliados ao seu ciclo reprodutivo. Esse é o tema de seu primeiro livro Mentes Femininas – A saúde mental ao alcance da mulher .

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O objetivo deste livro é auxiliar e ensinar todas as mulheres sobre a saúde feminina. Como alguns problemas surgem e o que fazer para evitá-los. E, se surgirem, como curá-los e a quem procurar. O livro trata de assuntos como TPM, menopausa, ansiedade, depressão entre muitos outros.

Vya Estelar – Por que o senhor decidiu escrever um livro unindo os focos saúde da mental da mulher aliado ao seu ciclo reprodutivo?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Porque na minha prática clínica de 15 anos, atuando especificamente nesta área de conhecimento médico, acompanhando também as principais publicações científicas, observei que os hormônios e suas respectivas variações em períodos críticos do ciclo reprodutivo feminino como o pré-menstrual, o pós-parto e a perimenopausa podem contribuir para o desencadeamento de transtornos depressivos e ansiosos em mulheres.

TPMOutro fato comum é a piora de algumas doenças como epilepsia, enxaqueca, alcoolismo, fibromialgia e bulimia na semana que antecede a menstruação. Portanto, o humor, o comportamento feminino e até mesmo algumas doenças clínicas sofrem influências significativas das peculiaridades do ciclo reprodutivo feminino.

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Vya Estelar – Qual é a função do hormônio estrógeno ou estrogênio? A queda desse hormônio afeta a saúde mental da mulher?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O estrógeno é um hormônio sexual feminino produzido nos ovários, embora pequenas quantidades dele sejam produzidas na adrenal (glândula que fica no pólo do rim).

O estrógeno promove o desenvolvimento das características sexuais secundárias como o desenvolvimento das mamas. O estrógeno age na mulher desde o intraútero, durante o desenvolvimento da gestação, organizando a arquitetura do cérebro feminino e sua ação continua na puberdade influenciando o humor e o comportamento; através da interação com receptores (proteínas) localizados na superfície dos neurônios que sintetizam e regulam a liberação de neurotransmissores (mensageiros químicos cerebrais) como serotonina, noradrenalina, etc. Sua ação em nível de SNC é marcante, tanto em nível estrutural quanto funcional. Leva até a alterações na forma como os neurônios estabelecem novas sinapses (comunicações).

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O volume de neurônios do hipocampo (região da memória) aumenta sob a influência do estrógeno.

Estrógeno e saúde mental – A ação do estrógeno no SNC, regulando vários neurotransmissores diferentes, pode explicar por que a sua queda pode causar depressão, por exemplo, em mulheres vulneráveis.

Vya Estelar – A TPM de fato causa todo esse “estrago” afetando o comportamento de forma drástica ou a própria TPM pode ser usada por algumas mulheres como uma “muleta psíquica” para justificar atitudes impulsivas, impensadas ou que não sejam politicamente corretas?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Na nossa sociedade, a TPM ainda é envolvida por muitos mitos e preconceitos. Apesar da maioria das mulheres apresentar a forma leve de TPM que melhora com mudanças de hábitos alimentares, atividades físicas e comportamentos, não podemos nos esquecer que os sintomas psíquicos graves ocorrem no universo de 3% a 9% das mulheres.

TPM grave

A TPM grave é conhecida como transtorno disfórico pré-menstrual, gera prejuízos sóciofuncionais significativos e muito sofrimento.

TPM grave – A impulsividade, a tristeza e a irritabilidade são sintomas marcantes e precisam ser tratados com antidepressivos serotoninérgicos (que aumentam a disponibilidade de serotonina no sistema nervoso central)

Infelizmente, até mesmo alguns médicos ginecologistas ainda não acreditam nessa hipótese, mas realmente ela existe e precisa ser encarada com embasamento científico.

Vya Estelar – Como a mulher atual encara a gestação? É um processo tranqüilo? Ou cada caso é um caso?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – A gestação costuma ter diferentes significados e representações para as mulheres. As percepções variam individualmente, algumas mulheres com mecanismos psicológicos neuróticos têm até uma exacerbação das angústias e neuroses durante a gestação.

Posso dizer que a gestação leva a mulher a reviver seus relacionamentos e suas vivências de filha (agora em outro papel) de uma forma positiva ou negativa, dependendo do seu histórico de vínculos afetivos e características de sua personalidade. Na gestação, a fragilidade de alguns relacionamentos conjugais ou familiares pode também se exacerbar.

