Entenda o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

por Thaís Petroff

 

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Os sintomas de TOC apresentados neste texto são generalizados. Qualquer diagnóstico sobre esse transtorno deve ser individualizado e somente um psiquiatra ou psicólogo estão aptos a fazê-lo

O transtorno obsessivo-compulsivo conhecido por muitos como TOC, é um transtorno mental bastante comum, acomete aproximadamente uma em cada *40 ou 50 pessoas.

No Brasil, estima-se que existem cerca de três a quatro milhões de portadores. Muitos dessas pessoas, mesmo com sintomas que comprometem suas vidas, nunca foram diagnosticadas ou tratadas. Isso ocorre por não se saber que esses sintomas constituem uma doença ou até por vergonha.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o TOC está entre as dez maiores causas de incapacitação das pessoas e é a quinta entre as dez principais causas de doenças em mulheres de 15 a 44 anos. A incidência é igual entre homens e mulheres.

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Geralmente, acomete indivíduos jovens ao final da puberdade, podendo ainda ter início na infância e dificilmente após os 40 anos. A etiologia (causas) do TOC ainda é desconhecida.

O TOC é provavelmente resultante de fatores causais diferentes. Algumas formas de TOC são familiares e podem estar associadas a uma predisposição genética. Outras apresentam-se como casos esporádicos. Diniz e colaboradores (2004), estudaram a associação entre idade de início e duração dos sintomas com **comorbidades. Foi encontrado que o início precoce dos sintomas estava associada a transtornos de tiques, enquanto a duração da doença estava associada a comorbidades como o transtorno depressivo e fobia social.

No entanto, explicações a respeito da prevalência de início maior na adolescência e menor com idade mais avançadas ainda não são claras.

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Seu curso é crônico e, quando não tratado, se mantém por toda a vida, sendo rara sua remissão completa. Em aproximadamente 10% dos casos, os sintomas tendem a agravar-se, tornando-se tão graves a ponto de incapacitar o indivíduo para o trabalho; assim como causar limitações significativas no convívio com terceiros.

A parte boa é que existem tratamentos eficazes para grande parte dos casos, sendo dois dos mais utilizados e eficientes: o farmacoterâpico e a terapia cognitivo comportamental (TCC), sendo muitas vezes associados entre si.

Comportamentos no cotidiano que podem constituir sintomas de TOC

– lavar as mãos repetidas vezes;

– ensaboar-se muito no banho;

– verificar diversas vezes se trancou portas ou janelas;

– não gostar de segurar-se no corrimão de ônibus ou metrô;

– ter medo de deixar o sapato virado;

– ter medo de passar perto de pessoas doentes;

– arrumar todos os objetos para que fiquem alinhados de certa maneira.

Talvez você tenha ficado em dúvida se é ou não portador do transtorno, mas fique tranquilo. Todos nós temos medos e preocupações, assim como manias e pensamentos dos quais não gostamos. Aprendemos a lidar com eles, de maneira que não interfiram nos nossos afazeres e atividades diárias. Essas mesmas questões podem tornar-se excessivas, quando repetidas inúmeras vezes, em curto espaço de tempo e acompanhadas de grande aflição.

Além disso, pode ocorrer ainda de tomarem um tempo precioso do dia, dificultando o desempenho de tarefas ou ainda comprometendo o trabalho. Quando se alcança esse volume, temos as chamadas obsessões ou compulsões, que caracterizam o TOC.

Os sintomas do TOC envolvem:

– alterações do comportamento: rituais ou compulsões, repetições, evitações;

– alterações dos pensamentos: obsessões como dúvidas, preocupações excessivas, pensamentos de conteúdo impróprio ou “ruim”;

– alterações das emoções: medo, desconforto, aflição, culpa, depressão.

Os rituais ou compulsões são realizados para aliviar o medo e a aflição que surge quando a mente é invadida por alguma obsessão, assim como lavar as mãos repetidas vezes após encostar no trinco da porta por exemplo. As evitações também são características, ocorrendo, por exemplo, ao evitar passar próximo de hospitais com medo de contrair alguma doença. Todos esses sintomas trazem grande sofrimento e limitação à vida da pessoa portadora de TOC, assim como a seus familiares e amigos.

A terapia cognitivo comportamental ou TCC é uma modalidade de terapia que traz à luz um conjunto de explicações sobre a origem e manutenção desses transtornos mentais e possui técnicas para modificá-los. Parte do princípio de que pensamentos e crenças distorcidas ou errados podem influenciar nossas emoções, nosso humor e nosso comportamento, sendo responsáveis pelo aparecimento dos sintomas. Sendo assim, ela apóia-se nessa hipótese para realizar suas intervenções.

O termo “cognitivo” refere-se a certas técnicas que auxiliam na correção desses pensamentos e crenças distorcidos ou errados, comuns em portadores de TOC.

Já o termo “comportamental” refere-se ao uso de métodos que têm por objetivo mudar comportamentos. No caso do TOC, os rituais e os comportamentos evitativos.

Na TCC o paciente aprende primeiramente a identificar suas obsessões, compulsões e evitações. Durante o processo de terapia, são combinados exercícios graduais de exposição e prevenção de rituais. Isso de acordo com uma escala crescente de dificuldade.

No início da terapia, é comum haver aumento da ansiedade, num grau perfeitamente suportável, seguido de redução na intensidade das obsessões e na necessidade de executar rituais.

Em todo o processo da TCC e, principalmente no início, há a parte educativa, que é de entender a ***psicopatologia, seu início e manutenção, para que aos poucos o paciente seja seu próprio “terapeuta”. Juntamente com isso, são trabalhadas as questões cognitivas e comportamentais do distúrbio.

Esse tratamento visa também a prevenção de recaídas.

*Fonte: Site da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e do site da Associação de Portadores de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

** Comorbidade: o termo é formado pelo prefixo latino “cum”, que significa contiguidade, correlação, companhia, e pela palavra morbidade, que é a capacidade de produzir doença

*** Psicopatologia se refere ao estudo dos estados mentais patológicos, assim como à manifestação de comportamentos, experiências e sintomas que podem indicar um estado mental ou psicológico disfuncional. O termo é de origem grega; psykhé significando espírito/alma e patologia, implicando em morbidade (conjunto de causas capazes de produzir uma doença).