Como identificar transtornos de aprendizagem na sala de aula?

por Marta Relvas

No processo neuropsicológico do ato de aprender, assumem papel de mais alta importância a atenção, a memória…”

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Transtorno da leitura: caracterizado por uma dificuldade específica em compreender palavras escritas.

Transtorno da matemática: conhecido como discalculia, não é relacionado à ausência de habilidades matemáticas básicas, como contagem, e sim, à forma com que a criança associa essas habilidades com o mundo que a cerca. A aquisição de conceitos matemáticos, bem como de outras atividades que exigem raciocínio, é afetada nesse transtorno, cuja baixa capacidade para manejar números e conceitos matemáticos não é originada por lesões ou outra causa orgânica.

Transtorno de expressão: refere-se à ortografia e à caligrafia, na ausência de outras dificuldades de expressão escrita. Existe uma dificuldade em compor textos escritos, evidenciada por erros de gramática e pontuação dentro das frases, má organização de parágrafos.

A classificação dos transtornos da aprendizagem pelos manuais não leva em consideração a base *anatomopatológica da área cerebral envolvida no processo.

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O aprendizado é um processo complexo e dinâmico que resulta em modificações estruturais e funcionais do sistema nervoso central. As modificações ocorrem a partir de um ato motor e perceptivo que, elaborado no córtex cerebral, dá origem à **cognição.

A dificuldade de aprendizagem pode ser classificada, levando- se em conta as funções afetadas que são as psicológicas superiores. Estas são aprendidas desde o nascimento e são fundamentais para o aprendizado formal. Podem ser detectadas nos primeiros anos de vida, utilizando-se instrumentos de avaliação do desenvolvimento neurológico, como o exame neurológico evolutivo dos três aos sete anos de idade e o exame das funções cerebrais superiores a partir dos oito anos. Esse conjunto de testes permite detectar distúrbios de atenção, de memória, das gnosias (conhecimento da linguagem), das praxias (movimentos), da linguagem oral e escrita.

*** Pennigton (1991) reconhece cinco módulos relacionados com funções cognitivas, e cada um deles corresponde a áreas em circuitos definidos do cérebro, cuja disfunção origina transtornos específicos da aprendizagem. Assim, a região perisilvana esquerda tem funções neurolinguísticas, e sua disfunção ocasiona transtornos disléxicos. A área hipocâmpica de ambos os hemisférios tem relação com a memória e origina transtornos amnésicos. A síndrome de disfunção hemisférica direita provoca sintomas de discalculia e disgrafia (região posterior do hemisfério direito), assim como alterações de conduta, cuja expressão mais grave entra no espectro do autismo (sistema límbico, região orbiofrontal). A síndrome disexecutiva se deve às laterações no lobo frontal e se caracteriza por défict atencional, falhas na planificação e na antecipação e défict de abstrações.

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No processo neuropsicológico do ato de aprender, assumem papel de mais alta importância a atenção, a memória e as funções executivas, bem como os distúrbios atencionais e das funções corticais de percepção, planejamento, organização e inibição comportamental. Por outro lado, a memória é essencial em todos os processos de aprendizagem, e seus distúrbios não permitem reter as informações.

* Análise anatomopatológica: amostras de tecidos e células estudadas por patologistas.

** Apesar da simplicidade da definição, a palavra “cognição” é bastante complexa. Cognição é o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação, pensamento e linguagem.

*** Pennigton é um Instituto de Biomedicina.

Consulta bibliográfica:
Neurociência e os Transtornos da Aprendizagem – Relvas, P.M.; editora WAK, RJ,6ª edição.