Para algumas mulheres, torna-se um sinal de invasão e até desconfiguração do seu corpo e de sua vida. Isso não é para denegrir esta maravilhosa fase de vida da mulher, mas para deixar claro, sem preconceitos e com dados clínicos e científicos substanciais, que as vivências podem ser muito distantes daquele modelo mágico e idealizado de felicidade universal obrigatória.

Cerca de 10% a 20% das gestantes têm depressão, o que é ignorado nos exames de pré-natal.

Vya Estelar – Em caso de depressão ou mesmo tristeza durante a gestação, qual deve ser o procedimento?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O tratamento deve ser realizado quando o diagnóstico psiquiátrico detectou a doença depressão. É claro que isso precisa ser feito por um especialista e com todos os cuidados envolvidos, avaliando-se os riscos e benefícios envolvidos. Alguns antidepressivos podem ser utilizados.

A depressão pode prejudicar o desenvolvimento do feto e levar a um bebê prematuro, com baixo peso, caso não seja tratada.

Vya Estelar – Por que parte das mulheres tem depressão pós-parto? Como saber se está com essa depressão?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – O fator biológico, devido à queda abrupta dos hormônios sexuais femininos, é a principal hipótese. Outros fatores de risco envolvem gravidez não planejada, conflitos conjugais, violências domésticas, antecedentes pessoais e familiares de depressão, uso de álcool e drogas na gestação, depressão na gestação que não foi tratada e idade (adolescentes podem ter taxas mais elevadas que a de mulheres adultas).

A depressão pós-parto ocorre em 15% a 20% das mulheres.

Depressão pós-parto: diagnóstico e sintomas

O diagnóstico de depressão pós-parto envolve a análise dos mesmos sinais e sintomas da depressão maior em outros períodos de vida da mulher: tristeza, desânimo, cansaço, fadiga, humor deprimido, pensamentos negativos (culpa, morte, ruína, menos-valia), indiferença ou rejeição à criança, anedonia (perda de prazer ou interesse pelas atividades habituais), alterações de atenção/concentração, alterações do sono e apetite e até ideação suicida.

Depressão pós-partoTais sintomas devem estar presentes por pelo menos duas semanas, na maior parte dos dias, com grandes prejuízos sóciofuncionais e sofrimento.

Reitero a importância de uma avaliação psiquiátrica, porque há diferentes subtipos de depressão. Muito cuidado para também se descartar quadros orgânicos que possam levar a sintomas depressivos como o *hipotireoidismo.

Vya Estelar – De que forma o climatério afeta o comportamento feminino?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Na realidade, o climatério vai de 40 anos até 65 anos de idade (transição entre a vida reprodutiva e a **senescência). O período crítico é a perimenopausa (início por volta dos 45 anos e termina até um ano após a menopausa, por volta dos 51 anos de idade).

Perimenopausa: sintomas

A perimenopausa é caracterizada por oscilações dos níveis hormonais, sintomas físicos (dores e ondas de calor) e sintomas psíquicos (tristeza, irritabilidade, depressão e ansiedade). A perimenopausa, mesmo em mulheres sem histórico de depressão, é um fator de risco para a depressão, aumentando a chance em duas vezes.

Vya Estelar – De que forma a infertilidade por parte da mulher ou do cônjuge afeta a sua saúde mental?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – A infertilidade, através da realização de sucessivos tratamentos, pode gerar angústia, ansiedade e depressão. Há muitas expectativas, muitas cobranças (sociais e familiares) e subjetivas nesta área delicada da dinâmica do casal. Aqui, novamente, os papéis individuais, a cumplicidade do casal são expostos a uma série de provas.

Os tratamentos costumam ser dificeis para algumas mulheres, gerando frustrações quando as tentativas fracassam. O contexto amplo do universo de vida de cada mulher infértil precisa ser analisado cuidadosamente, assim como de seu marido.

Diferentes significados e simbolismos advêm dessa análise pormenorizada. A psicoterapia de suporte é a primeira opção, deve fornecer recursos para essa mulher aprender a lidar com os fatores estressores específicos para ela e para o marido. O tratamento deve envolver o casal. Em algumas situações, o uso de medicamentos pode ser necessário.

