Atividade física pode melhorar capacidade de atenção das crianças?

por Ricardo Arida

O estresse é um mecanismo essencial para a sobrevivência. Em resposta aos desafios do dia a dia, um aumento da atividade do sistema nervoso simpático é observado. A adrenalina aumenta, provocando um aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial para que mais sangue seja levado para os músculos em atividade.

Continua após publicidade

O estresse por tempo prolongado resulta em danos nos vasos sanguíneos, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (derrame), diabete e muitos outros danos à saúde associados ao estilo de vida moderno.

O exercício físico regular ajuda a minimizar os efeitos adversos do estresse. O exercício físico, especialmente o vigoroso, é uma forma de estresse e tem como resposta um aumento da frequência cardíaca, pressão arterial, etc. Entretanto, atividades repetidas condicionam o corpo a aceitar mais desafios com menos aumento dos hormônios do estresse como a adrenalina. O corpo gradualmente se acostuma a realizar um trabalho maior com uma frequência cardíaca e pressão arterial menor. O exercício aumenta também a tolerância ao estresse mental. Pessoas fisicamente ativas têm uma resposta menos intensa dos hormônios do estresse em relação aos desafios mentais e emocionais e lidam melhor com situações estressantes. Portanto, a atividade física pode melhorar a saúde mental ajudando o cérebro a lidar melhor com o estresse.

Evidências sugerem que pessoas fisicamente ativas apresentam taxas de ansiedade e depressão mais baixas que indivíduos sedentários. Para determinar como o exercício poderia trazer esses benefícios, pesquisadores estudaram a ligação entre exercício e neurotransmissores* associados com estresse, ansiedade e depressão. Ate agora, as evidências mostrando que o exercício causa uma grande liberação de endorfina não são muito consistentes. Como mostrado no texto anterior – clique aqui – , as endorfinas são liberadas na corrente sanguínea durante o esforço físico. Várias situações de estresse induzem a liberação de endorfinas na corrente sanguínea. Vários tipos de exercício físico também aumentam os níveis sanguíneos de endorfinas, especialmente quando a intensidade do exercício físico é alta.

Por outro lado, pesquisas têm mostrado que a noradrenalina, um neurotransmissor liberado no sistema nervoso, ajuda o cérebro a lidar com o estresse mais eficientemente. Trabalhos com animais desde o final da década de 80, têm mostrado que o exercício físico aumenta a concentração cerebral de noradrenalina em regiões cerebrais envolvidas na resposta ao estresse. A noradrenalina é grandemente produzida numa área cerebral (lócus cerúleos) que conectam muitas das regiões cerebrais envolvidas com respostas emocionais e de estresse. O exercício físico força os sistemas fisiológicos do corpo (todos aqueles envolvidos na resposta ao estresse como os sistemas cardiovascular, sistema renal, sistema muscular, etc.) a se comunicarem mais do que numa situação de repouso. Todos são controlados pelo sistema nervoso central. Portanto, o exercício físico tem um grande valor nesse trabalho de comunicação desses sistemas; quanto mais sedentário nós somos, menos eficientemente nosso corpo responde ao estresse. Concluindo, quando uma pessoa é fisicamente ativa seu corpo automaticamente desenvolve uma proteção contra os efeitos negativos do estresse.

Continua após publicidade

* Neurotransmissores – substâncias químicas liberadas pelo sistema nervoso

Atividade física pode melhorar capacidade de atenção das crianças?

por Ricardo Arida

Estudos recentes mostram que a atividade física durante a infância afeta o desenvolvimento cerebral. Estudos em humanos demonstram efeitos positivos do exercício físico nos vários aspectos da função cerebral.

Continua após publicidade

*Pesquisa realizada realizada na University of Illinois (2009) com crianças sugere que o exercício físico pode aumentar o controle cognitivo dos estudantes ou a capacidade de prestar atenção, resultando em melhor rendimento em testes acadêmicos.

Muitas pesquisas neste sentido têm sido realizadas na populaçao adulta e idosa, mas pouca informaçao existe na populaçao mais jovem, como nas crianças. O objetivo do estudo foi verificar se uma única sessão de exercício moderado (caminhada) seria benéfico para a função cognitiva logo após a atividade física. Crianças com 9 anos de idade (8 meninas e 12 meninos) realizaram teste de atençao visual, conhecido em inglês como “flanker task”. No primeiro dia, os estudantes foram testados após um período de 20 minutos de descanso e, no dia seguinte, após 20 minutos de caminhada em uma esteira rolante. A atividade eletrencefalográfica foi realizda durante todo o procedimento. Após a sessão de caminhada, as crianças tiveram melhor desempenho no teste. Além dos efeitos no comportamento, os achados das alterações na atividade eletrencefalográfica sugeriram uma melhora na capacidade de concentração.

O mesmo grupo de pesquisadores mostraram em estudo anterior (2008)** que pré-adoslecentes (crianças entre 7 e 12 anos de idade) que realizavam atividade física regularmente tinham melhor desempenho em teste de atenção (stroop test – teste utilizado no estudo), sugerindo que melhores níveis de condição física (crianças mais ativas) pode ser benéfico para a melhora da cogniçao nesta fase do desenvolvimento. Neste sentido, poderiamos sugerir que aulas de educação física assim como programas de exercícios fora da escola poderiam aumentar a atenção dos alunos em sala de aula, resultando em melhor desempenho acadêmico.

Não temos muitas informações a respeito de como a atividade física modula o sistema nervoso em desenvolvimento. Embora os estudos citados acima sugiram que crianças que praticam atividade física regular apresentam melhor capacidade de prestar atenção nas aulas, entre muitas questões que precisam ser respondidas, por exemplo, não sabemos qual é a idade que este benefício ocorre de forma mais evidente. Entretanto, os poucos estudos experimentais (com animais) que abrangem esse assunto, mostram que o exercício físico aumenta a plasticidade cerebral e consequentemente isso pode influenciar no desenvolvimento cognitivo da criança.

Continua após publicidade

* Hillman CH et al. Aerobic fitness and cognitive development: Event-related brain potential and task performance indices of executive control in preadolescent children. Dev Psychol. 2009 45(1):114-29.

** Buck SM et al. The relation of aerobic fitness to stroop task performance in preadolescent children. Med Sci Sports Exerc. 2008 40(1):166-72.