Nosso filho pequeno nos flagrou fazendo sexo. E agora?

por Sandra Vasques

“Gostaria de saber como tratar com meu filho sobre sexo. Ele tem sete anos e viu no celular do meu marido uma cena de sexo entre mim e ele. Meu filho falou que viu uma coisa muito nojenta. Ele não quis me contar detalhes, pois tinha ficado com muito nojo da cena. O que eu faço agora para ele não ser prejudicado na sua infância, pois ele não esquece a cena.”

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Resposta: A criança precisa de uma explicação clara, objetiva e adequada à idade dela.

Além disso, é importante que a pessoa que for conversar esteja tranquila sobre o que está falando. A criança percebe quando o adulto está inseguro e, se não há convicção, pode desconfiar que o que está sendo dito não é verdade. Nesse caso seria bom que o pai e a mãe, juntos, conversassem. No entanto, se não conseguirem, podem pedir para um profissional, como um psicólogo, ajudar.

Sexo é algo bom, faz parte da vida de todas as pessoas, mesmo daquelas que não praticam a relação sexual. A criança não tem nem a mente, nem o corpo prontos para praticar relação sexual e não precisam disso. No entanto, eles estão atentos ao que acontece ao seu redor e recebendo informações que vão servir de modelo para o futuro comportamento, quando forem jovens adultos e quiserem se relacionar com alguém.

Pertencer ao sexo masculino ou feminino interfere para como ela será educada e vista na sociedade. Isso não quer dizer que um tenha mais direitos que o outro, mas que existem diferenças. A educação para uma sexualidade saudável e prazerosa se faz a cada dia, por meio da educação que os pais e as pessoas que são significativas para a criança oferecem. Depende das crenças e dos valores que são passados no dia a dia por meio de atitudes e comportamentos que muitas vezes os pais nem se dão por conta.

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Por exemplo, uma criança que percebe uma atitude carinhosa entre os pais, uma proximidade física afetuosa, vai ter uma mensagem muito diferente de uma outra que nuca vê os pais abraçados, e sempre com uma atitude distante, ou agressiva entre eles. Assim, não é apenas um acontecimento na vida da criança que vai definir como ela vai vivenciar a sexualidade na vida adulta. É claro que situações muito impactantes e violentas podem trazer grande prejuízo, mesmo que ocorram uma única vez. Mas não é o caso da situação exposta na questão, principalmente se os pais tiverem a atitude de esclarecer a respeito.

E como fazer isso?

O ato sexual pode incluir carícias, movimentos, posições, que aos olhos de uma criança podem parecer agressivos; inadequados, nojentos – como o filho do casal falou. No caso em questão o filho viu uma cena, mas há crianças que surpreendem os pais em pleno ato. Imagine o que eles podem pensar ao ver a mãe gemendo e o pai fazendo movimentos bruscos em cima dela! Parece que o papai está machucando a mamãe! Os significados para o adulto e a criança são diferentes. È isso que precisa ser esclarecido. Para começar, os pais devem dizer que eles estavam fazendo um tipo de carinho que só adultos e adolescentes mais velhos fazem entre si. Que não é um tipo de carinho que o adulto possa fazer com a criança. Mas que é algo bom e gostoso para o papai e a mamãe, que já são adultos.

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Essa informação pode, inclusive, proteger a criança de abusos sexuais. Pode dar exemplo de coisas que as crianças habitualmente fazem e o adulto não como por exemplo: você não me vê correndo e brincando no parquinho das crianças, porque esses brinquedos são próprios para pessoas de sua idade. Assim são os carinhos. Há alguns que são próprios só para adultos, e que podem parecer nojentos para a criança, mas que para o papai e a mamãe, não. Que ele não deve se preocupar com isso, porque a mamãe e o papai não estavam fazendo nada de errado ou ruim. Poderia complementar dizendo que sexo é algo que se faz em ambientes privados, e que eles tomarão mais cuidado para não expor para ele, algo que é particular.

Informações complementares podem ser dadas à medida que a criança pergunte mais e de acordo com sua idade e capacidade de entendimento. Não dá para falar demais e além do que ela queira saber. Não é conveniente ou necessário. Um jeito simples de saber o que dizer é perguntar o que ela quer saber, o que a está incomodando, o que ela não gostou daquilo que viu. Se a criança perceber uma real disponibilidade do adulto, mesmo que não fale na hora, vai encontrar outro momento. Assim, algo que parecia tão ruim pode se transformar na possibilidade de uma comunicação saudável e importante sobre sexualidade entre pais e filhos.