Tenho sofrido a minha vida inteira. Como superar isso?

por Joel Rennó Jr.

 

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“Tenho 48 anos e quatro filhos lindos dos dois primeiros casamentos. Mas vivo sem eles. Casei pela terceira vez com uma mulher bem mais jovem, sem filhos e não estou feliz. Na verdade acho que nunca estive. Não sei como me livrar de culpas, medos e remorsos. Tomei remédio pra depressão durante muitos anos. Parei por minha conta e estou pensando em voltar, apesar de eles nunca terem feito nada: só anestesiar minha dor sem resolvê-la. Não tenho mais memória, não tenho alegria e sempre estou agoniado. Recorro às vezes ao álcool pra sorrir e acordo péssimo, com culpa e muito mal mentalmente, como agora. Já estive em todos os médicos e me submeti a vários tratamentos que nunca surtiram efeito. Não sou de pedir ajuda, mas realmente preciso de algo para ser melhor até para meus filhos e para as pessoas que me cercam, às quais só tenho dispensado mau-humor e má companhia. Acordei agora pouco com a imagem de um homem com braços e pernas costurados, deformado, que não podia falar e que estava sendo torturado. Pode me ajudar por favor?”

“A falta de memória, alegria e “agonia” relatadas são sintomas da depressão … ”

Resposta: A existência de conflitos intrapsíquicos não depende apenas de fatores externos objetivos estressantes ou catastróficos.

Em determinados contextos, as pessoas podem ter a expectativa equivocada de que mudando os personagens da história de suas vidas ou até mesmo os fatores externos associados à sua angústia, que isso será a solução para o reencontro da felicidade. É impossível, sem uma psicoterapia realizada de forma competente e aprofundada, chegar-se às causas das angústias e tristezas associadas às questões vitais de uma pessoa.

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Situações de vida semelhantes podem ter impactos completamente distintos em duas pessoas por causa do sentimento diferenciado que elas provocam em cada uma delas, além de humor, pensamentos negativos e personalidade individuais que geram vulnerabilidades características.

É normal até que as pessoas se sintam muito culpadas quando se sentem infelizes, embora a vida delas esteja muito boa e estável, com filhos saudáveis e outros aspectos positivos. Essas precisam ser ajudadas por especialistas.

O que me chama a atenção é a frase do internauta: “Já tomei remédio pra depressão por muitos anos”. Provavelmente, isso signifique que ele tenha um quadro de depressão crônica, conhecida como depressão recorrente. A medicina sabe que hoje a depressão, em muitos casos, é uma doença crônica como diabetes e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), por exemplo. Nesses casos, além de um acompanhamento psicológico e psiquiátrico corretos, o medicamento não pode ser suspenso e precisa ser tomado pelo resto da vida como é feito em outras doenças crônicas e com acompanhamento do psiquiatra.

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A falta de memória, alegria e “agonia” relatadas são sintomas da depressão que está fazendo o senhor sofrer tanto. O uso abusivo de álcool e outras drogas como os benzodiazepínicos (populares calmantes) na busca do alívio dos sintomas depressivos e ansiosos, é uma grande “armadilha” e isso pode levar a dependências e riscos sérios.

O pior é que muitos pacientes que sofrem com distúrbios psiquiátricos, procuram fazer tratamentos médicos prescritos por não especialistas (aquela velha história de não ser discriminado por ir ao psiquiatra o que é um total absurdo e incoerência!) e isso é um grave erro.

No tratamento psiquiátrico, há vários fatores envolvidos e que os médicos de outras especialidades, com todo o respeito, não têm o domínio adequado para o prosseguimento do tratamento. É comum os pacientes relatarem que já fizeram vários tipos de tratamentos para depressão e que não funcionaram justamente porque foram medicados por médicos generalistas, de outras especialidades, e sem um conhecimento apurado de psiquiatria, uma especialidade complexa e ampla que acaba, infelizmente, sendo banalizada e superficializada por alguns pacientes e até profissionais.

O número de prescrições de psicotrópicos por médicos não psiquiatras, para mim, está sendo feito de forma abusiva e inconsequente e isso acabou até sendo tema recente de um excelente Programa da TV Globo, o Profissão Repórter.

Portanto, a retomada do tratamento com um bom psiquiatra e também com a ajuda de um psicólogo para realizar a psicoterapia é fundamental para o tratamento da depressão.

Atenção!

Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracterizam como sendo um atendimento. Dúvidas e perguntas sobre receitas e dosagens de medicamentos deverão ser feitas diretamente ao seu médico psiquiatra. Evite a automedicação.