Vya Estelar – Como o senhor trata as questões de anorexia, culto à magreza, dietas absurdas, consumo de anfetaminas?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – Na realidade, são assuntos muito amplos e complexos, onde se requer uma análise individualizada.

As áreas médicas devem se integrar às questões sociais e culturais que envolvem o universo de vida das mulheres.

As mulheres que usam anfetaminas podem ser anoréxicas (que têm uma distorção de imagem corporal, emagrecimento excessivo, rígido e progressivo controle da dieta, ou seja, um transtorno alimentar grave), mas também podem ser mulheres normais em busca de um padrão corporal idealizado ou estimulado socialmente.

Conheço muitas mulheres que buscam ser magras porque se sentem rejeitadas ou com baixa auto-estima e até se dispõem a buscar todos os recursos (mesmo os arriscados) para conseguir tais objetivos. Obtêm medicamentos em Internet ou são influenciadas em academias de ginástica.

Algumas mulheres precisam ser magras por causa de suas profissões, carreiras e casamentos. Não podemos também nos esquecer que muitas mulheres tomam anfetaminas achando que estão tomando “produtos formulados naturalmente”, sem consciência plena do que estão utilizando.

Não existe remédio milagroso para emagrecer

Posso dizer que, até o momento, não há medicamentos milagrosos para emagrecimento – e mesmo dietas. Todos esses modismos são falsos e ilusórios, com riscos à saúde das mulheres.

RimonabantoRecentemente, tivemos a retirada do rimonabanto (conhecido como “antibarriga”), um medicamento novo para emagrecimento que estava aumentando o risco para depressão e suicídio por atuar no SNC em receptores endocanabinóides.

Na prática, pouco ainda se conhece das vias complexas do metabolismo humano e as relações do mesmo com o controle do peso e da saciedade no ser humano.

Vya Estelar – De que forma a sexualidade feminina afeta a saúde mental da mulher?

Prof. Dr. Joel Rennó Jr. – A sexualidade é um indicador da qualidade de vida das mulheres e também de sua saúde, fisica ou mental.

TermômetroSó há boa sexualidade com psiquismo saudável em um corpo são.

Há algumas doenças clínicas que também interferem na sexualidade, como o hipotireoidismo que pode diminuir o desejo sexual. Alguns medicamentos que as mulheres utilizam também.

O mais comum é que as alterações psicológicas levem à Disfunção Sexual Feminina (DSF). O histórico de vida das mulheres, com antecedentes de violência doméstica e educação rígida interferem também nesse campo.

Historicamente, a mulher sempre foi muito reprimida em sua sexualidade, só mesmo recentemente vem conseguindo expressar os seus desejos mais íntimos na cama, sem correr riscos de ser marginalizada ou rotulada, sem ter conflitos que possam causar um nível de estresse significativo capaz de desencadear quadros de ansiedade e depressão.

A disfunção sexual feminina pode mascarar conflitos internos ou mesmo conjugais da mulher, portanto, nem sempre a questão é simples, como uma queda do nível hormonal.

Sexualidade feminina é mais complexa do que masculina

Cabe ressaltar que a sexualidade feminina é muito mais complexa do que a do homem. No homem, o estímulo visual direto tem uma importância maior, na mulher as percepções e os órgãos do sentido (toque, olfato), além de todo o envolvimento e comprometimento afetivo do parceiro são os maiores estimuladores. Os hormônios sexuais e um conjunto de neurotransmissores libidinosos acompanham os estímulos elétricos que estão na origem da atração erótica.

Portanto, algumas fragilidades psíquicas podem ficar encobertas, inicialmente, por várias DSF. O marido tem um grande papel, ou seja, o tratamento só dá resultados quando todo o casal se envolve. O foco da psicoterapia deve ser amplo, nunca apenas voltado à DSF.

*Hipotireoidismo: 1 insuficiência da atividade fisiológica da glândula tireóide; 2 má condição orgânica resultante dessa diminuição acentuada, caracterizada por baixa taxa metabólica e perda de vitalidade (Fonte: Dicionário Houaiss)

**Senescência: 1 qualidade de senescente; velhice; 2 processo de tornar-se senil; 3 condição do que está próximo de se tornar senil (Fonte: Dicionário Houaiss)