O que está por trás do tic nervoso

Por Ana Beatriz B. Silva e *Dr. Walker Rodrigues

Quem não se lembra de já ter ouvido ou até mesmo cantado o refrão: “Isso me dá tique-tique nervoso, tique-tique nervoso, tique-tique nervoso…” com Kid Vinil na década de 80? Apesar do bom humor com que o problema é retratado na música, pessoas que possuem os chamados ‘tiques’ sofrem com o problema, muitas vezes, durante anos, afetando sua auto-estima, o que acaba interferindo em sua vida social, profissional e afetiva.

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O tique é um movimento motor involuntário, rápido, não ritmado, pois ocorre em intervalos de tempo variados, sem seguir um padrão, podendo também se apresentar como uma vocalização súbita.

Comumente, no dia-a-dia, encontramos pessoas que possuem algum tipo de tique, como por exemplo: piscar os olhos de maneira incomum, caretas faciais, fungados, contrair o pescoço, encolher os ombros, pigarro, grunhir, bufar (esses três últimos, tiques vocais) e tantos outros que são classificados como formas simples.

Um grupo menor de pessoas é portador da forma mais complexa que inclui saltar, bater em si mesmo, bater o pé, cheirar objetos, vocalizações explosivas e repetitivas, Dentre essas vocalizações encontramos nomes complicados, tais como a coprolalia (uso de palavras ou frases obscenas e constrangedoras), palilalia (repetição dos próprios sons ou palavras) e a ecolalia (repetição da última palavra, som ou frase ouvida).

Conforme retrata a música citada no início, o estresse pode ser um fator exacerbador dos tiques, enquanto que algumas atividades que exijam concentração como ler, por exemplo, atenuam os mesmos.

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Os tiques não devem ser confundidos com as compulsões (popularmente conhecidas como manias), já que estas visam neutralizar a ansiedade resultante de uma obsessão (pensamentos ruins e intrusivos). Na realidade os tiques não seguem este padrão.

Síndrome de Gilles de la Tourette     

Já a Síndrome de Gilles de la Tourette é um transtorno raro, crônico, composto de múltiplos tiques motores e pelo menos um tique vocal deve estar presente. Esta síndrome além de incapacitante causa um prejuízo social extremo, causando muito sofrimento em seus portadores.

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De uma forma geral, o paciente com tiques, com maior ou menor intensidade, sente-se envergonhado devido à sensação de estar sendo observado pelos outros, o que de fato acontece. Portanto, a depressão não é um quadro incomum nestes pacientes, bem como a ansiedade generalizada, uma vez que o portador tenta todo o tempo controlar os tiques em situações sociais. Além da depressão e da ansiedade, não raro observamos a associação de tiques com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e Transtorno de Aprendizagem.

O mais importante é conscientizar o portador de tiques, sejam eles simples ou complexos, que há tratamento especializado para esse tipo de transtorno. Basta procurar ajuda médica.

*Dr. Walker Rodrigues da Cunha é médico, conferencista e faz parte da equipe da clínica Medicina do Comportamento – RJ.